Líder das pesquisas de intenção de votos para as
eleições de 2022, o governador Ibaneis Rocha (MDB), que busca a reeleição no
Distrito Federal, classificou a convivência com os servidores públicos como
“tranquila”. Ele participou, ontem, da sabatina do CB.Poder, programa feito em
parceria com a TV Brasília, e foi o sexto convidado da série de entrevistas do
Correio com os postulantes ao GDF. À jornalista Ana Maria Campos, ao mencionar
que “quase não teve greves”, o governador destacou o diálogo “franco e aberto”
que manteve com os sindicatos sobre a terceira parcela do reajuste e o plano de
saúde.
A dois dias do primeiro turno, Ibaneis chamou de
“promessa eleitoreira” a intenção de zerar as tarifas de transporte público do
DF. A proposta foi apresentada por Paulo Octávio (PSD) na terça-feira, durante
debate entre candidatos. Apesar da crítica, ele elogiou o adversário e disse
esperar o apoio de PO em um eventual segundo turno contra Leandro Grass (PV),
que tem 16% dos brasilienses, segundo a última Ipec (ex-Ibope), divulgada na
terça. Ibaneis acumulou 43% das intenções e PO registrou 8%, atrás do senador
Izalci Lucas (PSDB), que pontuou 9%.
O pedido de anulação da candidatura de Paulo
Octávio, feito por Ibaneis, foi negado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
ontem, enquanto o governador era sabatinado pelo Correio. Ele garantiu que não
vai recorrer da decisão e classificou como “importante” a participação de PO na
disputa. Apoiador de Jair Bolsonaro (PL) e de olho na corrida presidencial,
Ibaneis elogiou Lula (PT), que lidera todas as pesquisas, declarou voto em
Flávia Arruda (PL) para o Senado e afirmou não ser um “bolsonarista raiz”.
As pesquisas o colocam na liderança da corrida eleitoral, com
possibilidade de se reeleger no primeiro turno. Como avalia seu desempenho na
campanha e no governo, que levaram a essa situação relativamente
confortável? Desde a eleição passada, digo que sou contra a
reeleição. Meu projeto é ter um mandato de cinco anos, sem reeleição, mas,
infelizmente, isso não avançou no Congresso Nacional. Eu dizia também (em 2018)
que só disputaria reeleição se tivesse aprovação pelo trabalho realizado.
Graças a Deus, essa aprovação veio. A campanha de reeleição é plebiscitária, em
que a população avalia o trabalho feito e é positiva, exatamente porque tivemos
muitos avanços. Mesmo com a pandemia, conseguimos avançar em vários setores. Se
você anda pela cidade, vê obras viárias e desenvolvimento. A população entendeu
a mensagem de trabalho que queríamos passar, o esforço para que a cidade
voltasse a funcionar e as coisas estão dando certo. Agora, é aguardar o
domingo. Esperamos ter o voto da maioria. Não temos grandes problemas a ser
solucionados, todos estão sendo encaminhados. Com a pandemia, fizemos o que
fizemos. Imagine o que podemos fazer pelo DF sem pandemia. Tenho muita
esperança.
Vemos muito sofrimento em relação à saúde. As pessoas reclamam das filas
e precisam de atendimento. Qual compromisso o senhor assume em um eventual
segundo mandato? Tínhamos um projeto para a saúde
que era para ter sido desenvolvido ao longo desses quatro anos: a construção de
hospitais e a contratação de profissionais, mas tivemos a pandemia, que nos
afastou disso. O investimento para cuidar dos doentes da covid-19 foi de R$ 3
bilhões, o que daria para ter construído esses três hospitais e ter contratado
muito mais profissionais. O que projetamos (para os próximos quatro anos) é a
construção desses três hospitais (São Sebastião, Recanto das Emas e Guará), a
conclusão do Hospital Jofran Frejat, o hospital do câncer, e a contratação de
pelo menos 4 mil profissionais para desafogar as filas. Conseguimos parceria
com a rede privada para acelerar as cirurgias e chegar até o fim do ano em uma
condição melhor. Tem muito a ser feito, mas a saúde tem melhorado muito.
