Sob o noticiário, as pequenas batalhas cotidianas seguem alheias
testando a resiliência dos comuns, como eu. Nortista, radicada em Brasília, mãe
de dois seres humanos extraordinários. Pela discrepância da idade, eles
monopolizam minhas aventuras. No último fim de semana, lá estava eu, em meu
desafio particular: a maternidade. O plano era simples, aproveitar o sábado de
sol no parque de diversões.
Saímos de casa cedo. Armada com
roupa extra de calor, roupa de frio, meia, repelente, bloqueador, água,
fraldas, lenço. Primeiro obstáculo, fila de ingressos, maior do que o habitual.
Minha mais velha se emburra, o mais novo se agita com calor. Descobrimos que,
naquele dia, havia um evento, com centenas de pessoas de uma empresa. Penso em
dar meia volta, mas como cria da geração Y, que vive eternamente em busca da
rendição, me resigno. Tento ser positiva. E vamos lá, 20 minutos de fila para
comprar os ingressos. Depois, fila para reservar um armário.
Ok, respira. Vai dar certo. Está
horrível para você, não precisa ser para os pequenos. Uma média de 15, 20
minutos em cada fila para os brinquedos. Eles têm 10 e 2 anos. Tento conciliar.
Optamos pelo carrossel, terreno neutro, os dois vão curtir.
Entro no brinquedo com eles, vejo
dois cavalos próximos, corro com o bebê para não perder os lugares para os
dois, escuto uma voz dizendo um “ali!” Na sequência vem: “nossa, a educação
mandou lembranças”. Percebo que é comigo. Adoraria dizer que fui racional,
superior e ignorei. Acontece, meus leitores, que eu era uma mãe cansada,
naquele ponto, era guerra. Só quem sabe o desafio que é sair de casa com
crianças entende o lugar onde eu estava. Carregando há duas horas 15 quilos
(leia-se, meu filho), suando, sem conseguir comprar um copo d’água, me
consolando com cinco minutos de voltas em qualquer coisa que rodasse e
brilhasse e vendo os dois sorrirem, naquele momento, era selva.
Abri o peito e disse: “eu já
estava a caminho quando você falou”. Ele retrucou dizendo que eu ouvi e saí
correndo para impedir que a esposa dele tivesse acesso ao maldito cavalinho.
Sem pensar, simplesmente saiu: “Ah, sim, o deus grego quer algo e o mundo tem
que parar não é mesmo? Não, eu não vi e não tenho que sair porque você quer”.
Ele não esperava que eu reagisse.
Ensaiou um: “Ah, espero que se divirta”. Eu aumentei o tom: “sim, já estou”.
Olhei para a esposa dele, olhos baixos, jovem, constrangida. Seguimos, rodamos
e, depois desse episódio, fiz questão de entrar em todas as filas, segurar
todos os esperneios do bebê e sim, meus caros, eles brincaram. E, como numa
guerra, encontrei solidariedade. Gente, que reservou meu lugar quando eu via um
brinquedo vazio e saía correndo feito doida para colocar os dois para
aproveitarem, para irem na pescaria e para, por fim, ir a roda gigante. Sim,
porque uma ida ao parque exige a volta na roda gigante.
Rodamos no alto, os olhinhos deles
brilharam, meu coração palpitava com medo de perder o horário para resgatar
nossas coisas no guarda volumes e, sim, valeu a pena para eles e, com isso,
valeu para mim. Pés latejando, dores em todo o corpo, e uma sensação de
vitória. Eles dormiram felizes. Por outro lado, eu não podia dormir pensando,
como eu não tive constrangimento em bater boca por causa de um cavalinho? Nesta
terça-feira, em que as mães começam a se recuperar do fim de semana e já
vislumbram o estresse do Dia das Crianças, o que posso dizer é que: a dona
Hermínia que habita em mim, saúda a dona a Hermínia que habita em você, querida
mãe.