A Lua e a enciclopédia
Quando nos tornamos mães corremos seriamente o risco de nos tornarmos também monotemáticas. A função que toma boa parte do nosso tempo e certamente se transforma na razão de viver ganha espaço no trabalho, nas conversas de bar e até em encontros com desconhecidos no meio da rua. Ao encontrar outra alma numa situação parecida, com filho na mesma idade e fazendo estripulias ou bonitezas semelhantes às que se vê diariamente em casa, a vontade é de compartilhar um abraço solidário, mas geralmente ficamos mesmo nos sorrisos amarelos ou sinceros, a depender da situação em questão.
Tudo isso para explicar o motivo de estar voltando ao tema agora e ir logo
avisando: ele não se esgotará tão cedo — provavelmente nunca. As meninas não
completaram sequer uma década de vida e as histórias que as envolvem são
suficientes para preencher o equivalente a vários capítulos da Barsa.
Lembram-se daquela enciclopédia clássica que em vários volumes prometia
entregar o conhecimento do mundo compilado? O Dr. Google provavelmente ri
olhando em suas buscas esse passado. Deve estar às gargalhadas agora, inclusive,
pois acabo de pesquisar o termo em sua barra de navegação. Descobri que há
algumas disponíveis para se comprar: virou item retrô.
Mas, voltando ao assunto desta crônica, a última colocação intrigante de Alice
tem a ver um pouco com o universo de pesquisas e de novos saberes adquiridos. A
vivência investigativa na escola este mês foi sobre a água, e a pequena
descobriu várias coisas importantes para seu desenvolvimento. Parece, no
entanto, que o espaço (sideral) continua a lhe chamar a atenção. Olhando para o
céu ela disse: “A lua não está cortada hoje, está cheia, comeu tudão!”
Interessante como as crianças sempre enxergam o mundo por lentes cheias de
criatividade. Aproveito para explicar que estou usando toda a oportunidade
possível para espalhar esses momentos, por alguns motivos. O primeiro é que a
memória é fraca e muitas vezes me trai. A frase que ela disse ontem hoje já não
me vem tão clara à cabeça.
O segundo é que essa é a única fase da vida em que eles se orgulham de nos
verem repetir tudo o que dizem e aprendem. Daqui a poucos anos a vergonha será
tão grande que provavelmente assinarão um decreto familiar proibindo de revelar
qualquer detalhe de seu dia a dia para quem quer que seja. Mais tarde, alegarão
modéstia e, depois disso, é possível que as histórias dos netos é que dominem o
“noticiário” da família.
Divaguei tanto sobre um futuro hipotético que perdi até a noção do tempo — e a
contagem das linhas. Ia trazer outro tema caro e relacionado à prole, dessa vez
voltado ao que penso ser importante para o futuro delas. Mas fica para uma
próxima, e, com sorte, se deixei o leitor curioso, garanto a honra de mais um
dia de audiência na próxima segunda-feira. Até mais!