A fragilidade a que o templo —
tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) —
estava submetida fez com que a dupla retomasse os estudos ainda no fim daquele
ano. O projeto de restauração, aprovado pelo instituto, começou a sair do papel
na semana passada. O primeiro passo foi substituir as frágeis portas de
madeiras, alvo de vários arrombamentos, por uma estrutura metálica resistente.
Eles contam que toda e qualquer mudança passa pelo aval do Iphan. “A motivação
para cuidar do local veio da própria paróquia, sobretudo pela questão da
segurança, e temos seguido nessa linha, com respeito. A pintura, por exemplo,
não podemos fazer de qualquer jeito, porque é uma identidade da paróquia”,
conta Gabriel, explicando que as intervenções acontecem em etapas.
“Fizemos um apanhado e elaboramos
o projeto em três etapas, pelo grande número de ajustes que precisam ser
feitos. Agora, imagina atuar em um patrimônio tão grandioso projetado por Oscar
Niemeyer? É uma honra”, vibra Henrique.
Sobre a mudança dos portões, o
Iphan chegou a solicitar uma amostra do material para que os traços originais
não fossem comprometidos. Foi proposto, então, algo que se assemelhasse
esteticamente à madeira, mas que pudesse fornecer segurança, e o ferro foi a
melhor opção. A estrutura do portão, que custava em torno de R$ 30 mil, contou
com um reforço especial: um dos frequentadores da Igrejinha se engajou no
trabalho e disponibilizou o material por um valor mais acessível.
Etapas: Além do portão, nesta
primeira etapa de trabalhos, serão feitos outros ajustes na parte de dentro da
Igrejinha, trazendo mais conforto às mais de 50 pessoas que acompanham
diariamente as missas. “Dos oito bancos, encaminhamos um para reparos, porque é
algo que exige cuidados para poder receber os fiéis”, conta Gabriel. “Sugerimos,
junto ao próprio Iphan, tentar subir um pouco mais a altura dos bancos, até
porque a grande maioria dos frequentadores são pessoas de idade, mas o
instituto não topou, porque mudaria a estrutura da paróquia. Se o banco que
enviamos para revitalização estiver ok pelo instituto, os demais passarão pelo
mesmo processo”, diz o arquiteto. Todos os recursos para que houvesse obras no
local vêm por meio de doações dos próprios fiéis.
Num segundo momento, os arquitetos
pretendem viabilizar a pintura e reparos gerais na Igrejinha. Isso porque os
pilares externos estão sofrendo com depredação e, internamente, a pintura se
encontra desgastada. Há a intenção de reformar e adequar o sistema elétrico
que, segundo os arquitetos, está exposto e pode trazer insegurança. Ainda
existe a expectativa de trocar a iluminação interna, principalmente no altar,
além da revitalização das janelas, mas essa alteração depende de aprovação do
Iphan. “O instituto entende o que necessita ser feito aqui, e a resposta sempre
é imediata. Então é assim: ‘fazemos o relatório rápido, eles respondem rápido’.
Dá para ver que há um interesse por parte deles na revitalização da Igrejinha”,
elogia Gabriel.
O piso está contemplado na
terceira etapa da revitalização da paróquia. De acordo com os responsáveis, há
a necessidade de troca, entretanto, é preciso calma, porque há a exigência de
que seja utilizado o mesmo material do projeto original. “O piso está bem
desgastado, e se fosse para mudar, teríamos que achar o material original, além
da questão do preço que não vai ser nada amigável”, explica Gabriel.
Em relação aos tradicionais
azulejos da parte exterior, eles estudam a melhor maneira de fazer o restauro
das peças danificadas, o que será apresentado ao instituto. O painel do pintor Galeno
está dentro do cronograma para restauração. Inicialmente, só ele está orçado em
R$ 64 mil e será feito por um especialista, caso o Iphan autorize.
Ainda na terceira etapa está
prevista a troca dos armários da sacristia e do banheiro, que apresentam
problemas, a ideia é garantir os modelos originais. No relatório dos
arquitetos, essa substituição está orçada em R$ 40 mil. O plano de ação na
paróquia ainda prevê a execução de um novo velário, que se encontra sem uso e
em situação precária.
Melhorias: A parte externa
que não dispõe de acessibilidade para pessoas com deficiência e o piso quebrado
também devem ser refeitos. Os devotos de Nossa Senhora de Fátima têm aprovado
as medidas e querem reforço na segurança pública. “Esperamos que haja
acessibilidade, com a instalação de rampas para cadeirantes. Temos lutado
bastante para que também haja uma solução para pessoas em situação de rua. Os
órgãos têm conhecimento, mas não é feito muita coisa. Há alguns anos,
encontramos até uma pessoa morta aqui na praça. Precisamos de policiamento”,
comenta Gardênia Lopes, 70 anos, que frequenta a missa todos os dias.
Nacionalmente conhecida, a
Igrejinha foi projetada por Oscar Niemeyer e Joaquim Cardoso, em 1958, antes
mesmo da inauguração da capital federal. Segundo registros, a construção da
obra foi em cumprimento a uma promessa que a primeira-dama Sarah Kubitschek fez
após a cura de sua filha Márcia.
Em 2021, a Igrejinha sofreu com
três arrombamentos, sendo dois deles em menos de um mês, o que acabou
prejudicando a estrutura original do espaço, como a necessidade de reforçar a
porta. Com isso, muitos fiéis passaram a temer pela integridade da estrutura.