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Batismo no Paranoá: o dia que eu entrei na paisagem

Batismo no Paranoá: o dia que eu entrei na paisagem. "Vento forte, muita onda, céu maravilhoso e o relato dos colegas de canoa de que era um dos dias mais tensos ali para remar. Mas, desde que retornei do Caminho de Santiago, meu corpo pede desafios"

O Lago Paranoá, para mim, sempre foi história. Em parte, memória fotográfica, de tanto ver nas páginas do jornal, nas telas das TVs, no Instagram e, mesmo, meio ao longe pelos passeios de carro, nos clubes, restaurantes. Meio cartão-postal, por assim dizer.


Nosso saudoso Ari Cunha gostava de dizer, quando saía da redação e descia pela rodoviária até a L2, que faria o caminho das águas. Em 1958, quando o cearense aportou por aqui, deram-lhe um jipe. Era assim que ele atravessava a superfície, mais tarde coberta pelas águas do Paranoá, desviadas do curso de três rios da região.


Tinha e tenho pelo lago o amor das vistas, aquele feito de paisagem. Vez por outra, algo me dizia para explorar essas águas. Mas batia um certo temor. Em 35 anos, nunca mergulhei no Paranoá, sequer naveguei de lancha, prancha, stand-up paddle ou qualquer coisa que se assemelhe a um contato mais próximo.


Meu ‘nunca’ acabou ontem. Sibele Negromonte, minha colega de jornal, tem ventilado os benefícios do remo e...( me convenceu a acompanhá-la em uma aula.) Nordestina do litoral como eu, também pernambucana, ela sabe a força das águas para acalmar nossa mente tão acelerada. Mal sabia daquele meu medo escondido, que voluntariamente me mantinha sempre em margens seguras.


Desta vez, fui. Vento forte, muita onda, céu maravilhoso e o relato dos colegas de canoa de que era um dos dias mais tensos ali para remar. Mas, desde que retornei do Caminho de Santiago, meu corpo pede desafios. Sentir sol, vento, perna e braço cansados, apesar de contraditório, é extremamente reconfortante pra mim.


Sabe o beliscão para termos certeza de que não estamos sonhando? Pois é. Acordar o corpo com novidade é também ter a certeza de que a vida é de verdade, concreta, palpável e feita de momentos. O corpo é parte integrante das práticas de meditação e todo desconforto, é preciso entender, em algum momento passa.


Não é que vou agora atravessar o lago a nado, mas fico feliz de ter me distanciado da beira. Entrar na paisagem, passar do portal, essas coisas que atravessamos... Estar lá foi mais uma daquelas surpresas bonitas que a gente encontra quando decide pelo passo à frente. Graças à Sibele, a quem agradeço. Tenha amigos que te puxam para viver bons momentos.


Ana Dubeux – Foto:  Ed Alves/CB – Correio Braziliense




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