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Conversa no Uber

Conversa no Uber


Em princípio, não tenho simpatia pelo Uber ou por qualquer modelo de negócio sem regulação ou controle. Não tenho dúvidas de que a desregulação leva a um estado de barbárie. É muito estranho, você pede o serviço e chega um carro sem qualquer identificação. Todos os meus amigos utilizam transporte por aplicativo, mas continuo com as minhas reservas.


No entanto, precisei usar os serviços do Uber e fui atendido por uma moça de sotaque nordestino. Eu gosto de conversar com motoristas, pois eles sempre trazem informações, observações ou histórias interessantes.


Para puxar conversa, perguntei à moça se ela gostava do ofício, e ela comentou: "trabalhava com RH, mas, com a crise econômica, perdi o emprego, peguei o carro, inscrevi no Uber e comecei a trabalhar. Tem muita gente desempregada. É o que está salvando a gente".


Você gosta de trabalhar de motorista? Gosto muito, sempre gostei muito de dirigir, não tenho preguiça. Transformei a habilidade em profissão. Gosto tanto que, alguma vezes, trabalho à noite.


Mas não é um pouco perigoso trabalhar à noite? Muito!


E vocês têm algum aplicativo para garantir a segurança? Temos.


Qual deles? É Deus! Mas temos um sistema de comunicação, e o GPS ajuda na localização.


Já viveu alguma situação de insegurança? Claro, várias. Em uma delas, uma moça pediu uma corrida para a Ceilândia. Mas, quando chegou próximo à cidade, ela me comunicou: 'Moça, eu disse que era para a Ceilândia porque fiquei com medo de que você recusasse a corrida se eu dissesse que o destino era Sol Nascente'. Perguntei qual era o endereço, e ela respondeu que não saberia dizer, seria preciso me guiar até chegar ao destino.


E conseguiu chegar lá? Rodei por muitas vielas e becos tortuosos. Até que cheguei a um lugar estranho. A sensação era a de estar em uma favela do Rio de Janeiro. As pessoas andavam armadas pelas ruas, em frente a casas onde rolavam funk. Nunca pensei que pudesse existir algo assim dentro de Brasília.


E como é que saiu de lá? Liguei para os colegas e um motorista que conhecia a região foi lá me ajudar a sair. Ele disse: 'Essa área é muito perigosa. Nunca mais aceite uma corrida para cá. Você teve sorte de não ter acontecido nada com você'. Felizmente, saímos sem nenhum problema e eu voltei em paz para casa.


Cheguei a meu destino e desejei boa sorte àquela trabalhadora. Só Deus mesmo para protegê-la. "Que Deus te proteja!". E ela respondeu: "Amém!



Severino Francisco – Correio Braziliense

 

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