Hoje, vendedora
ambulante, compositora e futura universitária. No passado, moradora de rua
envolvida na criminalidade. A vida de Dayana Bárbara dos Santos Coqueiro, de 36
anos, será radicalmente transformada por meio do conhecimento.
Aprovada no vestibular
para cursar Letras Literatura, vai ingressar, no 2º semestre de 2022, em uma
das mais conceituadas instituições de ensino superior do país, a Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
Foi na Escola Meninos
e Meninas do Parque (EMMP), na Asa Sul, que Dayana trilhou grande parte do
caminho. Aos 12 anos, saiu de casa e deixou para trás uma história de
violência. Morou em abrigos, de onde fugia constantemente para viver nas ruas.
Aos 14 anos, foi encaminhada para a Escola Meninos e Meninas do Parque, da
Secretaria de Educação do Distrito Federal. A unidade é especializada no ensino
de moradores de rua e oferece desde a alfabetização até os anos finais do
ensino fundamental.
(“Não sei como é ser universitária, mas, como as pessoas têm dito: vou ficar gigante. Quero estudar mais, ler muito e escrever vários livros. Arrisco até dizer que farei mestrado fora do país” Dayana Bárbara dos Santos Coqueiro, 36 anos, vendedora ambulante, compositora e futura universitária)
Aos poucos, Dayana foi
despertando o interesse pelos estudos, universo totalmente diferente do que
estava habituada. Na escola encontrou o espaço que precisava para expressar
suas emoções. “Descobri que gostava da arte e da escrita. Aprendi a expressar
no papel tudo o que sentia, vivenciava e sonhava”, narra Dayana.
Dayana estudou na EMMP
dos 14 aos 20 anos e criou um vínculo especial com os profissionais que lá
trabalhavam. “Eu não queria sair da escola, porque o pessoal era como pai e
mãe. Eles acreditavam em mim quando nem eu mesma acreditava. Diziam que eu não
poderia desperdiçar o potencial que tinha voltando para as ruas e que iam
correr atrás de chances junto comigo”, conta, emocionada, ao relembrar o
passado. “De fato, eles correram e me ajudaram bastante”, completa. (Dayana
Coqueiro, aos 20 anos, na formatura na Escola Meninos e Meninas do
Parque )
“Eu não queria sair da
escola, porque o pessoal era como pai e mãe. Eles acreditavam em mim quando nem
eu mesma acreditava” Dayana Bárbara dos Santos Coqueiro, 36 anos, vendedora
ambulante, compositora e futura universitária”
Além da grade
curricular da educação básica, quem frequenta a EMMP aprende também sobre
cidadania e socialização. “Na escola, entendi que posso ocupar espaços e ser
ouvida, não como moradora de rua, mas como uma pessoa que têm direitos e
deveres”, diz Dayana, que hoje é “uma mulher formadora de opinião, símbolo de
resistência e espelho para outras mulheres”, conforme descreve a diretora da
Escola, Amelinha Araripe.
Para a diretora, a
conquista de Dayana é uma referência de que as políticas educacionais e sociais
são capazes de modificar a realidade das pessoas. “Ela é uma prova de que nossa
escola está no caminho certo e que ações cotidianas diferenciadas, adaptações
curriculares e o uso da arte e cultura nas aulas fazem a diferença”, finaliza a
gestora.
Estudos e preparação:
Com poucos recursos para estudar, Dayana, que vive há sete meses na capital
fluminense, conta que após finalizar a educação básica foi mãe de um menino e
teve vários percalços, mas não desistiu. “Pelo menos uma hora por dia estudava
pela internet, em sites gratuitos. Lia as referências de livros que poderiam
ser temas da redação. E assim consegui ser aprovada na UERJ”, revela.
A estudante acredita
que suas possibilidades para um futuro de sucesso aumentaram. “Não sei como é
ser universitária, mas, como as pessoas têm dito: vou ficar gigante. Quero
estudar mais, ler muito e escrever vários livros. Arrisco até dizer que farei
mestrado fora do país”, comemora.