Depois dos brasileiros
irem às urnas neste domingo (30/10), o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
foi eleito o novo presidente da República. Depois de 11 anos, Lula volta a
ocupar o cargo de chefe do Executivo, dessa vez acompanhado de sua mais nova
esposa, Rosângela da Silva, a Janja. Destaque
na campanha eleitoral do marido, a socióloga despertou o interesse do
público, que, agora, procura saber qual será o lugar de Janja na nova era do
governo petista.
Pela primeira vez na história política do Brasil, esposas dos candidatos que protagonizaram essas eleições saíram dos bastidores — onde, historicamente, as mulheres comumente apareciam ao lado dos maridos em eventos oficiais e assumiam tarefas domésticas e sociais —, para conduzir as campanhas eleitorais, ocupando palanques e à frente de mobilizações sociais. No caso da trajetória de Lula na corrida eleitoral deste ano, Janja desempenhou papel fundamental, atraindo artistas e personalidades para angariar votos a favor do petista.
O que esperar de
Janja, segundo especialistas: A atuação política de Rosângela da Silva
durante as eleições foi uma amostra do poder de articulação e proximidade com o
público jovem e feminino que a primeira-dama possui. Para os próximos quatro
anos, Janja já assumiu que não pretende se afastar das pautas que acredita e
tem a intenção de fazer diferente de outras primeiras-damas, mudando a forma
como a posição é vista.
De acordo com o
cientista político Rodrigo Augusto Prando, da Universidade Presbiteriana
Mackenzie, é esperado que, a partir de janeiro de 2023, quando será a posse de
Lula, a nova primeira-dama tenha voz ativa no debate político. “Pelo perfil da
Janja a gente entende que ela, provavelmente, terá voz, assim como teve durante
a campanha. Isso fica muito claro”, afirmou Prando.
Para o especialista,
com base na formação acadêmica e experiência profissional de Janja, ela
apresenta requisitos importantes que a fazem ser uma figura com muito potencial
político e que terá espaço dentro do novo governo. “Ela reúne algumas
qualidades interessantes. Tem formação em ciências sociais, que dá uma
compreensão melhor das questões sociais e políticas e tem também experiência
como uma pessoa que trabalha em gestão de temas ligados à sustentabilidade. Por
essa formação mais sólida nas ciências sociais, somada à sustentabilidade,
acredito que ela pode transitar por essas temáticas que são temáticas muito
contemporâneas”, avalia o cientista político
Janja se autodeclara
feminista e, conforme demonstrou desde que surgiu no centro da campanha
presidencial petista, não dará chance para que o machismo atribuído ao cargo de
primeira-dama apague sua força política. “Temos uma sociedade muito machista e
patriarcal e as mulheres vão aos poucos ganhando espaço. E ela vai ganhando
espaço naturalmente por conta da sua formação e pela credibilidade e relevância
que tem como profissional”, disse Prando.
O PT tem um histórico
de se aproximar da população mais pobre, de estar inserido nas comunidades e
ouvir e dialogar com o povo, mas, ao longo dos anos, alguns intelectuais
avaliam que o partido se distanciou dessa base e perfil populista. Com Janja
atuando ao lado do presidente eleito, essa característica do petismo tende a
ser recuperada, até pela aproximação da esposa de Lula com as redes sociais.
“Ela pode estabelecer conexão do PT do poder com o PT da militância, o PT das
lutas sociais. Essa reconexão com a base do partido pode significar uma boa e
nova etapa”, projetou o cientista político Rodrigo Prando.
Atuação da
primeira-dama durante a campanha: Rosângela da Silva é “petista de
carteirinha”, como ela mesma assume. Na campanha eleitoral deste ano, não se
contentou em ficar “por trás das câmeras” e vestiu a camisa em prol da eleição
de Lula. Janja subiu em palanques, falou diretamente a mulheres e jovens, abriu
o perfil nas redes sociais — que era trancado — para mostrar a rotina com o
amado e a batalha em busca de votos, gravou jingle de campanha e atraiu famosos
para a rede de apoio do candidato do Partido dos Trabalhadores (PT).
Como uma boa feminista,
Janja centralizou sua voz para falar principalmente com mulheres, buscando
atrair o voto feminino e levar essas eleitoras para o centro do debate
político. Apesar de ter resistência para sair do lado de Lula, por zelar pelo
bem-estar e saúde do futuro presidente, e assumir sozinha compromissos na
agenda eleitoral, a primeira-dama chegou a viajar com apoiadores, sem a
presença do marido, e ser peça chave em comícios, como no ato na favela de
Heliópolis, em São Paulo, em agosto.
Janja também é
responsável por alguns dos maiores feitos da campanha de Lula. Ela, com sua
capacidade persuasiva e um networking de tirar o chapéu, conseguiu mobilizar
cantores, atores, influenciadores e personalidades importantes da Globo para
fazer parte da tropa petista. Uma das primeiras artistas a se manifestar
publicamente e declarar voto em Lula foi a cantora Anitta e a pessoa
responsável por fazer a ponte e conseguir o apoio foi a primeira-dama. Esse é
considerado um dos movimentos mais inteligentes da campanha presidencial.
