Os ataques
terroristas de 8 de janeiro não "falam" apenas sobre política. As
imagens da invasão das sedes dos Três Poderes da República e da destruição do
patrimônio público, cultural, artístico, material e imaterial, sugerem que
precisamos ter outro tipo de educação: a patrimonial. É muito provável que os
vândalos criminosos não saibam nem o que é isso. Ou, se sabem, não entendem o
valor.
E todos
nós, será que entendemos bem o tesouro que temos guardado? E nossas crianças,
será que aprendem sobre isso na escola? Estive na abertura dos trabalhos do
Judiciário no último dia 1º, uma cerimônia solene no Supremo Tribunal Federal.
A corte fez questão de reavivar a memória, embora não temos esquecido, com o
vídeo da invasão e deixou à mostra algumas das peças vandalizadas que não
puderam ser restauradas.
Na próxima
quarta, completa um mês da barbárie e desde então um contingente altíssimo de
colaboradores dos Três Poderes têm trabalhado para devolver o país os palácios
e o Congresso em sua integridade. O STF decidiu preservar a memória dos ataques
porque isso também educa. E educação patrimonial é essencial.
Nos últimos
dias, muito em função da série de debates promovida pelo Correio, o evento
Entre os Eixos do DF, o tema foi bastante discutido. Especialmente em Brasília,
toda a população deveria ter plenamente consciência do que isso significa, em
especial devido ao tombamento da capital como Patrimônio Cultural da Unesco.
Mas não se
trata apenas de manter o título. Trata-se de estabelecer uma cultura de
preservação numa cidade repleta de obras de arte. Temos obras de arte, como
vitrais, murais, esculturas, pinturas. Temos jardins. Temos mobiliário de
grandes nomes do design brasileiro.
Veja o que
está acontecendo com as cadeiras de autoria do designer Sérgio Rodrigues e que
eram dos espaços culturais, como Cine Brasília e Sala Martins Penna. Há uma
discussão sobre o que se fazer com elas, já que a avaliação é que não serviriam
bem ao mesmo propósito neste momento e a restauração seria um processo demorado
e caro.
Mas não há
dúvidas de que se trata de uma postura criminosa deixá-las apodrecer em um
depósito. A Secretaria de Cultura vai levar o caso ao Conselho de Defesa do
Patrimônio (Condepac) para recolher sugestões e apoio.
A verdade é
que o tempo também passou a contar para Brasília. A cidade envelheceu. Manter
um patrimônio custa dinheiro e muitas vezes não rende tantos votos quanto os
políticos desejam. Por isso, é preciso cobrar, fiscalizar, fazer campanhas
permanentes pela defesa desse tesouro, como o Correio fez tantas vezes e ainda
fará.
A educação
patrimonial é um exercício de cidadania. Todos devemos zelar pelo nosso
patrimônio. Isso vai muito além de ter um órgão oficial como o IPHAN e do olhar
cuidadoso dos arquitetos de Brasília, que sempre estão na frente da batalha
pela preservação. Todos precisamos ligar nosso alerta para a preservação de
Brasília. Vamos juntos?