Ela chegou ao viveiro há pouco
mais de dez dias e já está ambientada. Trabalha com afinco, visando à remissão
da pena que, pelos seus cálculos, ainda dura 15 anos. “Estar aqui é
gratificante. Nossas plantas estão espalhadas por Brasília toda. Vão para os
balões, praças, fica tudo lindo. Sou orgulhosa disso aqui”, confessa. R. deixa
a Penitenciária Feminina de segunda a sexta, planta, cultiva e, ao final do
dia, retorna ao local para dormir.
Já C.M., 59, é a veterana da
turma. São quatro anos de serviços prestados naquela imensidão de árvores,
sementes e mudas. Mãe de quatro filhos e com dois netos, ela conta que tem como
‘filhas’ as mais variadas plantas. “Retorno do fim de semana já curiosa
para saber se está tudo bem, se tem alguma morrendo”, relata. “Meu sonho é um
dia abrir uma floricultura”.
As duas mulheres integram um
projeto social da Novacap em parceria com a Fundação de Amparo ao Trabalhador
Preso (Funap), órgão vinculado à Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus). O
objetivo é gerar empregabilidade e perspectiva de vida para elas que vivem o
dia a dia da ressocialização. A iniciativa começou em 2017, com 30 reeducandas.
Vagas para até 200
aprendizes: Atualmente, são 120 detentas atendidas e outras 80 estão sendo
selecionadas pela Funap para o projeto. Além do Viveiro I da companhia, o de
número II recebe os serviços de outras 70 moças. Do esforço delas, nascem as
belas petúnias, sálvias e dálias que embelezam os mais de 500 canteiros
ornamentais da capital. Mudas de ipês, arbustos, palmeiras, vasos ornamentais,
entre outros, também saem dali.
“E o serviço delas é fundamental,
pois não temos mão de obra suficiente na Novacap para o tanto que produzimos”,
explica.
Recomeço e esperança: Para a
diretora adjunta de assuntos sociais e educacionais da Funap, Carla Miranda, a
oportunidade de trabalhar “abre um leque de esperança” na vida dessas mulheres.
“Faz toda a diferença, sem dúvida alguma. Depois de cumprida a pena, somente 5%
delas voltam para o crime”, observa. “Muitas são arrimo de família, precisam
ter renda. E, no viveiro, elas recebem essa grande oportunidade”.
Não há um prazo para que as
reeducandas permaneçam ali, já que tudo passa pelo cumprimento da pena. Há,
sim, a convicção delas de que é possível recomeçar tendo a natureza como grande
aliada.
Galeria de Fotos: - ( https://bit.ly/2ZbmB5k )