Cientistas políticos e outros entendidos no
intrincado mundo das eleições sabem muito bem que as pesquisas de opinião, por
conter um conjunto ordenado de informações, possuem um papel importante sobre a
decisão do eleitor na hora do voto. Essa observação vale tanto para o chamado
voto útil, quando o cidadão escolhe aquele postulante que aparece nas pesquisas
com maior chance de vencer, quanto para aqueles eleitores que usam o voto para
vedar as chances daqueles candidatos que eles desejam que perca o sufrágio. Ou
seja, as pesquisas de opinião fornecem ao cidadão dados que ele usará para
decidir seu voto, quer ele perceba ou não essa influência.
Para os candidatos e para os órgãos de imprensa, o
material fornecido por esses institutos de pesquisa é base principal para uma
infinidade de análises e informações que passam a ser veiculadas diariamente.
Fossem apenas esses os objetivos dos institutos de opinião, estaríamos diante
de um mundo ideal. Ocorre que os institutos, como empresas que são, e sobretudo
seus proprietários, trabalham, também, em pesquisas encomendas diretamente por
aqueles que desejam ver e difundir números favoráveis a seus escolhidos, como
para encontrar dados que mostram as poucas chances dos adversários.
Nesse quesito, é possível afirmar que existem
institutos sérios e outros nem tanto. Basta ver o que diziam nas eleições
passadas. Para aqueles que não são candidatos e que representam a grande
maioria dos que consomem essas análises, pesquisas maldosamente orientadas e
divulgadas para o público, acabam exercendo um papel nefasto para a própria
democracia.
Ao insuflar números de determinado candidato e
desidratar outros, alguns institutos de pesquisa induzem mal os eleitores e
prejudicam o próprio pleito, transformando as eleições num redemoinho de
números díspares. Enquanto um instituto apresenta um candidato na dianteira
para determinado cargo, outra empresa de pesquisa apresenta números totalmente
contrários. Essa disparidade de números, obviamente, concorre para o descrédito
de muitos institutos de pesquisa, sendo que, terminada as eleições, muitas
dessas empresas simplesmente desaparecem na poeira. Numa democracia, os
institutos de pesquisa possuem relevância na medida em que trabalham seguindo
os parâmetros científicos de análise comparativa de números apresentados dentro
da cartilha da Estatística. Somente institutos que prezam pelo rigor científico
conseguem credibilidade e respeito do mercado, dos clientes e dos eleitores.
Dos mais de 120 institutos que desde 2018 vem realizando pesquisas locais e no
âmbito nacional, apenas uma dúzia delas se mantêm com relativa estabilidade no
mercado. Outras, de tanto errar nos números e nas estatísticas, desaparecem ou
mudam o nome de fantasia comercial para sobreviver.
A Justiça Eleitoral jura que controla com rigor
essas pesquisas, fazendo uma série de exigências, como recortes por regiões,
por sexo, escolaridade e outros dados obrigatórios. Para aqueles brasileiros
que não consomem esses dados, as pesquisas são feitas de forma popular nas
filas de ônibus, da padaria, das farmácias, feiras, nos táxis e nas ruas, sendo
que cada um procura conhecer a opinião do próximo sobre determinado candidato e
suas propostas, para depois decidir seu voto. A questão aqui é saber até que
ponto os brasileiros confiam nas análises e nas pesquisas de opinião.
Levantamento recente mostra que os brasileiros estão divididos nesse assunto. O bombardeamento de números durante as eleições divulgados diariamente pelos institutos de pesquisa, mostrando a posição dos candidatos a cada momento, acaba exercendo influência sobre o eleitor que vê essa disputa acirrada como uma verdadeira corrida de cavalos, com chances ora para um jóquei, ora para outro. No geral o que se nota é uma falta de conhecimento do eleitor sobre o sistema político e isso também conta na hora de votar. Num país tão diverso como o nosso, muitas vezes a decisão do eleitor é tomada no último segundo, ainda na fila de votação, quando o cidadão passa a escutar todo o tipo de história e toma aquela mensagem que lhe chega ao ouvido como decisiva e assim decide, em cima do laço, em quem votar, ou em quem não.