Mais por intuição do que por uma análise, sempre achei que a forma como
se concluiu a Operação Lava-Jato teve muita responsabilidade pelo desmonte e
pela imagem negativa da engenharia nacional. Como consequência, perdas, desde
as mais imediatas, como o desemprego, até as de longo prazo, como as perdas
tecnológicas, com a inevitável perda de competitividade. Um desastre para
qualquer plano de desenvolvimento da nação.
O jornalista Daniel Rittner, em brilhante artigo, E o Porto de Mariel e
o metrô de Caracas?, publicado em jornal de grande circulação, demonstra que,
de fato, o desenlace da Lava Jato foi mesmo um desastre para a nossa
engenharia. Não cabe aqui transcrever o artigo, portanto, as argumentações
apresentadas por Rittner. Sugiro a leitura e, mais detalhadamente, a assistir a
conversa de Daniel com Mario Vitor Santos, TV 247.
Merecem destaque quatro informações que, a meu ver, passaram
despercebidas. A primeira: créditos ofertados pelo BNDES para obras de
infraestrutura em países em desenvolvimento, especialmente na América Latina,
compunham um modelo de exportação dos serviços da ngenharia nacional. Trata-se
de modelo adotado em vários países, elaborado e proposto ainda no governo do
Fernando Henrique Cardoso, ao qual o governo Lula deu continuidade.
A segunda: o BNDES não teve prejuízo. Poderia ter aplicado melhor, com
resultado de maior retorno do que nesse modelo? Talvez. Mas, não tomou calote
como nos fizeram acreditar.
A terceira: repito aqui frase do jornalista posta no artigo,
"ganhar dinheiro exportando serviços de engenharia não é para quem quer. É
para quem pode. E o Brasil detém essa expertise".
A quarta: os inúmeros casos de corrupção e malfeitos claros, ocorridos
em outros países, dos famosos como a Volkswagen e o dieselgate, até os menos
conhecidos. O jornalista Daniel os aponta, sem negar que existiram também nas
empresas envolvidas na Operação Lava Jato, mas com desfecho diferente. As
operações apontadas condenaram as pessoas físicas culpadas, os CPFs, levou a
multas volumosas, com reversão para o bem da sociedade, mas sem falir, sem
destruir as empresas, ou os CNPJs. Relevante citar o exemplo de empresas
espanholas de engenharia, que viveram corrupção semelhante, mas, nem por isso,
a justiça espanhola levou as empresas à destruição, continuam atuando.
É de impressionar nossa imaturidade política, tão bem revelada no
recente processo eleitoral, assim como na mídia, nos dirigentes e
representantes políticos da época. Impressiona também o poder da vaidade que
cega os heróis de ocasião, especialmente aqueles cuja função exige imparcialidade.
Mas o que mais impressiona é o silêncio das empresas de engenharia
remanescentes, das associações e instituições dos profissionais de engenharia,
de nós engenheiros e engenheiras, com raríssimas e pontuais exceções.
Não me lembro de nenhuma manifestação séria voltada para uma proposição
que fizesse, sim, justiça, mas que evitasse que se jogasse a água suja da
banheira com o bebê dentro.
A importância da operação Lava Jato é indiscutível, mas seus benefícios
não podem ser questionados, ou mesmo diminuídos frente aos evidentes efeitos
colaterais. Destacando aqui, entre os prejuízos mencionados, os atrasos
advindos das perdas de conhecimento e tecnologia, que se agravam com o tempo,
devido ao necessário período para sua recomposição e o desgaste da imagem de
uma das mais importantes profissões, a engenharia: a arte de engenhar soluções
para qualidade de vida, todas as vidas.
Imbuída do sentimento de resgate da engenharia nacional, pelo bem de Minas e do Brasil, no apoio a iniciativas que possam recolocar nos editais nacionais de grandes licitações a boa engenharia brasileira, retomo frase do elucidativo artigo, "ainda dá tempo de resgatar essa nossa vantagem competitiva" (expertise na exportação de serviços de engenharia). "Sem faniquito, sem uso eleitoreiro" e com os necessários ajustes, "mas exitosa, ao fim e ao cabo".