Em face do momento de incertezas
provocado pelas crises sanitária e econômica, a população brasileira enfrenta
dificuldades para se manter no mercado de trabalho. Uma das saídas para o
problema passa pelo empreendedorismo. E, para Valdir Oliveira, superintendente
do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Distrito Federal
(Sebrae-DF), essa atividade tem papel crucial para garantir novas
oportunidades.
Ontem, no CB.Poder — parceria do
Correio com a TV Brasília —, o dirigente mencionou o trabalho do Sebrae nesse
sentido, por meio de consultorias gratuitas para a abertura de negócios, e como
o serviço contribui para a geração de empregos. Além disso, Valdir afirmou que
a retomada esperada para a economia dependerá de um processo de reconstrução e
reforçou que o clima de tumulto na política opera em desfavor disso. Confira os
principais trechos da entrevista, concedida ao jornalista Vicente Nunes.
O que acontece com a economia brasileira? Começamos com boas perspectivas para este ano — ainda sobre uma base negativa —, mas as projeções para o próximo ano têm caído. Voltou a onda de incertezas em relação ao país? Enquanto não estivermos em uma situação sanitária muito bem resolvida e a política não estiver em equilíbrio, será muito difícil ter uma resposta na economia que nos dê tranquilidade e segurança. A economia responde sempre aos riscos que os ambientes de fora trazem. Temos uma situação sanitária se encaminhando atualmente, (pois) a vacina chegou. Isso traz uma condição de maior controle, mas a pauta política tem tumultuado um pouco o ambiente, porque, talvez, as disputas fazem com que (as pessoas) olhem só para 2022, e se esqueçam que precisamos passar por um processo de reconstrução.
O crescimento que vemos agora é desigual. São mais de 50 milhões de pessoas em situação de dificuldade no país, e vemos a fome aumentar. Precisamos de um líder que conduza o país de modo que esse crescimento seja mais distributivo, não? Esse equilíbrio pede a articulação, também, daqueles que pensam (de maneira) diferente. Quantas vezes nós vimos o governador (do Distrito Federal,) Ibaneis (Rocha,) fazer um processo de reconstrução e o presidente da República (Jair Bolsonaro) dar sinais contrários. É muito difícil para alguém governar quando há esse tipo de conflito para administrar. E sabemos que, institucionalmente, Ibaneis precisa ter uma excelente relação com o governo federal. O que precisamos, hoje, é da ajuda do governo federal a nossos governadores, para que tenhamos condições de encontrar soluções e amparo nas políticas nacionais.
Então, o DF não está descolado desse quadro macroeconômico? Ele sofre bastante influência. Nós, na verdade, temos grande dependência do setor público, economicamente. Dependemos, aqui, de comércio e serviços, porque temos a maior renda per capita do país. E precisamos sair disso. Não perder, mas agregar outros valores. Nossa economia é muito rica de oportunidades, só que não foi alavancada ao longo do tempo.
Onde entra o Sebrae? Vocês poderiam ajudar a formar essa mão de obra e têm atuado nessa questão? O Sebrae, no Sistema S, cuida da parte de empreendedorismo. Quem cuida da qualificação da mão de obra são nossos parceiros. É o Senai, na indústria, e o Senac, no comércio. Eles fazem um grande esforço para acompanhar (o cenário). O problema é que descasou a velocidade de preparação com a necessidade, que bateu à porta.
O perfil do empreendedor tem mudado? Sim. Mudou o mercado e mudou o perfil do empreendedor, porque esse profissional se adapta muito facilmente. O empreendedor brasileiro compreende a mudança e se encaixa muito rapidamente (nela). Aquele microempresário que tinha, antigamente, um pequeno restaurante nas regiões administrativas, quebrou. Porque ele não pode suportar meses e meses sem faturar. Mas ele, certamente, achou outra opção de empreendedorismo e tem sobrevivido disso. Esse é o empreendedor brasileiro, que se vira e se vira bem.
Em relação ao DF, neste ano, na pandemia: houve crescimento do número de empreendedores? Em quais segmentos eles atuam? Hoje, o grande crescimento que tivemos foi em cima do microempreendedor individual — o que faz parte do ciclo da crise. Ela bate, as empresas perdem faturamento, desempregam. As pessoas desempregadas vão para a informalidade, para sobreviver. E algumas partem para a formalização, aproveitando a oportunidade de se tornarem empreendedoras.