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Animais resgatados pelo Zoo de Brasília ganham direito a uma nova história

Respeito e cuidado merecidosDepois de anos de exploração, animais resgatados pelo Zoológico de Brasília ganham direito a uma nova história


Muito além do entretenimento do público, a Fundação Jardim Zoológico de Brasília (FJZB) trabalha para a conservação de espécies, principalmente as ameaçadas de extinção. Profissionais do Zoo, além de funcionários, são guardiões de diversos animais no tratamento, cuidado e carinho. Hoje, 70% das espécies que estão sob os cuidados da instituição foram resgatados e, apesar de muitos não correrem risco de extinção, são levados para serem mantidos com uma qualidade de vida melhor.


Supervisor de Manejo de Fauna do Zoológico de Brasília, Gabriel Campanati Vicentini, explica que um dos pilares do zoológico moderno é trabalhar com conservação de animais com o objetivo de se ter uma população saudável em cativeiro para que ela possa gerar descendentes que, no futuro, serão reintroduzidos na natureza. No zoo da capital não é diferente. “Se tem uma espécie em risco na natureza, e aqui você tem população de backup genético, isso vai auxiliar a repopular o que foram extintos localmente.


Temos alguns casos de espécies que foram introduzidas graças a programas de conservação em cativeiro, como o caso do mico-leão dourado”, exemplifica.


Nos últimos anos, o zoológico vem trabalhando para mudar a visão das pessoas de que os animais da instituição estão ali apenas para serem entretenimento. Campanati destaca que o foco do zoo é o bem-estar dos animais. “A gente não está mantendo os bichos presos só pro lazer, que realmente não é essa a intenção. Nosso objetivo é o bem-estar, é trabalhar para a conservação. O zoológico é uma coleção viva com a função de conservação”, reforça.


Resgates: Atualmente, um exemplo desse trabalho de resgate e conservação é o cervo-do-pantanal Dudu. O animal chegou no zoo há quase dois anos e foi encontrado em uma fazenda na cidade de Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso, com apenas dois meses. Dudu foi acolhido pelos moradores do local durante um tempo até que a dona da fazenda, que era zootecnista, entrou em contato com um especialista que fez a ponte para que ele fosse enviado ao Zoológico de Brasília.

Para o supervisor de manejo de fauna, o fato de Dudu ter crescido entre humanos reforçou a característica dócil nele. “Ele vivia solto lá”, conta. O filhote agora é tratado como um filho para Gabriel. A ligação entre os dois é perceptível e Dudu não esconde que gosta de um bom carinho. Atualmente, o animal faz parte do Programa de Conservação da Espécie que realiza a aproximação dele com a Anita — cervo-do-pantanal fêmea nascida em cativeiro — buscando assim a reprodução para o aumento no número de indivíduos da espécie. Um pouco mais arisca, Anitta não interage tanto com humanos e os tratadores ainda estão em processo de aproximação do futuro casal.


Um dos trabalhos em destaque feitos com o Dudu é o de condicionamento operante. No zoo, biólogos e veterinários ensinam comandos para facilitar o nosso manejo e realização de exames. “A gente dá um comando, por exemplo, para tirar sangue, aplicar injeção ou fazer a manutenção dos cascos. Hoje, não só com o Dudu, mas com outros animais, conseguimos realizar muitas coisas através de comando e recompensa”, explica Campanati.

Enquanto outros animais são atraídos por comida, a pequena Loki só quer carinho. A onça-parda foi encontrada em uma área próxima ao lago Corumbá IV, em agosto de 2018, e levada a um posto da Polícia Militar do DF em Samambaia. Recém-nascida, ela chegou no zoológico com um caso grave de pneumonia e precisou de tratamento intensivo, chegando a utilizar aparelhos de oxigênio para respirar. Depois de um intenso trabalho da equipe de veterinários e biólogos do zoo, que ficavam com a Loki 24 horas por dia, ela encontra-se totalmente recuperada.

Por não ter se socializado com as outras onças-pardas, Loki, assim como alguns outros animais, mora em uma ala separada da exposição, perto do hospital veterinário do zoo. Mas Gabriel garante que isso não é problema para a filhote. “Para elas, a questão de ficar sozinha não faz mal, porque felinos, de forma geral, são solitários na natureza, não dependem do convívio social pro bem-estar deles. Então, ela tendo um recinto bem ambientado com bastante vegetação para gastar energia, está ótimo. E aqui, por não ter visitação, a gente deixa o mato crescer à vontade, o que é melhor para o bicho.”


Mesmo assim, ela é dócil, se esfrega na grade pedindo carinho e gosta de brincar. Mas o especialista alerta que essa é uma característica da Loki e que não se deve acariciar animais selvagens.

Circo: Na megafauna do zoo, animais chegaram a ser resgatados depois de trabalhar por anos em circos Brasil à fora. Em 2008, o rinoceronte-branco Thor, o elefante-africano Chocolate e o hipopótamo Iuly chegaram ao espaço, após sanção de uma lei que proíbe animais nesses estabelecimentos. Eles foram apreendidos de um circo itinerante e entregues para os cuidados no Zoológico de Brasília, para que, enfim, pudessem receber amor, carinho e serem tratados da forma como mereciam.

Os animais precisaram de atenção especial da equipe de biólogos, médicos veterinários e cuidadores do Zoológico de Brasília para minimizar traumas e cicatrizes que carregaram pelos anos de trabalho no circo. Debilitados, eles precisavam de cuidados redobrados não só com a questão clínica, mas comportamental também.


No geral, animais que vêm dessas condições costumam ter algumas características comportamentais específicas e possivelmente irreversíveis, como agressividade e medo. Com o Chocolate, a equipe trabalhou muito com enriquecimento cognitivo para aproveitar a esperteza dele. Com a Iully, a equipe trabalha com picolés de frutas e de sal em dias quentes, além de caules de bananeira na água. E com o Thor, são feitos muitos estímulos sensoriais, como trilhas de cheiro e camas de feno e de areia. Esses trabalhos ajudam a ocupá-los com atividades diferentes e ao mesmo tempo estimulam o aprendizado com experiências novas.


Por terem chegado depois e criados de forma questionável, o Chocolate e a Iully não se socializaram com os animais da mesma espécie, por esse motivo, ficam em um recinto separado. Mas recebem amor e carinho na mesma proporção.



Renata Nagashima -Foto: Marcelo Ferreira/CB – Correio Braziliense


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