Conseguimos avançar e construir sete Unidades de Pronto Atendimento (Upas) e 10
Unidades Básicas de Saúde (UBSs), além de reformar outras duas. Estamos
avançando na construção do bloco de expansão do Hospital de Brazlândia e do
Hospital de Planaltina, e ampliamos a capacidade de atendimento do Hospital de
Ceilândia e do Hospital de Santa Maria. Muito foi feito, mas precisamos fazer
cada vez mais, para que a população pare de reclamar e tenha um atendimento
digno.
E tem pessoal para atender nessas novas unidades? Há
reclamações por faltas pontuais. Em cada Upa construída, colocamos, em média,
150 profissionais. Ainda precisamos contratar mais, tanto que o concurso da
saúde está aberto.
Um dos seus adversários fez compromisso de implantar tarifa zero no
transporte público. Isso é possível? Possível, é. Agora, o
custo disso para o DF seria de R$ 3,5 bilhões. Ele tiraria, simplesmente, toda
a capacidade de investimento da cidade somente para dar tarifa zero. A
necessidade da população não é só em relação a tarifa de ônibus, temos outras
necessidades, como saúde, educação, reajuste dos servidores, contratação de
profissionais e obras de infraestrutura. Tirar todos os recursos de
investimento da cidade para dar tarifa zero é possível, mas não é viável do ponto
de vista administrativo. Tivemos, no passado, candidatos que ofereceram tarifa
de R$ 1 que, mesmo assim, perderam as eleições. Acredito que é uma proposta
eleitoreira, que coloca em dificuldade o orçamento do DF, com outras
necessidades muito mais importantes. Nossa tarifa de ônibus é subsidiada, se
fosse cobrada integralmente, estaria entre R$ 11 e R$ 12.
É possível, nos próximos anos, não ter aumento de tarifa, como o senhor
segurou nos últimos anos? Espero continuar
assim. Temos, hoje, aumento de passageiros nos ônibus, o que diminui o impacto
nas contas. Existe a expectativa de continuar sem reajustes. Conseguimos
diminuir também os custos por conta da redução dos preços dos combustíveis.
Talvez consigamos levar os próximos quatro anos sem ter reajuste.
O fantasma da possibilidade de atraso de salários e do décimo terceiro
de servidores do GDF não ocorreu. Vivemos um período de
muita tranquilidade. Quase não tivemos greve e mantive diálogo franco e aberto
com os sindicatos. Concedi a terceira parcela e criei o plano de saúde, que
atende mais de 80 mil pessoas. Pagamos as pecúnias atrasadas e um débito de R$
7,5 bilhões que herdamos do governo Rollemberg. Não passei o mandato falando do
passado, mas recebemos algumas heranças cruéis, mas fizemos uma administração
muito competente na área da economia, reduzimos tributos e conseguimos aumentar
a arrecadação. Melhoramos as condições das empresas no DF, que falavam em ir
embora da nossa cidade para Goiás e Minas Gerais. Acho que parte disso (do bom
relacionamento com servidores) vem da minha experiência como advogado. Passei
25 anos advogando para sindicatos e sempre tratei de forma muito direta e
franca. Para conceder a terceira parcela, não passou de greve. Eu sabia que era
um compromisso que teria de ser cumprido, então me reuni com a equipe econômica
e vi que tínhamos condições de fazer o pagamento — e olha que não era coisa
pouca, cerca de R$ 1,2 bilhão — como fizemos em relação ao plano de saúde,
totalmente superavitário. Esperamos para o segundo mandato, a partir da
negociação com os comandos da Polícia Militar e dos bombeiros, trazê-los para o
plano de saúde do GDF, que já tem a Polícia Civil.
Há duas candidatas ao Senado da sua base, Flávia Arruda (PL) e Damares
Alves (Republicanos) disputando cabeça por cabeça, segundo as pesquisas. As
duas apoiam sua reeleição. Quem é sua candidata do coração? Fiz,
desde o início, um compromisso com a Flávia e tenho trabalhado mais por ela,
mas tenho recebido apoio da Damares em todos os momentos. As duas são extremamente
competentes, foram ministras do presidente Bolsonaro e fizeram, cada uma na sua
área, um belíssimo trabalho. Espero que o eleitor tenha discernimento no voto.
