O carnaval e a pandemia
O Brasil chegou ao sábado de carnaval com resultados animadores na redução dos indicadores de gravidade da pandemia de coronavírus. Tanto a média móvel de casos quanto a de mortes encerraram a sexta-feira em baixa. A de óbitos indicava redução por cinco dias consecutivos. A de infecções atestava a desaceleração iniciada desde 4 de fevereiro. Entre profissionais da saúde, contudo, predomina o sentimento de apreensão. Apesar da melhora no cenário, eles advertem que não é hora de enfiar o pé na jaca e de cair no samba, no frevo ou no axé. O momento, insistem, é de reforçar os cuidados para não haver retrocesso na superação do atual estágio epidemiológico que o país atravessa.
Não à toa, no mais recente Boletim do
Observatório Covid-19, divulgado na quinta-feira, pesquisadores da Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz) destacam a tendência de queda nos principais índices
usados para medir a situação da crise sanitária. Mas são taxativos ao alertar
que a pandemia não acabou. E ressaltam que eventuais excessos neste feriadão
podem, de fato, favorecer a disseminação do vírus e voltar a elevar os números
de casos, internações graves e mortes no país, justamente no momento em que
esses indicadores dão sinais de arrefecimento.
Motivos para preocupação não faltam.
Apesar de prefeitos e governadores de todo o país terem proibido o carnaval de
rua, cientistas temem o desrespeito às restrições oficiais e a ocorrência de
aglomerações festivas, como as já registradas, antes mesmo do feriado
prolongado, em Brasília, no Rio de Janeiro e em Olinda (PE). Nas cenas que
viralizaram em redes sociais, via-se que grande parte das pessoas que
participaram da folia nessas cidades não usava máscaras, a mais efetiva das
proteções contra o vírus depois da vacina contra a covid-19. Não cai em tentação.
Use sempre a proteção facial.
É graças à vacinação e aos protocolos
sanitários de combate ao coronavírus que o Brasil tem avançado no enfrentamento
à pandemia. Na sexta-feira, o mapa da situação epidemiológica no país apontava
recuo na média móvel semanal de mortes em 14 estados: Amazonas, Amapá,
Tocantins, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Bahia, Espírito Santo,
Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina. No Distrito Federal e em
outras sete unidades da Federação — Acre, Roraima, Pará, Sergipe, Mato Grosso
do Sul, Minas Gerais e Rio Grande do Sul —, o cenário era de estabilidade. E,
em cinco, a tendência era de alta: Rondônia, Maranhão, Pernambuco, Alagoas e
Goiás.
Animado com os dados positivos, o
Ministério da Saúde cogita mudar a classificação da pandemia no país para
endemia, situação em que a covid-19 passaria a ter o mesmo tratamento
dispensado à gripe. A expectativa é de que o anúncio seja feito depois do
carnaval. E, com isso, viriam a suspensão de diversas restrições sanitárias,
como o uso de máscara em determinados ambientes, a exemplo das medidas adotadas
em países da Europa e em alguns estados americanos, como Nova York.
Especialistas, no entanto, afirmam
que é cedo para qualquer alteração no status da crise epidemiológica no país.
Sobretudo porque a média de mortes ainda se encontra em um patamar alto. Além
disso, defendem que é preciso ampliar a vacinação de crianças e a aplicação de
doses de reforço. E esperar para ver como será o comportamento dos brasileiros
nestes dias de folia e o impacto que possíveis aglomerações terão na taxa de
transmissão da doença e nos demais indicadores de gravidade da pandemia.
Entre profissionais da saúde, predomina o sentimento de apreensão. Apesar da melhora no cenário, eles advertem que não é hora de enfiar o pé na jaca e de cair no samba, no frevo ou no axé.