Novas
variantes da covid-19, com alto potencial de transmissão, preocupam a
comunidade científica e a população em geral. A mais recente é a Delta — identificada
primeiro na Índia — que levanta o alerta sobre a importância de manter as
medidas de proteção contra o vírus. Além da higienização das mãos e ambientes,
a utilização da máscara é apontada como caminho eficaz no enfrentamento à
pandemia. Entretanto, para que o recurso seja eficiente, é necessário o uso
correto do equipamento de proteção individual (EPI), como a vedação completa do
nariz e boca. O diretor científico da Sociedade de Infectologia do DF e
infectologista do Laboratório Exame, José David Urbaez, aponta as principais
medidas que devem ser observadas para uma melhor segurança em relação à doença
que atingiu 455.682 pessoas na capital.
Mesmo vacinado, é preciso usar
máscara? Sim. Nós ainda temos um percentual
de imunização bem menor do que 70% ou 80%, que é o percentual necessário para
alcançarmos a imunidade coletiva. E é só após essa imunidade coletiva ser
alcançada, que nós teremos uma circulação do vírus suficientemente baixa para
ficar sem as devidas proteções da via aérea.
Quais os tipos de máscaras mais
indicados? Depois de junho de 2020, ficou
claro que o Sars-Cov-2 é transmitido não apenas por gotículas, mas pelo ar.
Isso quer dizer que ele é disseminado por aerossóis, que predominam em locais
fechados, mal ventilados. Esse é um um dos grandes pilares para entendermos a
perpetuação da covid-19. A maioria das atividades que desempenhamos ocorrem em
ambientes com pouca circulação de ar e assim a proteção de pano é insuficiente,
pois ela bloqueia apenas as gotículas. Ela foi importante no início da
pandemia, mas hoje tem um poder limitado de proteção. Na verdade, o mais
indicado é o uso de máscaras com alto poder de filtração que são as N95 e
PFF2.
Então as de pano não protegem em
relação à covid-19 e suas variantes? Elas têm um percentual de proteção extremamente limitado. Nós
(especialistas) temos insistido muito que elas não deveriam continuar sendo
indicadas. Acreditamos que o curso da pandemia seria outro se, desde o início,
tivessem implementado outro tipo de medidas de controle, baseado na proteção
muito bem feita das vias aéreas superiores, com máscaras de alta qualidade de
filtração.
As máscaras N95 e a PFF2 podem ser
reutilizadas? O reuso é
uma discussão relativizada. Elas têm uma maior resistência do que a proteção
cirúrgica, por ter uma estrutura muito mais densa. Em média, indica-se de cinco
até 10 usos, desde que toda a estrutura esteja preservada, e que não tenha sido
umidificada com a saliva durante a fala ou com secreções. É importante, também,
revezar, orientamos para a utilização de uma PFF2 por dia e, depois, que se
coloque em um local arejado, e só usá-la novamente na semana seguinte.
É correto usar duas máscaras para
aumentar a proteção? Existe uma ordem para colocar? Essa recomendação vem do CDC de Atlanta (Centro de
Controle e Prevenção de Doenças de Atlanta - EUA) e é uma recomendação
interessante. Você coloca, inicialmente, a cirúrgica — que possui uma estrutura
e material com maior poder de proteção —, e por cima, você coloca a de
pano bem ajustada no rosto. O raciocínio é que se veda mais os locais por onde
o ar entra, quando se usa apenas a cirúrgica. Então, é, sim, uma estratégia que
protege.
Como saber se o produto é seguro e
eficaz? Atualmente, temos tanto PFF2
quanto N95, e uma boa parte delas são seguras e conseguem nos proteger
exatamente dessa transmissão de aerossóis, além de serem excelentes medidas de
controle neste momento que estamos encarando variantes de maior
transmissibilidade, o que ocorre desde o ano passado.
Quando usar as máscaras? A orientação é usar o tempo inteiro, assim que sair
do local de moradia. O que a gente tem visto é, infelizmente, que essa dinâmica
não é entendida. Você vê, na hora do almoço, três, quatro, cinco pessoas
reunidas, todas próximas, ingerindo alimentos e bebidas. Aí quando você faz isso,
toda a proteção é anulada, porque nessa situação há o compartilhamento de
secreções respiratórias, pode gerar aerossóis. Colocar e retirar a
máscara deveria ser um ato íntimo, onde você estivesse bem isolado.
Como deve ser feito o
descarte? Ela deveria ser desprezada em
locais próprios. Se você não tiver essa opção, coloque dentro de um saquinho
plástico e descarte no lixo seco.
O uso de máscara exclui o
distanciamento social? Devemos evitar aglomerações. Primeiramente, porque em ambientes fechados
haverá uma menor proporção de pessoas reunidas. O outro motivo é para manter o
alerta sobre a possibilidade de compartilharmos a transmissão da
covid-19.
E as face shields, qual é a forma
correta? É uma arma de dois gumes. Ela é
muito importante para evitar você tocar no rosto, mas ela não protege a via
aérea. Temos que insistir no uso de máscaras de alta qualidade.
Por quanto tempo mais a população
precisará usar a máscara de proteção facial? Pensar em uma previsão não é uma boa ideia no
momento. A pandemia sempre prega algumas peças, o Brasil vai muito mal no
controle da transmissão, o único elemento que nós temos de concreto são as
vacinas, e as vacinas demoram para atingir o nível de proteção coletiva.
Discutir a questão do não uso de máscara só é possível quando tivermos uma
imunização de 80% da população, e que isso seja acompanhado de uma diminuição
muito significativa da transmissão. E isso será sempre muito relativizado com
os potenciais perigos de reativação da transmissão. Nos Estados Unidos, na
minha opinião, foi prematura a recomendação de retirar em locais abertos e,
agora, estão tendo que lidar com aumento expressivo de casos entre pessoas não
vacinadas e com a transmissão da variante Delta. É importante compreender que,
para imaginar um mundo sem máscara, é preciso ter essas duas características:
uma baixíssima transmissão em número de casos por 100 mil habitantes, em
7 dias — entre 3% a 5% —, além de uma imunização com alcance de 80% da
população. Por enquanto, ela continua sendo um instrumento de uso diário, que
deve se incorporar aos nossos hábitos por um bom tempo.