Ainda bem que não estão votando nos candidatos da esquerda, estou feliz que,
pelo menos, estão escolhendo entre duas pessoas que têm perfil que podem ajudar
a cidade. Eu já escolhi meu voto, e vai ser na Flávia.
Para a Câmara Legislativa do DF, acha que sua base vai eleger
maioria? Acho que sim. Os partidos fizeram excelentes
nominatas para distrital e todos da base têm bons nomes e grupos fortes.
Devemos fazer entre 14 e 15 deputados dentro da base, o que nos dará certo
conforto.
Pensa em fazer nova equipe e nomear nova linha de frente de atuação, com
outros secretários? Após os resultados das
eleições, pretendemos criar um grupo, como foi feito durante a transição (em
2018), trabalhando todos os temas de interesse da cidade, colocando prioridades
e vendo de onde vamos tirar recursos. A partir desses encontros, novos nomes
vão surgir. Alguns secretários já disseram que não vão continuar em um segundo
mandato, porque têm projetos pessoais. Certamente, teremos algumas mudanças,
mas pretendemos continuar com as secretárias de Educação e Saúde, que vêm
fazendo um belíssimo trabalho.
O TSE manteve a candidatura de Paulo Octávio, seu adversário na
disputa. Com esse resultado, o senhor ainda aposta na vitória no primeiro
turno? Gosto muito do Paulo, quero deixar isso bem claro.
É um empresário reconhecido na cidade, esteve a todo momento conosco ao longo
desse governo, participou dos palanques das nossas inaugurações e nos ajudou
muito com suas ideias, que são muito importantes para a cidade. Acho importante
que ele concorra também. Nossa tese era de que ele deveria ter se
descompatibilizado das empresas dele que têm negócios com o DF. É uma tese
estabelecida na legislação eleitoral. Os julgamentos foram bastante apertados,
prova de que não estávamos totalmente errados nessa posição, mas decisão de
tribunal a gente cumpre e respeita, não pretendo recorrer. A decisão do TSE,
mesmo tendo sido por 4 x 3, espelha o resultado e nos deixa satisfeitos para ir
até o fim da eleição com tranquilidade.
Se houver segundo turno entre vocês dois, o debate será de ideias, sem
confrontos? Sem dúvida alguma. Ele é uma pessoa excelente, com
boa conduta como homem público e na vida pessoal. Continuamos trocando
mensagens e conversando naturalmente, mesmo no período eleitoral, e vai
continuar assim, com todo respeito.
Na eventualidade de um segundo turno que não seja com ele, os votos dele
vão para o senhor? Espero que ele esteja do nosso
lado. O pensamento liberal e empresarial dele combina muito mais com a nossa
campanha e com o nosso estilo do que com o Leandro Grass, candidato de
esquerda, com pensamento totalmente diferente da vida empresarial que Paulo
leva. Penso assim também em relação ao nosso amigo Izalci.
O senhor é da base de Bolsonaro, mas se a vitória presidencial for de
Lula, a relação vai ser boa? O presidente Lula é um
democrata, jamais vai deixar o DF abandonado. Tenho muitos interlocutores com o
pessoal do PT. Brasília tem essa característica, precisamos viver em harmonia
entre GDF e governo federal. É uma via de mão dupla. Nenhum presidente da República
vai querer ter o governador do DF contra, porque precisam dialogar a todo
momento. Os projetos do DF interessam a todo país, não podemos, por questão de
disputa eleitoral, deixar a capital da República abandonada.
Acredita que parte dos seus eleitores votam no ex-presidente Lula? Alguns
eleitores votam no Lula e em mim, exatamente por essa parte que passei na área
sindical. Agora, a grande maioria, realmente, é bolsonarista.
Bolsonaro, de alguma forma, está ajudando na sua campanha? Minha
vinculação com o Bolsonaro é muito mais pelo que ele fez pelo DF ao longo
desses últimos anos. Além de ser de direita, e eu me considero também de
direta, ele liberou recursos para obras, transitei dentro de todos os
ministérios com tranquilidade e colocou verbas para o DF dentro do Orçamento da
União. Tudo isso nos fez ficar perto, mas não é aquele bolsonarismo raiz, como
é o caso da Damares e da Bia Kicis (que disputa reeleição para a Câmara dos
Deputados pelo PL do DF), que são bolsonaristas de outras maneiras.