Durante o período de construção, Brasília despertou
enorme interesse internacional pela audácia do presidente Juscelino Kubitschek
erguer uma cidade modernista em cima do descampado e na vegetação inóspita do
cerrado. Altos mandatários de vários países aterrissavam em meio a nuvens de
poeira e à arquitetura espectral de Niemeyer, que parecia saltar diretamente
das narrativas de ficção científica em quadrinhos de Flash Gordon.
Em 1958, com a presença do presidente da Itália,
Giovanni Gronchi, JK descerrou a placa de entrega do terreno de 25 mil metros
quadrados para a futura sede da embaixada, desenhada pelo engenheiro e
arquiteto Pier Luigi Nervi. Na ocasião, Giovanni Gronchi declarou que Brasília
era "uma obra digna dos romanos". A utopia marcava o tempo, na
verdade, o prédio só seria erguido em 1972.
Mas, de qualquer maneira, o terreno da Itália se tornou uma referência. Cada presidente ou ministro que visitava Brasília era convidado para uma cerimônia de lançamento da pedra fundamental, com a doação de lote para a construção da sede da embaixada do país visitante. Certo dia, numa das festas, JK desconfiou que talvez conhecesse o local e interpelou o doutor Vasco Viana de Andrade, engenheiro chefe do Departamento de Viação e Obras, conterrâneo mineiro.
O presidente manifestou a suspeita de que todas as
cerimônias eram realizadas no mesmo terreno da Embaixada da Itália, e Vasco
Viana confessou o pequeno delito. Sim, JK tinha razão. Mas Vasco argumentou que
nenhum dos países aquinhoado com os lotes construiria as sedes naquele momento.
Não valeria a pena abrir uma clareira no cerrado. "É cômodo, ninguém vai
se lembrar do que viu". Juscelino era muito bem-humorado, sem aprovar,
riu.
A história do Correio Braziliense se confunde com a história de Brasília. E a aventura da criação da Embaixada da Itália é um dos capítulos valiosos dessa saga. Parte dela integra a exposição e o livro que contam a história da embaixada da Itália, desde a criação no Rio de Janeiro, em 1919, até os dias atuais, em Brasília.
Em dezembro de 1960, chegaria a Brasília, a Loba
Capitolina, instalada em frente ao Palácio do Buriti, em uma homenagem da
cidade de Roma a Brasília para comemorar a data comum de fundação, 21 de abril.
Essa história é contada por meio de 22 painéis, com
61 fotografias, dispostas em cavaletes de cristal projetados pela
ítalo-brasileira Lina Bo Bardi. A sede da Embaixada da Itália tem a assinatura
de Antonio Nervi, um dos mais importantes engenheiros italianos do pós-guerra.
Ele concebeu o desenho do prédio imponente, sob a
inspiração das árvores amazônicas, que se erguem sobre um espelho d'água.
"Trabalhar em Brasília é fascinante; e é estimulante pensar em poder
projetar edifícios somente aqui realizáveis, seja pela vastidão dos espaços,
seja por efeitos arquitetônicos", afirmou Marcello Piacente, arquiteto
responsável pela execução do projeto de Pier Luigi Nervi.
Mas o que está em jogo na exposição não é só uma
história da arquitetura; é a história da missão diplomática e da interação
cultural com Brasília. A interação entre o Brasil e a Itália é muito rica e
está impregnada na integração de arte e arquitetura em Brasília, com as
intervenções de Alfredo Volpi, Alfredo Cheschiatti e Bruno Giorgi.
PS: A exposição Embaixada da Itália em Brasília —
Um percurso fotográfico do Rio de Janeiro ao Planalto Central está em cartaz,
até 18 de setembro, de segunda a sexta, das 16h às 19h, e sábado, domingos e
feriados, das 10h às 16h, na Embaixada da Itália em Brasília — SES Quadra 807,
Lote 30, Setor de Embaixadas Sul, Asa Sul.