O ano do centenário do educador tem um significado
especial para a capital federal. Aqui, o patrono da educação brasileira, que
acumula o título de cidadão honorário de Brasília, implementou uma das
primeiras experiências dos círculos de cultura — técnica fundamental para a
elaboração do método freiriano de ensino.
Foram 300 círculos realizados no Gama e em
Sobradinho, nos idos de 1960, no governo do então presidente João Goulart. O
educador pernambucano veio a convite do presidente para auxiliar na elaboração
do Plano Nacional de Alfabetização. A proposta selou uma relação muito próxima
de Freire com Brasília e com a Faculdade de Educação da Universidade de
Brasília (Unb), onde seu trabalho fincou raízes.
O professor da UnB Erlando da Silva Rêses — educador
popular, sociólogo, mestre e doutor em sociologia — é um dos frutos desse
trabalho. Ele conta que foi beneficiado com toda efervescência intelectual
promovida por Paulo Freire na UnB. Ele conta que alguns dos professores que
tiveram a oportunidade de atuar ao lado de Freire se transformaram em amigos e
disseminadores de sua pedagogia, como o professor de comunicação Venicio Arthur
de Lima e os educadores Renato Hilário dos Reis, Maria Luiza Pinho Pereira,
Laura Coutinho e Erasto Mendonça Fortes.
Ele lembra que Freire atuou como integrante do
conselho diretor da Fundação da Universidade de Brasília (FUB). “Ele foi muito
atuante em Brasília. Antes do exílio, em 1964, enfrentou as restrições da
ditadura militar e quando retornou ao Brasil, em 1979, manteve a relação com a
capital federal”, destaca.
Erlando afirma que as experiências com os círculos
de cultura no DF compõem a matéria prima que fundamentou uma das obras de maior
referência do pensador, Pedagogia do Oprimido. A obra é uma das mais relevantes
para a educação contemporânea, no Brasil e no mundo.
No DF, a epistemologia do educador se perpetua por
meio de ações específicas, como o trabalho realizado pelo Centro de Educação
Paulo Freire (Cepafre), em Ceilândia, e pelo Centro de Cultura e Desenvolvimento
do Paranoá e Itapoã (Cedep). Além do Fórum de Educação de Jovens e Adultos e do
Grupo de Trabalho Pró-Alfabetização, vinculados à UnB.
Para Erlando, a obra
de Freire continua atual e provocativa. “Ele partia de uma educação que buscava
despertar a criticidade do aluno, de qual era o seu papel no mundo e não
simplesmente aceitar a realidade. Essa abordagem dificulta a manipulação das
pessoas, porque permite que o indivíduo identifique a opressão que pesa sobre
ele e atue para mudar. Isso certamente desagrada espíritos autoritários e que
desejam a submissão”, explica.