Menos julgamentos, mais tratamento: o desafio de enfrentar a
obesidade. Nesta segunda (11) é celebrado o Dia Nacional da Prevenção da
doença, que atinge 96 milhões de pessoas no Brasil. Entre 2003 e 2021, a
proporção de indivíduos com obesidade saltou de 12% para 26% da população,
segundo o Ministério da Saúde
Não é uma questão meramente estética ou mesmo
individual: a obesidade é um problema a ser enfrentado de maneira profissional
pelos serviços de saúde para garantir o bem-estar da população. O desafio é
lembrado todos os anos em 11 de outubro, Dia Nacional de Prevenção da
Obesidade, e diariamente faz parte do trabalho da Secretaria de Saúde do DF,
desde o atendimento na rede de atenção primária até o acompanhamento
especializado.
“A obesidade não é apenas uma questão de força de
vontade. Depende do ambiente em que a pessoa está inserida, depende da oferta
de alimentos no ambiente em que se reside ou trabalha”, explica a gerente de
Serviços de Nutrição da Secretaria de Saúde do DF, Caroline Rebelo.
Dentro da estratégia de saúde da família, por
vezes, toda a alimentação de uma família deve ser modificada. “É uma doença
multifatorial, então não existe um fator que seja mais importante do que outro
para o desenvolvimento da obesidade. Podem envolver questões psicológicas, uso
de medicamentos, mau hábito alimentar, sedentarismo, por exemplo”, completa a
nutricionista.
A porta de entrada
para o tratamento na rede são as Unidades Básicas de Saúde. É onde os
pacientes, que muitas vezes procuram a assistência médica por queixas diversas,
recebem o primeiro acompanhamento para tratar a obesidade. Desde o início o
tratamento é interdisciplinar, com nutricionistas, psicólogos, endocrinologistas
e cardiologistas.
Dependendo do caso, a
pessoa poderá ser encaminhada para uma unidade especializada, como o Centro
Especializado em Diabetes, Obesidade e Hipertensão (Cedoh), localizado na Asa
Norte. Ali, uma equipe multidisciplinar pode acompanhar o desenvolvimento dos
pacientes em diversos aspectos da vida.
“Não basta só fazer
dieta e atividade física. Existe todo o contexto, como controlar o stress, uma
boa quantidade de sono, ingestão de água. Por isso é muito importante ter uma
equipe multiprofissional”, conta a endocrinologista Alexandra Rubim, gerente do
Cedoh. O encaminhamento para cirurgias bariátricas ocorre apenas com o aval da
equipe, que analisa o caso de cada paciente.
No DF, dados da Secretaria de Saúde indicam que
cerca 70,28% dos adultos acompanhados pela Atenção Primária à Saúde estavam com
excesso de peso em 2020, contra 59,84% em 2015
Acolhimento e união de
esforços: A palavra-chave do atendimento é acolhimento. “A pessoa fica
envergonhada, se sente julgada. Quando ela chega a um serviço de saúde onde ela
é acolhida, onde ela é ouvida, isso traz todo um impacto diferente”, diz
Alexandra. Combater o preconceito é uma das metas da Secretaria de Saúde. O
tema esteve em pauta em capacitações que envolveram cerca de 240 servidores nos
últimos anos, todos com a responsabilidade de atuarem como multiplicadores nas
suas unidades. As formações também incluíram os procedimentos de como acolher
os pacientes e encaminhar o tratamento.
Isso porque outro
aspecto apontado como relevante é a necessidade da abordagem múltipla. “Não é
possível realizar o enfrentamento da obesidade sem que haja ações
intersetoriais”, diz a nutricionista Caroline Rebelo.
Ações educativas, de
esporte, de lazer, de transportes e até de segurança pública entram no
enfrentamento integral da obesidade como uma doença em ampla expansão na
sociedade. No DF, destacam-se, por exemplo, as iniciativas da Secretaria de
Educação para combater a obesidade infantil e os projetos de segurança
alimentar da Secretaria de Desenvolvimento Social, que incentivam o consumo de
alimentos saudáveis pela população em vulnerabilidade.
“A meta não é ser
magro, é ter consciência”: A frase é de Regina Lopes, de 53 anos, moradora
do Guará. Quatro anos atrás, ela, que tem 1,57m de altura, chegou aos 106
quilos. “Eu cheguei a um ponto em que achava que estava com outra doença”,
conta. A estratégia para vencer o desafio de controlar o peso teve como foco o
acolhimento.
A porta de entrada para o tratamento, na rede, de
casos de obesidade são as Unidades Básicas de Saúde
Encaminhada ao Cedoh, ela participou de
atendimentos em grupo por dois anos. O diferencial, revela, foi a presença de
uma equipe capacitada. “Foi um período de muito acolhimento e de um trabalho
árduo. Eu tive nutricionista, endocrinologista, psicólogo, terapeuta e fui
muito bem assistida. Tem os profissionais de saúde e tem a nossa boa vontade
também.”
Hoje, com cuidados na
alimentação e prática de exercícios físicos, ela se orgulha por conseguir se
manter na faixa de peso esperada para o seu biotipo e, principalmente, por se
sentir com uma qualidade de vida maior. “Eu não sou magra, nem gorda. Estou com
um peso bacana e me sentindo bem.”
Aumento do número de
casos: Segundo o Ministério da Saúde, o excesso de peso atinge 96 milhões
de pessoas no Brasil. Entre 2003 e 2021, a proporção de indivíduos com
obesidade saltou de 12% para 26% da população. Dados da Pesquisa Nacional de
Saúde (PNS 2019) apontam que a condição de obesidade já afeta cerca de 41,2
milhões de adultos, com distribuição maior em mulheres (29,5%) do que em homens
(21,8%).
A preocupação aumentou com a pandemia de covid-19:
pacientes nesta condição apresentaram maiores complicações, tempo de internação
e índice de óbitos
No DF, dados da
Secretaria de Saúde indicam que cerca 70,28% dos adultos acompanhados pela
Atenção Primária à Saúde estavam com excesso de peso em 2020, contra 59,84% em
2015. O excesso de peso foi registrado, no ano passado, em 55,04% dos idosos,
50,4% das gestantes, 34,98% dos adolescentes, 27,9% das crianças de 5 a 10 anos
de idade e 7,87% das crianças abaixo dos 5 anos.
A obesidade é apontada
como fator de risco para doenças cardiovasculares, distúrbios
musculoesqueléticos, problemas psicológicos e câncer. A preocupação aumentou
com a pandemia de covid-19: pacientes nesta condição apresentaram maiores complicações,
tempo de internação e índice de óbitos.
Quem é considerado
obeso?: O critério utilizado para avaliar e classificar o estado
nutricional de uma pessoa é o Índice de Massa Corporal (IMC), de acordo com as
recomendações da Organização Mundial de Saúde. A fórmula para o cálculo do IMC
é peso (em kg) dividido pelo quadrado da altura (em metros). Por exemplo: uma
pessoa de 80 quilos e 1,70 de altura deve dividir 82 por 1,70×1,70, obtendo o
IMC de 27,68.
A pessoa é
classificada com excesso de peso quando o IMC é igual ou superior a 25 kg/m² e
classificada com obesidade quando o IMC é igual ou superior a 30 kg/m². Vale
lembrar também que a doença possui três estágios: a obesidade de grau 1
(IMC>30 kg/m² e IMC<35 kg/m²), a obesidade de grau 2 (IMC>35 kg/m² e
IMC<40 kg/m²) e o estágio mais grave, que é a obesidade de grau 3
(IMC>40).