Tenho um amigo, a quem apelidei de Hugo Nitroglicerina, em razão da
maneira explosiva com que fala a verdade. Para Hugo, a verdade é um instinto
que ele pratica 24 horas por dia. E o interessante é que não a esgrime apenas
contra os outros, mas também contra si mesmo, quando é o caso. Esse instinto da
verdade costuma produzir efeitos cômicos, absurdos, surreais e alucinatórios.
Ele é jornalista e, em certa ocasião, fazia reportagem sobre a compra de
carteira de motorista no Entorno e se deparou com o nome adivinhem de quem na
lista? Da própria mãe. Hugo não teve dúvida: colocou na matéria. Pode parecer
uma maluquice, mas, antes de lançar o veredito de Juízo Final, acompanhemos o
desenlace da história.
De fato, a mãe conseguiu a carteira e, pouco tempo depois, se envolveu
em um grave acidente de trânsito. Chegou à conclusão de que não tinha condições
de dirigir e nunca mais pegou em um volante. Hoje, ela reconhece que o filho
estava certo. Ou seja: em seu aparente desvario, Hugo é muito lúcido.
Todavia, permita o leitor que eu evoque algumas histórias reveladoras do
nosso personagem. Eu costumava chegar à redação antes da estátua de Assis
Chateaubriand, mas já encontrava o Hugo fazendo uma varredura nas páginas dos
jornais.
Ele era uma espécie de ombudsman delirante, que sempre costumava pinçar
alguma notícia excêntrica: “Vocês sabiam que o cara que limpa bunda de lutador
de sumô ganha 3 mil euros? Ganha mais do que vocês, que vestem terno Armani,
ouvem as mentiras desses bandidos de colarinho branco e se acham muito
importantes!”
Filho de uma família de fazendeiros do interior de Minas Gerais, ele
coleciona muitas histórias fantásticas. Segundo uma delas, estava jogando uma
partida de futebol na roça com os primos, quando um leitão invadiu o campo e
fez um gol de bicicleta sensacional, que interferiu no placar.
Desde que divulguei a história do leitão artilheiro em uma crônica, Hugo
Nitroglicerina não tem mais sossego. A todo momento é assediado por emissários
do Barcelona, do Real Madrid, do Milan e do Manchester United. O Barça ofereceu
mais de 140 milhões de euros. Ao saber da negociação, o Real Madrid atropelou
as tratativas e bancou uma proposta de 150 milhões de euros.
Enquanto isso, o leitão artilheiro continua a encantar as plateias do
futebol de roça. Quando menos se espera, ele entra em campo e aplica bicicletas
de deixar envergonhado o inventor e mestre da jogada espetacular, Leônidas da
Silva.
Não sei o que os olheiros de Tite fazem para ignorar o nosso craque
suíno. Ele é o legítimo representante do futebol-arte, que, de tanta vergonha
dos últimos resultados, fugiu dos estádios brasileiros e foi se refugiar nos
campos esburacados das roças.
Aliás, acabo de receber a notícia de que o concurso que indicou Mbappé
como autor do gol mais bonito de 2021 acaba de ser anulado. Todos os que
assistiram aos vídeos concluíram que o gol mais belo do ano foi o do leitão
artilheiro. Messi, Neymar, Benzema e Mbappé que se segurem nas tamancas. Se
Tite não fosse tão conservador e tivesse convocado o leitão artilheiro para o
ataque da nossa seleção a gente já estava com a mão no caneco.