Patrimônio brasiliense.
O título de Patrimônio Imaterial de Brasília que o Clube do Choro ostenta é
totalmente meritório. Há 40 anos, a instituição, localizada no Eixo Monumental
e instalada em prédio com a assinatura de Oscar Niemeyer, vem sendo um dos
maiores vetores da cultura na capital do país. Além de promover em seu palco
projetos que contribuem para manter vivo o legado do gênero musical,
considerado a gênese da MPB, tem como apêndice a Escola Brasileira de Choro,
que, ao longo das duas últimas décadas, vem revelando um número expressivo de
grandes instrumentistas.
Quem abriu a lista foi Hamilton de Holanda, bandolinista que transita com total
familiaridade entre o choro e o jazz e é reverenciado em todo o mundo,
inclusive por seus pares. Ao gravar o DVD Mundo de Pixinguinha, ele teve a
companhia de mestres jazzistas de diferentes nacionalidades, como o
norte-americano Winton Marsalis, o francês Richard Galliano, o italiano Stefano
Bol-lani e o cubano Chucho Valdés.
Hamilton, radicado no Rio de Janeiro, tornou-se referência para músicos, com
carreira iniciada no Clube do Choro e que, atualmente, brilham no Brasil e no
exterior. Um deles é o violonista Daniel Santiago, que gravou com Pedro Martins
(outro talento do violão), o álbum Simbiose. O trabalho foi elogiado por
ninguém menos que o gênio da guitarra Eric Clapton, que, em 2019, convidou os
dois para participar do Crossroads Guitar Festival, nos Estados Unidos, do qual
era o promotor.
Companheiro de geração de Santiago, Gabriel Grossi se transformou num astro da
gaita e, frequentemente, faz turnês pela Europa. Naquele continente, costuma
trocar figurinhas com o mestre desse ofício, o belga Toots Thielmans. O
gaitista brasiliense é outro para quem é ínfimo o limite entre o choro e o
jazz, como deixa claro em gravações e, principalmente, nas performances em
shows.
Rafael dos Anjos, que migrou para o Rio há cinco anos, é um dos instrumentistas
mais requisitados por renomados sambistas para gravações de estúdio e
apresentações ao vivo. Depois de se destacar na banda de Arlindo Cruz —
inclusive como arranjador —, tem participado da produção de discos de
Diogo Nogueira. O cantor não prescinde do virtuosismo do violonista candango em
seus projetos.
No recém-lançado CD comemorativo dos 150 anos do choro, entre as 16 composições
selecionadas, com a assinatura de mestres como Pixinguinha, Ernesto Nazareth,
Radamés Gnattali, Jacob do Bandolim e Waldir Azevedo, há o registo de Chorinho
em Cochabamba, de Rogério Caetano. O festejado violonista é mais um cuja a
trajetória musical teve início do Clube do Choro de Brasília.