Minha primeira “missão de
exploração e reconhecimento” no Plano Piloto ocorreu após quase dois anos desde
minha chegada ao Distrito Federal. Fui com dois amigos (os únicos, a princípio)
da escola religiosa onde estudávamos. Um era negro e o outro era gordinho e
loiro. E eu era “O baiano”, apesar de falar que viera de Sergipe, meu último
endereço antes. Não precisava explicar minha vida ou onde eu tinha nascido —
para eles, já bastava eu falar que viera do Nordeste, e a zoação ao meu sotaque
era garantida.
A missão no Plano Piloto consistia
em pegar o primeiro ônibus que passasse no centro de Taguatinga rumo a
Brasília. Daniel, o mais descolado e comunicativo dos três, pulou de alegria
quando veio um W3 Norte. “Lá fica a Colina e a UnB. Renato Russo e a Legião
viviam lá. Vamos nessa”, decretou. Rafael (o gordinho rosado) balançou a cabeça
e emendou, com uma voz parecida com a do Homer Simpson: “Então, vamos nessa”.
Eu só pensei: “então, tá”.
Descemos do ônibus na altura da
UnB. Ficamos andando pela L2 Norte até o fim da avenida. Aqueles prédios baixos
e as árvores encantaram-me. Lembravam fotos que tinha visto, não lembro onde,
da União Soviética. No fim, não fomos até a UnB, tampouco na Colina. Éramos
apenas nós três, caminhando e falando sobre coisas de adolescentes. Na época,
nós formávamos a minha primeira banda imaginaria de rock. Nem é preciso dizer
que nunca fizemos um ensaio, tampouco tínhamos instrumentos.
O contato de primeiro grau com o
rock aconteceu alguns meses depois, também com eles. Éramos tipo um trio de
nerds rockeiros de Taguatinga, que sofria bullying na escola. O ano? Entre 1997
e 1998, creio. Fomos ao Grand Circular, ao lado da Rodoviária do Plano. O pai de
Daniel nos levou em um Uno, se não me engano.
O local tinha o formato de circo,
mas era de concreto. Lembro que tinha muita gente e bandas covers de Black
Sabbath, Iron Maiden, Nirvana... Acho que bebemos algumas latinhas de cerveja,
mas nada de drogas. Eis o meu primeiro show na capital do rock. Não lembro de
muitos detalhes, talvez tenha ficado doidão com três latinhas de cerveja. Mas
lembro do fim do rolê.
Caminhamos poucos metros rumo à
rodoviária e fomos parar na clássica pastelaria Viçosa. Havia uma aglomeração
de roqueiros, famintos e cansados, assim como nós. Pedimos o trio: dois pastéis
e um caldo de cana. Não sei se foi a fome, mas lembro que foi o melhor pastel
que já comi na minha vida.
O tempo passou e o trio de
roqueiros nerds foi se separando: cada um tomou um rumo diferente na vida.
Restam as lembranças de um momento de aventura, amizade, revolta e inocência
adolescente. Bons tempos.