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Entrevista: Gilcilene Chaer - Conselheira Federal de Farmácia » Riscos ao descartar remédios

Riscos ao descartar remédios. Especialista alerta para as consequências da destinação inadequada de fármacos e comenta sobre os perigos da automedicação


Com um consumo cada vez maior de remédios no país, especialmente como consequência da pandemia da covid-19, o “apagão” de medicamentos e o posterior descarte inadequado deles se tornaram problemas que exigem cada vez mais atenção. Em entrevista à jornalista Carmen Souza, ontem, a conselheira federal de Farmácia pelo Distrito Federal Gilcilene Chaer comentou os dois cenários e orientou quanto à forma apropriada de se desfazer desses itens. “Caso tenha insumos vencidos ou sem uso em casa, (a população) pode levá-los à farmácia, que dará a destinação correta”, destacou. Ao programa CB.Saúde — parceria do Correio com a TV Brasília —, a especialista também abordou os riscos da automedicação. 


Um levantamento do Conselho Federal de Farmácia aponta que sete em cada 10 brasileiros têm hábito de se automedicar. Quais os riscos desse comportamento? Os riscos são diversos. Para se ter uma ideia, o Sistema Único de Saúde gasta R$ 60 bilhões por ano para tratar problemas relacionados ao mau uso de medicamentos e, consequentemente, à automedicação. Precisamos conscientizar as pessoas de que os remédios prescritos para elas têm um efeito diferente para outros. E você, automedicando-se, pode mascarar um problema de saúde maior. Se você tem uma dor de cabeça frequente, toma um remédio e melhora, não procura assistência médica. O indivíduo pode estar mascarando outro perigo. Além de (do risco de ter) uma intoxicação.


Quais os medicamentos mais frequentes nesses casos? Temos os mais recorrentes. O paracetamol é um medicamento isento de prescrição médica, mas pode causar riscos. Se usá-lo e tiver algum problema hepático, terá um problema sério de saúde. A Aspirina (ácido acetilsalicílico) é um antiagregante plaquetário. Todos os anos, quando vivemos uma epidemia de dengue (clássica) e hemorrágica, (esse remédio) pode agravar o problema em quadros de hemorragia, porque pode causar sangramentos. A Aspirina também é isenta de prescrição. Os antiácidos mascaram casos estomacais, como gastrite. São vários medicamentos que têm prescrição livre, mas causam riscos. Por isso é tão importante a conscientização da população para não fazer uso (deles sem receita).


E quais os cuidados básicos no descarte de medicamentos? Temos uma lei no Distrito Federal que diz o seguinte: todas as farmácias são responsáveis pela captação desses medicamentos. Caso tenha insumos vencidos ou sem uso em casa, (a população) pode levá-los à farmácia, que dará a destinação correta aos itens. Não só nas drogarias, mas nas unidades básicas de saúde (UBSs). São postos aonde se levam os remédios e deixam para o descarte adequado. Não é recomendável jogar o medicamento no vaso sanitário, porque contamina o solo, a água. As pessoas têm de ficar mais atentas. E, também, no (que tange ao) armazenamento. O público que mais se intoxica com remédios são as crianças. Às vezes, você não os guarda no local correto, mas próximo à criança, e ela pega. É muito importante guardar o material no lugar certo. Se ele vencer, leve para a farmácia ou UBS, para ser dada a destinação certa.


Um problema que tem preocupado é o apagão de medicamentos no Brasil. O que está acontecendo? Uma série de fatores tem influenciado para esse desabastecimento, tanto nas prateleiras de farmácia quanto nos hospitais. São medicamentos muito usados e que trazem benefícios enormes para a saúde da população. O que mais provocou esse desabastecimento foi a crise da covid-19. Infelizmente, o Brasil só produz 5% dos insumos farmacêuticos usados nos medicamentos. Temos uma dependência enorme do mercado exterior. Por exemplo, a maioria dos fármacos vêm da China. Por causa da pandemia e do fechamento de empresas, aumentou bastante o preço desses insumos farmacêuticos. Também tivemos uma falta de produção lá, o que acabou impactando aqui. Tudo isso foi o “start” do problema que vivemos. Além disso, a guerra entre Rússia e Ucrânia problematizou a questão da logística. O transporte de medicamentos, que tinha valor xis, hoje, está 300% mais caro, impactando para trazer os insumos e para que essas medicações sejam produzidas aqui no Brasil. (Vídeo ~~~)

A recomendação para o cidadão diante desse desabastecimento é procurar um profissional de saúde? O farmacêutico pode ajudar nesse processo? Pode ajudar, mas ele não é o prescritor. Se você tem um diagnóstico e uma prescrição, deve voltar ao médico, e o farmacêutico pode te orientar a isso, para alterar a medicação. Ele pode listar os remédios que podem ser substituídos, e o médico fará a mudança necessária. Os antibióticos, por exemplo, estão em falta. Às vezes, se há um antibiótico ideal para tratar determinada patologia, pode-se trocar por outro na prateleira. Além disso, vivemos um clima mais frio, seco, com muitas (notificações de) infecções respiratórias. Tudo isso agravou esse problema da falta de medicamentos. As pessoas têm hábito de comprar vários remédios, o que também levou a esse desabastecimento, além de outros fatores.


Eduardo Fernandes – Foto: Ed Alves – Correio Braziliense


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