Dos ditos populares, teimo em gostar especialmente de um: "O que
não mata fortalece". É de uma verdade cortante, mas para ser real no dia a
dia, exige esforço. O que não nos mata deixa mágoas, feridas, sequelas, transformando
a pessoa muitas vezes em um arremedo do que se foi, uma versão sofrida e
cansada, um fiapo humano. É preciso passar por tudo e se reconstruir muitas
vezes na vida. E isso não é fácil.
Falei sobre escolhas dias atrás. E escolher viver com plenitude, apesar
de tudo e de todos, é a maior sensatez humana. E é isso que nos fortalece.
Abraçar a vida que nos foi ofertada, que por si só é uma possibilidade
incrível. Abraçar também as vulnerabilidades e os temores, junto com os amores
e afetos, amigos e parentes, trabalho e lazer. Seguir, mesmo aos trancos e
solavancos, um dia de cada vez, sem muita expectativa e no tempo presente, é
sempre o caminho mais promissor.
2022 se apresentou como um suspiro depois de dois anos de uma pandemia
terrível (ainda presente, é bom que se diga). Mas a gente sabe que este ano não
cumpriu a promessa de ser integralmente bom. Muita confusão na cabeça; muito
conflito; muito trabalho e muitos retrocessos.
Apesar disso, há algo que ninguém tira de nós: as boas escolhas que
fizemos, apesar dos riscos e medos. O ano é a soma das decisões que fazemos
diariamente: as perdas, os danos, as conquistas. Eu mesma só estou aqui de pé
hoje porque escolhi, enfim, dois anos depois de comprar a passagem, encarar os
220 quilômetros da Caminhada de Santiago de Compostela.
Fui em maio, com duas amigas. Não fossem aqueles dias de respiro, aquela
conexão direta com cada ponto da estrada, a atenção plena e o estado meditativo
que a experiência me proporcionou, este ano de sustos e solavancos teria sido
ainda mais intenso e doloroso.
Minha amiga Luciana Franco fez o mesmo e, agora, no fim de 2022, foi
fazer sua jornada no Atacama. Acompanhei a aventura pelo Instagram como se
estivesse lá. E você? Quais experiências cultivou que te acalmaram,
engrandeceram, te enraizaram num estado de paz e equilíbrio?
Mesmo coisas simples contam muito. Às vezes, arrumou um espaço da casa,
trocou de emprego, marcou encontros, viveu histórias boas. Faça a sua lista
positiva. Aprendi que mais vale uma lista de realizações do que uma lista de
expectativas. Colecione o que foi bom.
Só então, neste fim de ano, coloque aí nas suas resoluções: fazer algo
que você goste verdadeiramente, algo que fique tatuado na sua alma como uma boa
escolha. No mais, se perdoe por todo o resto, porque não está fácil para
ninguém. No próximo domingo, é Natal, dia de perdão, de recomeço, de
renascimento. Desejo que você escolha renascer. Em 2023, escolha viver!