O Cine Brasília faz pré-estreia nacional de um dos filmes mais
aguardados desde 2020, quando irrompeu a pandemia da covid-19: “Eduardo e
Mônica”, filme de René Sampaio estrelado nos papéis do título da canção de
Renato Russo por Gabriel Leone e Alice Braga. Serão três sessões pagas (R$ 20 a
inteira e R$ 10 a meia), de quinta-feira (13) a sábado (15), sempre às 21h, com
classificação indicativa para 14 anos.
Com fomento do Fundo de Apoio à
Cultura (FAC) no valor de R$ 994.720,93, para um orçamento total de R$ 10
milhões, o longa-metragem é a segunda película do brasiliense René Sampaio
sobre o repertório do “trovador solitário”, como era conhecido Renato Russo.
Admirador confesso da Legião Urbana, Sampaio havia alcançado o sucesso com
“Faroeste Caboclo” (2013), outro grande sucesso da Legião Urbana, cuja
adaptação cinematográfica foi vista por mais de 1,5 milhão de espectadores.
“A Secretaria de Cultura e
Economia e Criativa tem apostado no cinema brasiliense e tem consciência de sua
qualidade para ganhar o Brasil e o mundo. Só em 2021 foram R$ 54 milhões para o
audiovisual. Poucas unidades da Federação têm investido no cinema como o
Distrito Federal”, aponta o secretário de Cultura em exercício, Carlos Alberto
Jr.
O diretor lamenta não poder estar
na sala projetada por Oscar Niemeyer. “Estive numa apresentação do filme em
Brasília em dezembro. Desta vez, também queria muito estar. Mas, as sessões
acontecem uma semana antes da estreia no restante do país e coincidem com a
estreia nos EUA, em Miami.”
René recorda as circunstâncias da
estreia mundial do filme no Festival de Cinema de Miami em março de 2020.
“Depois, veio a pandemia. Agora, finalmente, ele vai entrar no circuito
comercial. É uma grande vitória para o nosso cinema estrear comercialmente em
outros países, em particular nos Estados Unidos.” Mas ele faz uma promessa:
“Assim que voltar a Brasília, quero ver o filme com o nosso público no Cine
Brasília, num cinema de shopping, em alguma das cidades fora do Plano Piloto e
no Cine Drive-in”.
“Eduardo e Mônica” recebeu o
prêmio de “Melhor Filme Estrangeiro” no Festival de Cinema de Edmonton, no
Canadá, que tradicionalmente seleciona filmes que se credenciam ao Oscar de
Melhor Filme Estrangeiro.
Confira abaixo entrevista com René
Sampaio.
Em entrevistas anteriores, você
menciona o desafio de fazer um filme baseado em uma música. Menciona como
facilitadora a questão da emoção coletiva. Pode dar uma ideia dos desafios que
o roteiro enfrentou? O maior desafio em relação ao roteiro é completar as
lacunas da história da música e aprofundar os dilemas dos personagens sem fugir
do espírito da música. Na hora de fazer a adaptação, a gente tentou ser muito
fiel ao que está na letra e, principalmente, ao espírito solar da música.
Buscamos, também, contemplar um pouco da visão do autor original e da minha,
claro. Ali a gente busca resgatar não só essa música, mas toda a obra do
Renato, que sempre teve um fundo político e também emocional.
Você se refere ao filme como
“comédia romântica”. O lado político das letras de Renato Russo aflora também
de alguma maneira? É uma comédia romântica, um filme de amor, com momentos
incríveis de humor. Mas ele também pode ser encarado como uma “dramédia”,
porque tem um drama ali também, além da graça. Acho que é, na verdade, um
amálgama de gêneros. E é uma história que se passa nesse período da nossa
história, final da ditadura, meados dos anos oitenta. Não poderia, portanto,
passar longe do que foi aquele momento político. Muitas músicas dele (Renato
Russo) trazem esse cunho que é não partidário, mas é muito político. O filme é
um grito de liberdade, de defesa da democracia, fala sobre equidade de gênero…
Enfim, é uma manifestação de tudo que eu acredito que fará esse país ser
melhor.
Em que medida fazer filme depende
de aporte público? O cinema no Brasil e em quase todo o mundo só é possível
com incentivo público. A exceção está nos EUA. E mesmo lá existem enormes
políticas de ‘tax rebate’ (dedução fiscal) para estimular a produção local. E o
motivo é bem claro. É uma política de geração de empregos, renda, riqueza e
também de afirmação cultural. Importante ressaltar que, para cada real
investido pela Secretaria de Cultura, mais dois reais foram investidos pelo
Fundo Setorial do Audiovisual (FSA). Também tivemos diversos outros aportes de
outras fontes privadas, mas grande parte delas também vinculada a alguma lei de
incentivo. Os produtores ficam muito felizes de saber que esse investimento
gerou mais de 10 mil empregos diretos e indiretos e também vai continuar
gerando riqueza de agora em diante, com o lançamento, e deixar um legado eterno
pra cultura brasileira. Cinema é imortal.
Tem alguma tese para explicar o
interesse dos brasilienses pelo cinema? Acredita ser um traço especial da
capital? Olha, acho que muito desse imaginário da relação íntima entre a
capital federal e o cinema brasileiro se explica pelo pioneirismo da UnB, do
projeto de Darcy Ribeiro. Estamos falando de seis décadas dessa que é uma das
primeiras faculdades de cinema do país, uma referência. Muitos dos cineastas da
cidade foram formados lá ou tiveram contato com esse universo universitário.
Além disso, temos o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, também uma baita
referência. O último Drive-in em funcionamento também é em Brasília. Isso para
não falar do cenário que é nossa cidade. Busco sempre evidenciar isso nos meus
trabalhos. Claro que também é uma questão ligada com termos maior renda per
capita e instrução do país. Mas não é só isso e também não há como negar:
Brasília é coisa de cinema!
Você mencionou em algum lugar que
há mais um filme seu cujo projeto bebe no repertório da Legião Urbana. Pode dar
uma dica? Quando ouvi “Eduardo e Mônica” já na primeira vez, na minha
adolescência, eu pensei “isso aí dá um filme!”. “Faroeste Caboclo” eu ainda fui
além e disse: “Quero fazer esse filme!” Serão uma felicidade e uma honra
imensas se eu conseguir realizar mais um filme baseado nas obras do Renato, que
são tão significativas para mim.
Será uma trilogia… Não sei se
posso dizer que teremos uma trilogia. Talvez até uma tetralogia, quem sabe? A
verdade é que são várias as músicas da Legião que me tocam para virar filme…
Índios, Tempo Perdido, Pais e Filhos, entre tantas outras… Algumas mais
obviamente adaptáveis, outras mais “misteriosamente” cinematográficas. O que
posso dizer é que certamente quando eu comecei isso tudo eu já tinha três
músicas que eu queria adaptar. Eu já decidi e estamos negociando. Não posso
revelar ainda.
Alguma novidade que dê para contar? Posso
dizer para os fãs que já tá bem encaminhado um documentário sobre a vida do
Renato Russo. Estou produzindo com a Bianca de Felippes, repetindo a nossa
parceria de “Faroeste Caboclo” e “Eduardo e Mônica”. Teremos acesso exclusivo a
todas as peças que integraram a exposição no MIS [Museu da Imagem e do Som, São
Paulo, em 2017/18], como diários e letras não publicadas.