Os brasilienses voltaram a se casar, após um
período de queda expressiva nos matrimônios em 2020, devido à pandemia da covid-19.
Dados da Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Brasil (Arpen),
obtidos pelo Correio, mostram que houve crescimento de 44,6% nos casamentos
civis no Distrito Federal, entre janeiro e outubro de 2021, em comparação com o
mesmo período do ano passado. Os números da associação apontam que os cartórios
da capital do país tiveram 17.292 registros nos 10 primeiros meses de 2021 e
11.953 matrimônios no mesmo intervalo em 2020.
“Não podemos justificar ao certo, mas nossa análise permite avaliar que o aumento dos casamentos ocorreu junto à flexibilização das medidas sanitárias de combate à covid-19 e a vacinação em massa da população”, argumenta Gustavo Renato Fiscarelli, presidente da Arpen-Brasil. “Com a volta da vida normal, a tendência é de que os casais realizem casamentos e celebrações. Muitos matrimônios foram adiados, o que, certamente, contribuirá para o aumento (no número de eventos) nos próximos anos”, prevê Fiscarelli.
O cerimonialista Pedro Marra confirma a expectativa
do presidente da associação. “Nós tivemos casamentos adiados quatro vezes em
2020 e 2021. De julho para cá, quando o cenário da pandemia começou a melhorar,
o pessoal voltou a marcar as festas. Vamos entregar as remarcações até dezembro
do ano que vem. Em 2022, teremos três anos em um”, ressalta o empresário.
Em relação à alta geral de preços — ocasionada pela
inflação aguda que atinge o Brasil, aliada ao aumento do dólar e dos
combustíveis — Pedro sugere que os noivos fechem com os fornecedores em 2021.
“(Essas) altas têm muita influência sobre o setor de casamentos. Então, é bom
que os clientes comecem logo a negociação e fechem os contratos até o fim deste
ano. Os valores ainda vão subir muito”, alerta.
Dhyana Giardini, dona e decoradora do espaço Villa
Giardini, no Lago Norte, afirma que o cenário percebido durante a pandemia
começou a melhorar a partir de maio. De lá para cá, segundo a empresária, o
número de casamentos multiplicou. “Como os eventos ficaram represados, a
demanda reprimida está saindo agora, e a quantidade quadruplicou. Antes da
crise sanitária, na alta temporada — que é o período da seca em Brasília,
fazíamos entre quatro e seis casamentos por mês. Agora, são entre 12 e 16
mensalmente. O setor está bem sobrecarregado”, comemora Dhyana. A decoradora
avalia que, com o aval para a realização de eventos, novos contratantes
surgiram, em um movimento quase automático, sem necessidade de busca ativa por
parte dos empresários. “Estamos com muitos clientes novos. Como as pessoas
ficaram muito tempo sem poder fazer eventos, há uma certa carência nesse
sentido”, observa.
Retomada: Com a volta dos eventos no DF,
depois do fim das restrições de segurança contra a covid-19, a demanda por
serviços relacionados ao segmento de casamentos cresceu. Fernando Peixoto,
proprietário de um ateliê de vestidos de noiva, tem atendido cerca de 20
clientes por dia — há lista de espera de mais de 30 pessoas. Até o próximo
sábado, o estilista está promovendo um bazar, com descontos que podem chegar a
90%. Ao fim da promoção, ele espera vender mais de 40 vestidos. O bazar de
2020, feito também em novembro, comercializou cerca de 30 peças.
“A procura, neste ano, está maior do que em 2020,
por conta da perspectiva positiva. Devido à pandemia, a maioria dos casamentos
agendados para o ano passado foram remarcados e também houve reagendamentos em
2021. Aos poucos, as pessoas estão marcando as datas novamente, agora que têm
mais segurança em relação à pandemia. A agenda de 2022 está toda lotada e estou
abrindo a de 2023. As noivas estavam com a demanda retraída”, avalia Fernando.
O empresário destaca que as vendas começaram a aumentar a partir dos últimos
meses deste ano. Na comparação com o mesmo período de 2020, as aquisições
cresceram, segundo Fernando, entre 30% e 40%.
O estilista relata que os valores praticados pelo
mercado de vestidos de luxo subiram drasticamente em 2021. “Minhas
matérias-primas são quase todas importadas a dólar, então o preço foi lá para
cima.” Apesar do aumento, Fernando está satisfeito com o movimento no ateliê.
“A expectativa para os próximos dias está excelente. É o que eu esperava,
considerando a retomada dos eventos e o estoque que tenho”, revela o
proprietário.
Noivas: Quem se esbaldou com o bazar do
estilista foi a psicanalista Aline Cunha, 35 anos, que adquiriu dois vestidos
ontem, um para o noivado e outro para a cerimônia, com mais de 50% de desconto.
“Comprei dois pela metade do preço de um aluguel”, comemora a moradora de
Vicente Pires, que planeja a festa há um ano e precisou adiar o casamento três
vezes por conta da pandemia. “Eu só tenho a igreja fechada. Decidi esperar,
pois muitos fornecedores quebraram, fiquei com medo de investir e ser
surpreendida com a não concretização do serviço de última hora”, confessa
Aline, com matrimônio marcado para setembro de 2022. Em comparação aos preços
praticados em 2020, a psicanalista sentiu no bolso o aumento brusco. “Os
valores de tudo, em todos os setores, triplicaram, principalmente na
alimentação”, reclama.
Amanda está com a
maioria dos fornecedores fechados para a festa, mas precisa contratar alguns
serviços. “Não fechei o bar ainda, então liguei para algumas empresas há uns
dias e nenhuma delas tinha minha data disponível. Eles me disseram que muitos
casamentos foram remanejados para 2022”, comenta a advogada. Amanda não esconde
a emoção ao contar sobre o vestido escolhido. “Comprei um (vestido) diferente
do que eu imaginava, mas o preço estava muito bom. Me emocionei quando
experimentei, era para ser meu mesmo”, celebra a noiva.