Nas ruas, mas em paz
Amanhã, Dia da Independência, principal data cívica do Brasil, grandes manifestações populares a favor e contra o governo, marcadas para as ruas das capitais e de várias cidades brasileiras, suscitam preocupações. A primeira delas, com as aglomerações, já que a pandemia está longe de ser controlada e o avanço da variante delta do coronavírus, mais transmissível e agressiva, traz o risco de nova escalada de casos e mortes, como já começa a ocorrer no Rio de Janeiro. Portanto, que todos usem máscaras, álcool gel e evitem ficar próximos demais uns dos outros.
A preocupação maior, contudo, é com a segurança. A liberdade de os cidadãos promoverem manifestações políticas é um dos pressupostos básicos da democracia. Mas, desde que o façam de forma ordeira e pacífica. Ocorre que o antagonismo de posições dos que defendem e criticam o governo se acirrou fortemente devido à crise institucional entre os poderes, sobretudo pelos constantes ataques do presidente Jair Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal e ao Tribunal Superior Eleitoral.
O que não pode ocorrer é que o antagonismo de posições descambe para enfrentamento entre grupos e por isso o policiamento será reforçado país afora. Mas é importante que os manifestantes saiam de casa em clima de paz, com espíritos desarmados e sem ofensas e provocações de lado a lado. Há de se pontuar também que liberdade de manifestação não inclui atos ilegais, que atentam contra a Constituição, como pregar o fechamento do STF e do Congresso.
Nos últimos dias, representantes dos poderes procuraram atuar como bombeiros para baixar a tensão. Se Bolsonaro pouco baixou o tom de confronto com o Judiciário, embora tenha falado em respeito à democracia e à Constituição durante os atos, o presidente do Supremo, ministro Luiz Fux, ressaltou que num ambiente democrático as manifestações públicas são pacíficas. Fux disse ainda que “a liberdade de expressão não comporta violências e ameaças”. E acrescentou que o STF confia que os cidadãos agirão “com senso de responsabilidade cívica e respeito institucional, independentemente da posição político-ideológica que ostentam”.
Já o presidente do Senado e do Congresso, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), além de ressaltar que não se negocia a democracia e que o estado de direito é uma realidade já assimilada pela sociedade, destacou que todos os brasileiros, de quaisquer correntes políticas, têm inimigos comuns. “Nosso inimigo não está entre nós. Nosso inimigo é o preço do feijão, é o preço da gasolina, da luz elétrica. É o preço dos alimentos, que tem sacrificado a população”, afirmou Pacheco.
De fato, o que se espera, é que as manifestações de amanhã transcorram de forma totalmente pacífica e que, a partir de quarta-feira, o foco das instituições públicas dos três poderes se volte para a solução das questões urgentes que o país precisa resolver. Entre as principais, além de acelerar a vacinação contra a covid-19, estão conter a alta generalizada de preços que se traduz na nefasta volta da inflação, e contornar as crises-irmãs, hídrica e energética, de modo a evitar apagões e racionamentos de água e energia.