Florir a casa e cuidar das plantas foi um hábito
que muitos brasileiros adotaram desde o surgimento da pandemia. Seja para
colorir ambientes internos, para renovar os jardins ou para escapar do estresse
e ansiedade gerados pela covid-19, cultivar tornou-se uma refinada arte para os
brasilienses. Por isso, o mercado de floricultura tornou-se uma das principais
atividades comerciais na capital federal. Em ascensão, a venda de flores no
Distrito Federal cresce cerca de 15% ao ano e é o primeiro mercado consumidor
do ramo no país, segundo dados da Empresa de Assistência Técnica e Extensão
Rural (Emater). O fato é que não importa a espécie, todas têm em comum a
capacidade de serem apaixonantes.
Assim como Gisele, muitas outras pessoas passaram a
visitar as floriculturas com mais frequência na capital federal. No ano
passado, foram realizados 7.714 atendimentos em floriculturas no DF. De acordo
com Carlos Morais, coordenador de Fruticultura da Emater, o mercado de flores é
grande. “Em média, o brasiliense gasta mais de R$ 44 por ano em flores. A média
nacional é R$ 26 por ano”, explica. Os dados mais recentes são de 2020, e
mostram que o mercado de floricultura movimenta cerca de R$ 141 milhões, empregando
aproximadamente 3,5 mil pessoas no setor entre empregos diretos e indiretos.
O coordenador explica ainda, que a principal
característica do mercado consumidor de flores é a diversidade. “Aqui, o
consumidor vai desde a grama até as árvores para jardins”, diz. De acordo com
Carlos, no DF, as plantas são cultivadas em estufa, com umidade e temperatura
controladas. “Nós trabalhamos a fertilidade do solo. O cerrado era considerado
infértil há muitos anos mas, atualmente, somos campeões de produtividade, assim
como as hortaliças, soja e milho. Na floricultura não é diferente”, reitera.
Novos negócios: Durante a pandemia,
muitos transformaram a paixão pelas plantas em negócio. Foi o caso do professor
de biologia e comerciante de plantas Thiago Marques, 35. Morador de Sobradinho,
ele conta que antes do home office, o quintal era uma bagunça: terra para todo
o lado e plantas repetidas. Foi durante o trabalho remoto e após anos
lecionando, que decidiu iniciar o cultivo de suculentas e novas plantas em seu jardim.
Da grama verde, surgiu um viveiro, com flores cheirosas, horta e árvores
frutíferas.
Thiago conta que depois de organizar o quintal,
surgiu a oportunidade de iniciar o empreendimento. “Já havia dado várias mudas
de presente para conhecidos. Foi quando surgiu a ideia de cultivar e vender
algumas das mudas que tinha no viveiro”, explica. Do fundo do quintal, surge a
loja “King Size”. O nome, teve como inspiração o desejo do professor de
cultivar plantas adultas, bem formadas e adaptadas ao clima do DF. De acordo
com ele, o principal meio de vendas tem sido a exposição em eventos e datas
comemorativas, como Dia dos Namorados ou véspera de Natal, quando vende até 30
vasos por dia.
Para Thiago, manter a loja no quintal de casa abre
um mundo de possibilidades, uma vez que não tem custos com aluguel ou
funcionários. “Precifico de acordo com os investimentos e o preço de mercado.
Procuro colocar os bons preços. Nos últimos cinco anos temos visto uma série de
plantas do momento, que alcançam preços bem elevados. Tento vender as mesmas
espécies com valores bem mais acessíveis”. Além disso, o professor trabalha com
a montagem de jardins. “Nesses casos, o preço leva em conta horas trabalhadas,
plantas, e a complexidade do serviço”, conta.
Para decorar: Para a arquiteta e
professora de paisagismo do Centro Universitário de Brasília (Ceub), Fatah
Mendonça, as plantas tornaram-se tendências na casa dos brasilienses. “As
plantas vieram dar um outro sentido dentro do espaço de viver e morar”,
explica. Para aqueles que gostam de colorir os ambientes internos, seja em
apartamentos seja em casas, Fatah diz que é importante estar atento às cores na
hora de comprar as mudas. “O mais importante é ter o entendimento de como
associar as cores com a paleta de mobiliário e os quadros que existem naquele
espaço. Tudo isso vai fazer com que o seu vaso de flor converse com o resto do
ambiente”, aconselha.
Para os ambientes externos, a especialista diz que
o mais importante é buscar uma pessoa da área, um profissional de jardinagem
ou de paisagismo, que vai indicar a melhor localização para colocar cada
flor ou planta. “Cada uma é um ser vivo, que pede ambientes específicos, com
mais ou menos umidade e sol. É preciso ter este entendimento e o especialista
vai saber como, onde e qual planta colocar”, explica.
Dicas: O que ter no apê? Plantas para
apartamento precisam, em geral, de sombra ou meia-sombra. Quem mora em locais
fechados está acostumado e nem percebe como entra pouca luz na residência. Tem
mais paredes que janelas, por isso, plantas que precisam da totalidade do sol
não devem ser cultivadas. As plantas não são boas em negociações, é preciso
prover as condições adequadas ou elas morrem.
No quintal pode tudo? Para o pessoal que tem quintal,
todas as opções são válidas. Pode cultivar plantas de sombra, no interior da
casa, ou na área externa coberta. Hortas também são uma boa pedida, é sempre um
espetáculo, afinal, olhar para as plantas é legal, mas comer o que você
cultivou tem um sabor diferenciado. Árvores frutíferas são interessantes, mas
tome cuidado com o tamanho que podem alcançar. Se você tem um lote de 300m²,
por exemplo, uma mangueira adulta toma boa parte do espaço.
Como cuidar bem da sua planta? Coloque a planta no
local adequado e utilize a terra certa. Isso já evita a maioria dos problemas
que certamente ocorrerão, afinal, a maioria delas não é nativa daqui. Ou seja,
não possuem mecanismos adaptativos de defesa contra as ameaças de apartamentos
ou casas, como fungos e vírus nativos da região. Estude sobre a planta antes de
comprar, pense onde deseja cultivar, e confira se ela é apta para prosperar
naquele local.
Números - Valor bruto da produção: R$ 141 milhões
- (em 2020) - Crescimento do mercado de flores por ano: 10% a 15%
- Produtores de flores no DF: 150 - Flores mais exportadas: hortência
e copo de leite (Dados da Emater-DF)
Você sabia? Atualmente, está em
desenvolvimento na Emater-DF o projeto “Brasília de Flor e Mel”, que tem o
objetivo de diversificar ainda mais o plantio de flores e plantas ornamentais e
incorporar a atividade da meliponicultura (criação racional de abelhas sem
ferrão), como alternativa de renda e diversificação de produtos produzidos no
DF. De acordo com a empresa, o intuito é fomentar a plantação de determinadas
espécies para aumentar a presença das abelhas nativas do cerrado, sem ferrão,
nos jardins do DF. Dessa forma, as pessoas poderão fazer proveito (de forma
saudável e consciente) do mel produzido por elas.