Fred Rabello conta que, anteriormente, chegou a
encontrar alguns camarões no local, mas imaginou que alguém teria feito a
soltura no Lago. “Os primeiros camarões foram vistos há uns seis meses, mas em
pequeno número. Pensei: alguém deve ter soltado camarões de aquário no lago e
eles estão sobrevivendo. Mas não esperava que a população começasse a crescer.
Já estão em centenas e buscaram refúgio na parte mais funda do lago”, destaca.
O local onde foram encontrados é o preferido dos
mergulhadores da capital. A região do lago mais procurada fica justamente nas
proximidades da barragem perto do Paranoá e da área central por apresentar
maior visibilidade da água e boa profundidade, como explica Michel. “Aquela
região tem as melhores características para os mergulhadores. A gente tem
profundidades que chegam a 39 metros”, relata.
O professor de zoologia da Universidade de Brasília
(UnB), Eduardo Bessa, explica que realmente não há registros desse tipo de
crustáceo no Lago Paranoá, mas não se surpreende com a existência deles. “Um
levantamento constatando a presença dessa espécie na região eu nunca vi e não
consegui achar informações anteriores, mas não é uma coisa totalmente fora do
comum”, destaca. Ele acrescenta que, pelas imagens, não é possível identificar
ao certo a espécie, e que é necessário um estudo sobre a colônia.
Segundo o especialista, até 2012, havia 18 espécies
conhecidas de um crustáceo de água doce conhecido como cladócero no Lago
Paranoá. Em 2014, um grupo de pesquisadores descobriu 10 espécies novas, que
foram listadas num trabalho de 2017. “Cladóceros são muito diferentes de
camarões, são microscópicos e não vivem encostados ao fundo. Mas dá uma ideia
de como os animais desse lago são pouco conhecidos”, esclarece Bessa.
O zoologista reconhece a probabilidade dos camarões
terem vindo de riachos que desaguam no Lago Paranoá e que tenham se adaptado ao
local. “A espécie pode ter encontrado condições adequadas para viver, assim
como várias outras espécies de peixes por exemplo. Eventualmente, eles
encontraram riachos e foram trazidos pelo lago. Não surgiram do nada ali”,
complementa. Segundo o docente, os camarões costumam se alimentar de resíduos e
matéria orgânica, e o Lago Paranoá é rico desse tipo de nutriente. “Eles comem
matéria orgânica em decomposição e microalgas que crescem coladas em troncos”,
explica.
Curiosidades submersas: Além da colônia de
camarões, os mergulhadores relatam que o fundo do lago possui outros elementos
inusitados. “O Lago tem algumas coisas no fundo que são interessantes, como um
ônibus”, conta Michel Med.
A Vila Amaury, fundada na década de 1950 durante a
construção de Brasília, também é um atrativo. Segundo Michel, objetos da vila
surgem e contam a história da época. “Saem garrafas das décadas de 1950 e 1960.
Já saíram armas e espadas. São coisas curiosas, e é possível identificar os
vestígios da época da construção de Brasília”, diz.