O jazz, muito apreciado pelo brasiliense, pode ser
ouvido em vários locais da cidade. Consequentemente, os instrumentistas e
cantores que se dedicam a esse gênero musical, originário dos Estados Unidos,
contam com um interessante mercado de trabalho. Por conta da pandemia, a partir
de março de 2020, eles ficaram quase dois anos sem poder exercer seu
ofício.
Alguns passaram a conviver com problemas
financeiros e houve até quem precisasse vender instrumentos, visando a
sobrevivência. Entre alternativas menos dolorosas colocadas em prática, para a
obtenção de recursos, que substituíssem os valores obtidos com cachê pago pelos
contratantes, os músicos ministraram aulas, fizeram lives, gravações e até se
ocuparam com outros afazeres.
Com o decreto de flexibilização, do Governo
do Distrito Federal, que permitiu a retomada das atividades artísticas, aos
poucos eles têm voltado a fazer shows em casas noturnas e apresentações nos
eventos corporativos e nas festas particulares.
Sete desses personagens da cena jazzística da
capital federal, em depoimento ao Correio, deixaram claro que, mesmo
enfrentando “perrengues” de toda ordem, principalmente durante a crise
pandêmica, levar música de qualidade para o público é algo que os enche de
satisfação, além de ser um ato de resistência.
Thiago Cunha, baterista do Passo Largo — “Estávamos
trabalhando bastante. Tínhamos iniciado, em nosso estúdio, o processo de
composição de novos temas para o quarto disco, que seria lançado, com uma série
de shows, em 2020. Aí, tivemos que parar tudo por conta da pandemia. Para nós,
o impacto não foi muito grande. Depois de uma pausa, voltamos à produção no
sistema home office. Com a flexibilização, juntos, retomamos as atividades ao
participar do projeto Cinema Urbana no Centro Cultural Banco do Brasil.
Compomos uma trilha para o filme Metrópoles, de Fritz Lang, que tocamos durante
a exibição. Depois disso já nos apresentamos em locais como o bar e restaurante
Primo Pobre (203 Norte), Galeria Mundo Vivo (413 Norte) e Clube do Choro (Eixo
Monumental). Em abril vamos participar de um festival de blues e jazz na
Chapada dos Veadeiros”.
Esdras Nogueira, saxofonista — “Desde quando
iniciei carreira solo, depois do fim do Móveis Coloniais Acajú, não parei de
trabalhar. Criei novos projetos, fiz gravações e toquei em shows. Um pouco
antes do advento da covid 19, participei da banda criada pelo André Gonzales
para o projeto Axé 90, que animou o carnaval do Outro Calaf. Ocupei o período
da quarentena fazendo gravações para trabalhos de outros artistas; e compus
tema para uma marca de cerveja no estúdio que mantenho em casa. Ativei o site
de gastronomia Como lá em casa, e passei a dar aulas on-line. Agora,
pós-flexibilização, no retorno da programação musical, tenho me apresentado em
algumas casas noturnas”.
Oswaldo Amorim, contrabaixista — “Havia feito um
show na Mundo Vivo Galeria e estava com muitos compromissos na agenda, quando
me deparei com a pandemia. Precisei me adaptar com o chamado ‘novo normal’ e
viver uma nova realidade. Investi no estúdio que mantenho em casa, com placas
de som e de áudio, mesa e caixas de som. Tive que aprender a usar os programas
de gravação e mixagem. Isso me deu condições de atender as demandas que foram
surgindo. Criei jingles para empresas, gravações de baixo para outros artistas,
inclusive ao vivo, e dei aulas de música on-line. Com o retorno das atividades
artísticas, voltei a tocar em lugares que têm espaços abertos. Criei para a
Shed, casa de show no Setor de Clubes Sul, ao lado do Cota Mil, com capacidade
para até 300 pessoas, o projeto de jazz e blues, intitulado Quartas do Vinho,
com a participação de convidados. No final deste mês, a atração será Mark
Lambert, guitarrista e cantor norte-americano, radicado em São Paulo, que foi
diretor musical da Astrud Gilberto por muitos anos.”
Rodrigo Bezerra, guitarrista e produtor — “Trabalho
com música já há algum tempo. Fui da primeira formação da banda da Ellen
Oléria, para quem produzi Cena, o primeiro disco dela. Vinha trabalhando
bastante antes da pandemia, fazendo shows e gravações. Com a pandemia, as
coisas ficaram muito difíceis para mim. Sei aulas on-line, fiz live e precisei
vender as duas Fernders e equipamentos de som para sobreviver. Voltei a tocar
presencialmente em novembro, no Brooklin, na 707 Norte, one venho me
apresentando aos sábados, às 20h; mas toco também em outras casas noturnas. Com
isso, pude mandar fazer outras duas guitarras”.
Pablo Fagundes, gaitista e produtor — “A pandemia
atrapalhou muito meus projetos. Tive que adiar a turnê que faria pela Europa e
África em 2020 e interromper as aulas de música no Lycée François Mitterrand,
na QI 23 do Lago Sul. Mantive o site Som lá em casa, com apresentações na minha
casa, no Jardim Botânico, mas no formato online. Fiz várias lives, também. Quando
as coisas foram voltando ao normal, voltei a dar aulas na Escola Brasileira de
Choro Raphael Rabello; e estive com o grupo Choro Livre em Dubai e no Kwait, em
novembro de 2021. Vou promover um festival na Chapada dos Veadeiros em abril e
em maio farei apresentações na Europa”.
Serge Frasunkiewicz, pianista e produtor — “Um dia
antes do decreto que proibiu atividades artísticas em Brasília, por causa do
que viria a ser uma longa crise pandêmica, eu estava me apresentando no Prêmio
JK, na Confederação Nacional de Transporte, e de tocar em casas noturnas e
outros eventos, acompanhando o Rogério Midlej. A partir dali, as coisas, na
área da música, deixaram de ocorrer. Parei de dar aula de piano e musicalização
para alunos de até 12 anos, no Affinity Arts, uma escola internacional de
propriedade da minha família, na QI 9 do Lago Sul; e de tocar em casas noturnas
e eventos corporativos. Durante a pandemia, o Midlej e eu fizemos serenata
embaixo dos blocos da da Sul e Asa Norte, contratados pelos condomínios. Atualmente,
também com o Midlej, estou tocando no no Marie Cousine, na 103 Sul; e no Med
Cousine, às quintas-feiras, no Pontão do Lago Sul.
Rogério Midlej, cantor e produtor— “A pandemia
causou um prejuízo enorme para a classe artística. Nós, da música, fomos muito
afetados pela falta de trabalho durante quase dois anos. Na longa quarentena
fiz muitas lives, serenatas embaixo de blocos e em frente a casas do Lago Sul.
Como também sou produtor, vi os convites para apresentação em eventos
corporativos se tornaram escassos. Foi um período muito difícil para cantores,
cantoras, instrumentistas e grupos. Alguns conseguiram resistir, outros
deixaram de contar com o básico para sobreviver. Voltei a cantar em outubro de
2021 em eventos particulares, como casamentos e em casas noturnas”.