O secretário de Cultura do
DF, Bartolomeu Rodrigues, comemorou na última semana o reforço orçamentário de
R$ 91 milhões para o Fundo de Apoio à Cultura. Em meio a polêmicas, como a
reforma do Teatro Nacional e o Museu da Bíblia, ele só tem uma certeza: “Se não
fosse pela cultura, já estaríamos, hoje, todos loucos”. Confira a
entrevista.
Como avalia o momento da cultura
brasiliense? Estamos em retomada? É inegável que a pandemia prejudicou bastante o setor. Assustou, mas não
nos dobramos a ela. Criamos condições para sobrevivência e não houve um só mês
nesse período todo em que deixamos de realizar ações voltadas para todas as
áreas culturais da cidade, com uma preocupação maior voltada para os artistas
da periferia.
Com o aporte adicional de R$ 91
milhões aprovado esta semana, o Fundo de Apoio à Cultura cumprirá seu objetivo?
Quais são as metas? O objetivo é empenhar os recursos ainda este ano. Com os R$ 53 milhões
que já transformamos em editais no primeiro semestre, temos mais de R$ 144
milhões que serão injetados na economia criativa do DF. É o maior aporte à
cultura do país em 2021. Estamos, a rigor, criando as condições para a retomada
das atividades de importantes segmentos culturais no pós-pandemia, gerando
emprego e renda a pelo menos 50 mil pessoas, num cálculo por baixo.
O governo não é o único agente
fomentador da cultura. O empresariado local poderia contribuir mais? Sim, e temos oferecido condições para isso por
intermédio da Lei de Incentivo à Cultura (LIC). Por ser um instrumento bem mais
simplificado do que a Lei Rouanet, tenho pessoalmente me reunido com
empresários para explicar os benefícios fiscais de que pode usufruir
financiando projetos culturais. É um trabalho de conscientização, pois os
benefícios são enormes. Todos ganham na medida em que mantêm vivos os
movimentos culturais, seja um show, seja uma peça teatral, seja a publicação de
um livro. A cultura tem essa capacidade de destravar a economia.
Por que é tão difícil reformar o
Teatro Nacional? Porque
perdemos muito tempo organizando a bagunça que governante do passado nos
deixaram quando decidiram fechar o teatro. Encontramos um projeto de
restauração totalmente desorganizado, incompleto e com falhas gritantes. Em
razão de sua complexidade e exigência dos órgãos financiadores da obra,
gastamos muito tempo organizando mais de 400 plantas e um sem-número de itens
de engenharia e arquitetura. Temos uma equipe trabalhando nisso
ininterruptamente. Mas estou otimista que este ano será lançado o edital. Aí,
então, teremos um vislumbre da obra.
Qual a expectativa para o Festival
de Brasília do Cinema Brasileiro? O festival é um exemplo cabal da resistência da cultura no DF em tempos
de pandemia. Quando tudo parecia perdido, no ano passado, o festival, que antes
estava restrito à sala do Cine Brasília, foi visto em todo o Brasil em
transmissão por canal de streaming. Segundo registro oficial, foi visto por
quase 1 milhão de pessoas. Este ano, nos organizamos melhor, em parceria com a
associação Amigos do Futuro, escolhida por meio de edital público, e tudo
indica que será um sucesso outra vez. Neste momento em que conversamos, já
temos mais de 40 filmes inscritos. Ninguém segura o Festival de Cinema!
Brasília precisa de um Museu da
Bíblia? Ao desenhar o Plano Piloto, Lucio
Costa destinou aquele canteiro enorme do Eixo Monumental a museus. O da Bíblia
é apenas um deles. Só bem recentemente foram definidas as áreas projetadas para
outros quatro. Este saiu na frente por várias razões: já havia destinação
regulada em lei aprovada em 1995, além de recursos garantidos pelo segmento
evangélico, principal interessado. Tudo está sendo feito com total
transparência, sendo o projeto submetido a concurso público, que, aliás,
encerrou na semana passada e terá seu resultado divulgado em breve.
Artistas e líderes comunitários
reivindicam ações em defesa do patrimônio cultural de Brasília fora dos limites
do Plano Piloto. Há uma defasagem entre a área tombada e outras localidades
históricas, como Vila Planalto e Gama? Reivindicações justas, que, diga-se, encontraram
respostas no atual governo. Exemplo clássico é a Fazendinha, na Vila Planalto.
Um sítio histórico de grande importância para a memória de Brasília estava,
literalmente, no chão. Árvores caíam por cima de construções de madeira que
abrigaram, no passado, o Itamaraty. Para que chegasse a esse ponto, alguém
negligenciou no passado, pois nada se deteriora tanto em dois anos e meio.
O que foi feito? Arregaçamos as mangas, limpamos toda a área,
retiramos o entulho, trouxemos a carga patrimonial para a Secretaria de Cultura
e, nos próximos dias, vamos lançar o edital de licitação que o governador
Ibaneis Rocha determinou para a restauração completa. E, no Gama, o Cine Itapuã
já está em nossas mãos para ser reformado. Quando estive lá, a sensação é que o
cinema foi atingido por um míssil. Fiquei me perguntando: como deixaram chegar
a esse ponto?
Cultura e turismo são alavancas
fundamentais para gerar empregos e recuperar a economia. Como fortalecer a
economia criativa do DF? As condições estão sendo colocadas pelo governo e, nesse ponto, o DF
passou à condição de protagonista no cenário nacional. Os benefícios de um
pacote como este que acabamos de lançar, por exemplo, vão além de um mero
socorro. Beneficiam toda a sociedade. Fora os recursos do FAC, temos a LIC, da
qual me referi antes, e mais de R$ 20 milhões que já executamos este ano de
emendas parlamentares. Veja bem: já executamos. Não estarei de todo exagerado
ao dizer que passaremos dos R$ 200 milhões investidos na cultura este ano.
O que esse esforço
significa? Recentemente, ministros da Cultura
dos países que formam o G20 redigiram a Carta de Roma. Lá pelas tantas,
destacaram os benefícios da cultura para a saúde mental da humanidade. Parece
até que me ouviram. Estou rouco de dizer que, se não fosse pela cultura, já
estaríamos, hoje, todos loucos.