“Conversei
com uma senhora que passou por uma cesárea a seco, sem analgesia, tamanha a
precariedade dos acampamentos nos tempos da construção” (Tânia Fontenele,
professora)
Esse brio é conhecido de perto pela professora Tânia Fontenele. Doutora
em História Cultural, Memórias e Identidades pelas universidades de Brasília
(UnB) e de Montreal (Canadá), ela é autora do livro Poeira e Batom no Planalto Central – 50 Mulheres na Construção de
Brasília, obra que deu origem ao documentário homônimo. “Tive
contato com histórias que emocionam pela sua força, narrativas que trazem um
lado muito mais humano da criação de Brasília”, conta. “Saem da monumentalidade
que envolve a construção de uma cidade”.
“Conversei
com uma senhora que passou por uma cesárea a seco, sem analgesia, tamanha a
precariedade dos acampamentos nos tempos da construção”, conta a pesquisadora.
“Minha própria mãe saiu do Rio de Janeiro, uma das cidades brasileiras mais
cosmopolitas em 1960, para dar aula de Geografia em uma Taguatinga
recém-criada”.
Tânia Fontenele pesquisa a história das mulheres que ajudaram a formar o
DF: “Tive contato com histórias que emocionam pela sua força, narrativas que
trazem um lado muito mais humano da criação de Brasília”
Enquanto
Israel Pinheiro comandava as obras de construção da capital federal, Dona
Coracy dedicava-se às demandas dos mais necessitados. Providenciava remédios,
atendimento médico e escolas para os candangos. Era acionada até quando
precisavam fazer enterros, já que ainda não havia cemitério na cidade.
Seu
trabalho social foi consolidado na Associação das Pioneiras Sociais, entidade
que fundou juntamente com Sarah Kubitschek. Dona Coracy morreu em 2013, aos 107
anos. Com Israel Pinheiro, teve nove filhos, 30 netos e dez bisnetos.
Tia Neiva: Neiva Zelaya, a Tia Neiva, criou a União Espiritualista Seta Branca, que deu origem ao Vale do Amanhecer
Sergipana
de Propriá, Neiva Chavez Zelaya fez de tudo. Foi costureira, fotógrafa,
agricultora e motorista de ônibus. Seu caminho cruzou com o de Brasília quando,
morando no município goiano de Jaraguá, comprou um caminhão e passou a
transportar materiais para construir o sonho de JK.
Dividia a
vida de caminhoneira com trabalhos sociais. Teve um abrigo para crianças no
Núcleo Bandeirante, dava comida a quem tinha fome e passou a ser conhecida como
Tia Neiva. Por conta de suas visões mediúnicas, criou a União Espiritualista
Seta Branca, embrião que deu origem à comunidade religiosa Vale do Amanhecer.
Mercedes Parada: A normalista goiana chegou ao Planalto Central em
1957. Mercedes Ribas Parada nunca tinha atuado como topógrafa na vida, mas,
orientada pelo marido, o engenheiro Joffre Mozart Parada, delimitou tamanho e
local de cada uma das 102 fazendas que deram origem ao Distrito Federal.
Apesar de
ter traçado o mapa original do DF, seu nome não aparece nos registros da
construção de Brasília. A casinha de onde transformava em planta cartográfica
os dados trazidos pelo marido está de pé até hoje, na Candangolândia.