Análise: YouTube,
WhatsApp ou Facebook; onde está a desinformação? As redes sociais são
fundamentais para democratizar o acesso à informação, mas estão sujeitas a
serem utilizadas para disseminar teorias da conspiração. É o caso da tal cidade
perdida de Ratanabá, que nos leva a uma pergunta: "Quem quer acreditar
nisso?"
Há uma importante
mudança em andamento em relação ao consumo de notícias, via redes sociais, no
Brasil. Pela primeira vez, o YouTube se
tornou a principal forma de o brasileiro se informar nas plataformas digitais.
Dados do recém-divulgado Digital News Report, do Instituto Reuters, apontam que
o canal de vídeos do Google é o meio preferido para 43% dos
entrevistados como fonte de informação.
Na sequência, aparecem: WhatsApp (41%), Facebook (40%), Instagram (35%), Twitter (13%) e TikTok (12%) —
a soma dá mais de 100% porque o entrevistado pode citar mais de uma rede. Com
113 milhões de usuários brasileiros por mês, segundo números apresentados nesta
semana no Google for Brasil, evento realizado em São Paulo, o YouTube ganhou
espaço durante a pandemia do novo Coronavírus. Com as medidas de distanciamento
social adotadas, as lives se tornaram uma forma de entretenimento e de discussão
de problemas do nosso dia a dia.
Outro ponto que
contribuiu foi o aumento de canais segmentados. Praticamente todo o tipo de
assunto está lá. Basta pesquisar e encontrar o tema de interesse. E é
justamente esse ponto que merece uma atenção especial, principalmente no que
tange à disseminação de teorias da conspiração.
Quer um exemplo recente? A
tal cidade perdida no meio da Amazônia: Ratanabá. Nos
últimos dias, a suposta revelação da civilização antiga de tecnologia avançada
virou um dos assuntos mais comentados das redes sociais.
E um
dos principais canais de distribuição da Fake News amazônica foi o YouTube.
Vídeos sobre a suposta descoberta da cidade existente a 450 milhões de anos — a
ideia é tão maluca que, nessa
época, sequer existia a América do Sul — têm mais de 1 milhão de visualizações.
Assim esbarramos mais uma vez na discussão sobre até onde vai a liberdade de
expressão se ela é utilizada para espalhar desinformação. É uma linha muito
tênue, em que se corre o risco da censura prévia.
Sabemos que a
disseminação de notícias falsas não é um fenômeno novo. Sempre existiu, mas
ganhou força com o avanço da tecnologia, já que permite que sejam acessadas e
espalhadas em poucos minutos. O problema é sobre como atuar para evitar os
estragos delas. E a melhor forma, na minha opinião, é trabalhar a
contrainformação. Se estão falando da tal Ratanabá, é nosso dever mostrar os
motivos pelos quais não faz nenhum sentido algum a existência da tal cidade do
tempo paleozoico. Notícia boa não é a que você quer ler ou a que gosta, mas a
que está muito bem apurada e explica a realidade.
Roberto Fonseca –
Correio Braziliense