Com toda a mobilização
na internet, Janja foi responsável por aproximar Lula das redes sociais e de
influenciadores populares entre o público jovem, o que contribuiu para afastar
a imagem de ex-presidente antiquado e colocou o petista no imaginário social
como uma pessoa antenada nas tendências. Além disso, a primeira-dama também
esteve presente no comitê da campanha e participou de importantes reuniões.
Em certos momentos, a
mulher de Lula chegou a desempenhar um papel de administradora, escalando
participantes de reuniões, decidindo quem iria acompanhar o marido em viagem e
delegando funções a colaboradores da campanha. Dentre todas as ideias
executadas pela socióloga está a “super live”, com participação de influencers
— a quem convidou pessoalmente —, na última semana antes do primeiro turno.
Ao mesmo tempo, não deixou de dar atenção ao marido e, em todo momento, buscou cuidar de Lula, sempre com uma garrafa de água para oferecer a ele e encerrando reuniões políticas para não sobrecarregar o amado.
Na
época Lula estava viúvo há 10 meses de Marisa Letícia, falecida em fevereiro de
2017, e na iminência de ser preso no âmbito da Operação Lava Jato. Os dois
mantiveram contato, mas o romance só começou e foi oficializado em 2019, quando
o petista já estava preso.
Em maio de 2019, o
economista Luiz Carlos Bresser-Pereira visitou Lula na prisão e, ao sair,
revelou que o ex-presidente estava “apaixonado e seu primeiro projeto ao sair
da prisão é se casar”. A declaração fez surgir as especulações sobre a então
namorada do petista e, em novembro de 2019, quando Lula foi solto, Janja estava
esperando na saída do presídio em Curitiba junto com familiares e líderes do PT
e, pela primeira vez, os dois se beijaram em público, em frente a uma multidão.
"Eu quero
apresentar para vocês uma pessoa de quem eu já falei, mas que nem todos vocês
conheciam. Eu quero apresentar a minha futura companheira", disse Lula no
momento, emocionado. Posteriormente, em meio a declarações de campanha, o
vencedor das eleições deste ano chegou a revelar alguns detalhes do
relacionamento com a socióloga e afirmou que se apaixonou por ela quando estava
preso e recebia cartas e mimos de Janja.
A primeira-dama
manteve diálogo com o amado durante o mais de um ano em que ele esteve preso,
por meio de cartas. Ela também visitava Lula com frequência, preparava
refeições e chegou a se oferecer para lavar as roupas do ex-mandatário. Ela
morava em Curitiba e sempre levava uma comidinha para mim toda a noite. Não
deixava eu mandar minha roupa para lavar fora, queria lavar na casa dela.
Quando eu saí, pensei: 'não tem outro jeito, vou casar'”, contou o presidente
eleito em entrevista ao podcast PodPah.
Desde o casamento,
Janja ganhou notoriedade dentro e fora do comitê eleitoral do petista e é
conhecida por pessoas que convivem com ela como uma mulher com brilho próprio,
de conteúdo, com personalidade forte e amorosa. As inúmeras qualidades ganharam
o coração de Lula, que, aos 76 anos, diz estar apaixonado “como se tivesse 20
anos de idade”.
O amor é recíproco e
as declarações públicas do presidente não ficam sem resposta. Janja não hesita
em demonstrar a paixão que sente por Lula, para quem sempre tem beijos e
carinhos prontos. "Adoro falar 'meu marido'", assumiu a
primeira-dama. “Eu aprendi que quando você perde a tua mulher e você pensa que
a vida não tem mais sentido, quando você pensa que tudo acabou, aparece uma
pessoa que começa a dar sentido à vida outra vez”, afirmou Lula à revista
americana Time, se referindo ao fato de ter encontrado Janja depois
de ficar viúvo duas vezes: de seu primeiro casamento com Maria de Lourdes da
Silva e do segundo casamento com Marisa Letícia.
Quem é Janja e qual sua trajetória: Rosângela Lula da Silva, 56 anos, é socióloga formada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), com especialização em História e MBA em gestão social e sustentabilidade. Nasceu em 27 de agosto de 1966 em União da Vitória, no Paraná, mas se mudou para Curitiba logo após ter nascido, com apenas dez dias de vida.
Na vida profissional
Janja tem um currículo extenso que vai de professora universitária a
funcionária de estatais. Ingressou no curso de ciências sociais em 1990 e em
1995, já formada, atuou como docente colaboradora do Departamento de Serviço
Social da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).
Mais tarde, trabalhou
na Usina Hidrelétrica de Itaipu, onde foi foi assistente do diretor-geral e
coordenadora de programas voltados ao desenvolvimento sustentável na
hidrelétrica, até 2012. Um desses programas era chamado de Energia Solidária e
buscava melhorar as condições de moradia dos barrageiros que ocupavam a base da
pirâmide profissional.
Depois de sua passagem
pela hidrelétrica, Janja trabalhou como assessora de comunicação e relações
institucionais na Eletrobras, onde permaneceu de 2012 a 2016. Assim que deixou
a Eletrobras, a socióloga voltou a integrar o quadro de servidores da Itaipu
por mais cinco anos. Em 2020 deixou a hidrelétrica e se aposentou.
Apaixonada pelo
Partidos dos Trabalhadores, Janja é filiada ao PT desde 1983, quando tinha 17
anos












