Di Cavalcanti ganha
exposição histórica em Brasília
Protagonista Exposição
com 40 obras traz a Brasília um panorama da produção de um dos pintores mais
importantes do Brasil
Emiliano Di Cavalcanti foi figura chave na Semana
de Arte Moderna de 1922. Pouco se fala do artista quando se trata do evento
modernista, mas ele também teve um certo protagonismo. “Há anos falo do Di
Cavalcanti porque me incomoda que se fale tanto da Semana de 22 e não se fale
dele, sendo que foi um protagonista”, explica a curadora Denise Mattar,
responsável por reunir as 40 obras da exposição Di Cavalcanti — Protagonismo e
Permanência, em cartaz na Casa Albuquerque Galeria de Arte, no Lago Sul.
Foi em 1921, durante a exposição da série de
gravuras Fantoches da meia-noite, que Di falou, pela primeira vez, na
necessidade de fazer um evento para celebrar a arte moderna brasileira. “Quando
ele faz essa exposição na livraria O livro, ele e Graça Aranha conversam e ele
diz que precisavam fazer uma semana de acontecimentos modernos”, conta Denise.
“Começa então a surgir a ideia de se fazer a semana de 22. O Di faz contato com
Villa-Lobos, costura a conversa com Graça Aranha, que era ligado ao Paulo
Prado, que é quem paga a conta. Di faz o programa, o cartaz, ele realmente é um
personagem muito atuante na Semana de 22, mais do que fazem parecer. E quando
acaba, ele acha que a Semana não atingiu o nível que ele queria, acha que ficou
um evento muito social. E vai embora para Paris.”
Na capital francesa, o pintor atuava como
correspondente e se sustentava com o dinheiro ganho como jornalista.
Entrevistava e escrevia sobre artistas e pessoas do meio cultural. Quando
voltou ao Brasil, em 1925, passou a retratar o povo brasileiro. “Ele tem uma
frase maravilhosa em que diz que Paris colocou uma marca na inteligência nele
e, como civilizado, começou a conhecer a terra dele”, conta Denise. “Para mim,
do grupo todo da Semana de 1922, Di é o único dos artistas com uma produção
contínua e constante até a morte e cuja obra faz parte dos diversos momentos da
arte brasileira.”
Todos esses momentos encontram eco na exposição da
Casa Albuquerque, que tem obras produzidas entre os anos 1930 e 1970, década em
que o artista morreu. “Descobri que Di nunca teve uma exposição individual em
Brasília. Essas obras são todas de coleções particulares, mas são obras muito
importantes, muito significativas”, avisa Denise. Em exposição estão o grande
painel apresentado recentemente na mostra Di Cavalcanti, muralista, no
Instituto Tomie Ohtake, e quatro obras da retrospectiva realizada na Pinacoteca
de São Paulo em 2017, em comemoração aos 120 anos do nascimento do artista.
Há, também, uma parte da série Fantoches da meia-noite,
conjunto de gravuras nas quais retrata personagens da noite carioca com os
quais se deparou após alguns passeios com o escritor João do Rio. O conjunto de
16 gravuras foi editado por Monteiro Lobato em 1921. “São trabalhos incríveis
porque ele faz um uso do papel extraordinário, com figuras pequenas, com
sombras descomunais em tom meio amarelado. Não tem nada parecido com isso. É o
primeiro trabalho autoral dele”, avisa Denise.
Di Cavalcanti – Protagonismo e
Permanência - Curadoria: Denise Mattar. Visitação até 11 de junho, de
segunda a sexta, das 10h às 19h, e sábado, das 10h às 13h, na Casa Albuquerque
Galeria de Arte (SHIS QI 05 bl. C lj. 09 sobreloja CL). Visitas mediadas para
grupos de até 10 pessoas serão ofertadas às quintas-feiras, às 17 horas,
durante o período da exposição.
Nahima Maciel –
Fotos: Casa Albuquerque/Divulgação – Correio Braziliense