Mais do que cabo-eleitoral do
marido, Michelle Bolsonaro foi de Damares Alves. Dedicou-se de forma visceral à
candidatura da amiga ao Senado no DF. Foi articuladora e estrategista. Flávia
Arruda começou a perder o favoritismo quando entrou em rota de colisão com a
primeira-dama do país. Michelle quis o embate para mostrar que, no casal
Bolsonaro, ela tinha também poder de fogo. Puxou votos para Damares tanto no
Plano Piloto como nas outras regiões.
Damares, um nome desconhecido na
história política local, derrotou a tradição e, até então, a força do sobrenome
Arruda na capital federal. Apesar de Flávia fazer campanha como bolsonarista de
carteirinha, Michelle a rebatia, dizendo que o voto do marido não era de
Flávia, mas de Damares.
Foi devastador para a campanha de
Flávia uma outra ministra do governo Bolsonaro ser lançada, de última hora,
candidata ao Senado e com o apoio da primeira-dama. Ela teve a imagem
desgastada mais pelos próprios colegas bolsonaristas, do que pelos adversários
de esquerda.
Votos de Ibaneis: Muitos do
grupo político do governador Ibaneis também votaram em Damares. Flávia foi
prejudicada pelo fato de o marido ter ensaiado um embate com Ibaneis ao ter se
lançado candidato ao GDF. Recuou, mas deixou o rastro da desconfiança no grupo.
Flávia teria se ressentido disso. Nesta, o marido acabou atrapalhando o meio de
campo dela.
Foi uma briga de titãs. Duas
mulheres, duas ex-ministras de Bolsonaro. Mas a apadrinhada de Michelle levou a
melhor e com folga. Venceu em todas as seções eleitorais. Também teve o apoio
declarado da primeira-dama do DF, Mayara Noronha. Outro fator foi a conquista
dos votos do segmento evangélico. Durante a campanha , José Roberto Arruda chegou
a mencionar a adversária de sua mulher como “uma seita”.
Já Damares disparou que o “povo de
Brasília não queria ‘o rouba mas faz’, nem as velhas famílias da política”. A
representante do Republicanos diz que derrotou a velha direita.
Até uma semana atrás, Flávia ainda
liderava nas pesquisas. Mas já se sentia nas ruas e nos salões da Corte a
ascensão de Damares, que só foi registrada oficialmente em percentuais às
vésperas da eleição.
José Roberto Arruda ainda terá
para contar que poderia ter sido o deputado federal mais votado do DF se o TSE
não o tivesse barrado. Flávia, que tinha sido coroada como a deputada mais
votada da capital em 2018, fica agora com o sentimento de abandono. Ela sabe
que muitos eleitores e eleitoras que a abraçaram no início da campanha, no
momento secreto da urna, digitaram outro número.
Fênix: Assim, Damares, a então desconhecida dos eleitores brasilienses, embalada nos braços de Michelle, deu um olé no experiente casal Arruda.No entanto, sabemos da capacidade de reinvenção de Arruda. E que não se pode menosprezar seu legado. Se o primeiro turno liquidou a fatura para o Senado e para o GDF, próximos capítulos ainda podem ter Flávia em ascensão com algum cargo no Executivo como uma Fênix.