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Entrevista: "Loucura coletiva", avalia Ibaneis Rocha"

Houve uma loucura coletiva. Ao retornar ao poder, chefe do Executivo local diz que Anderson Torres precisa explicar minuta do golpe, afirma que entende decisão de Alexandre de Moraes e promete retomar obras atrasadas. Tenho um objetivo, que é transformar o DF, destaca

 

O terceiro mandato do governador Ibaneis Rocha (MDB) começou. Depois de oito dias vivendo as glórias da segunda gestão à qual foi reeleito ainda no primeiro turno do pleito de 2022, Ibaneis enfrentou o inferno. Um episódio que marcará a história de Brasília: o caos na Praça dos Três Poderes, a intervenção na segurança pública e o afastamento do poder.


Mas o momento agora é outro. Ibaneis retornou ontem ao Palácio do Buriti e deu início a uma nova fase. Está aberto a debater o que ocorreu em 8 de janeiro, faz críticas sem receio de externar sua opinião e assume a cadeira de nº 1 do Executivo, com planos de retomar e lançar obras, depois da liberação na véspera em decisão do ministro Alexandre de Moraes.


Para o governador do DF, após 65 dias em silêncio, a avaliação sobre o vandalismo na Praça dos Três Poderes é direta: “Houve uma loucura coletiva”, provocada por uma parcela eleitora do ex-presidente Jair Bolsonaro que acreditou ser possível provocar um golpe de Estado no país.


As falhas na segurança, segundo Ibaneis, foram provocadas por um “apagão geral”, mas não apenas por culpa da Polícia Militar. Também por equívocos das forças federais. O maior problema, segundo o governador, foi permitir que manifestantes permanecessem tanto tempo acampados em frente ao QG. E, neste caso, esse seria o grande erro do Exército durante o governo de Bolsonaro e também no do presidente Lula, segundo Ibaneis.


Apesar da crise, ele diz que não se arrepende de ter nomeado novamente Anderson Torres secretário de Segurança do DF. Admite que recebeu conselhos para evitar esse caminho, mas diz que só perdeu a confiança no ex-ministro da Justiça ao ver a depredação dos palácios na Praça dos Três Poderes. Agora, segundo Ibaneis, Anderson deve explicações ao país, especialmente sobre a minuta do golpe encontrada pela Polícia Federal na casa dele, durante busca e apreensão. “Não se pode menosprezar o fato de aquilo estar na casa do (ex) ministro da Justiça, que é amigo pessoal do (ex) presidente da República”, afirma Ibaneis.


O senhor se referiu ao que aconteceu em 8 de janeiro como um apagão geral. Acredita que houve uma conspiração?
 Por tudo que eu li — e tive oportunidade de ler vários depoimentos — não consigo acreditar que tenha havido uma conspiração. Para isso, tinha que envolver inúmeras pessoas. Considero que tenha ocorrido realmente um apagão geral. Foram vários erros cometidos em sequência. E não é uma coisa que a gente pode considerar nova aqui no Distrito Federal. Nós tivemos, em 2013, aqueles jovens que invadiram o Congresso Nacional e tocaram fogo na Esplanada dos Ministérios. Em 2017, também tivemos o Itamaraty quebrado. Então, foi trágico o que aconteceu (em 8 de janeiro), porque tivemos uma invasão do Supremo Tribunal Federal, um quebra-quebra geral, foi uma comoção nacional, mas, dizer que havia conspiração e que se conseguiria envolver aquela quantidade de pessoas, acho muito complicado. Mas nós estamos com um inquérito em andamento e o inquérito vai esclarecer tudo isso. Vamos ter que aguardar o fim do inquérito para saber se houve um culpado realmente, uma pessoa que tramou isso tudo. Mas eu sinceramente, do ponto de vista pessoal, não acredito nessa conspiração.


Mas pelo que o senhor viu, pareciam profissionais invadindo as sedes dos poderes? Profissionais não. Pessoas que entravam nos prédios e ficavam tirando fotos de si mesmas, que ficaram gravando, mandando mensagens, não podem ser profissionais. Um bandido profissional não tira foto de si próprio e posta numa rede social. Acho que ali houve um loucura coletiva. Foram pessoas que estavam gestando, como diz o ministro (da Justiça) Flávio Dino, um golpe dentro da cabeça deles, no quartel general, e terminaram transformando um movimento de vandalismo total.


E algumas pessoas foram levadas pela multidão…
 Eu eu me lembro muito bem daquele episódio com a queima do índio Pataxó. Se fosse um daqueles meninos sozinho, não teria ocorrido aquilo. Agora como estavam em grupo fizeram. Então, eu acho que quando você está dentro de um ambiente daquele ali algumas pessoas terminam tendo uma explosão de violência, uma explosão de agressões. Acho que foi o que aconteceu naquele dia.


Mas não havia os mentores dessa invasão?
 Acho que veio gente determinada a isso. Se você imaginar que vieram de vários locais do país… E aí eu não entendi o que aconteceu com a inteligência. São tantos órgãos de inteligência, da Polícia Militar, do Exército, da Polícia Rodoviária Federal… E ninguém conseguiu detectar esse movimento violento. Todos diziam de forma bem clara que o movimento era pacífico. Então, ninguém conseguiu gestar um documento de inteligência que alertasse para aquilo que aconteceu.


E os militares? Como o senhor avalia a participação deles nesse episódio? Essa participação precisa ser bastante investigada. Na minha visão, o principal erro do Exército foi ter permitido aquele acampamento na porta dos quartéis.


O senhor tentou tirar… Tentei tirar e fomos impedidos. Era muito mais fácil com 500 policiais retirar todo mundo que estava na frente dos quartéis do que com 2,5 mil policiais retirar quem estava na Esplanada. Então, acho que esse foi o principal erro do comando do Exército— e quando falo, me refiro tanto ao governo Bolsonaro quanto ao governo Lula. Porque o presidente Lula já estava com oito dias no mandato quando aconteceu o oito de janeiro. Eles também assumiram e não tiraram aquelas pessoas da porta do quartel-general, mesmo com todo o apoio que nós podíamos dar com o DF Legal, com a Polícia Militar.

 

O senhor recebeu vários relatos do delegado Fernando Oliveira, que estava no exercício da Secretaria de Segurança do DF, de que estava tudo bem. O que houve? Eu tenho o costume de delegar poder e cobrar da pessoa para quem eu deleguei. Então, eu entrei em contato com o Anderson — ele tinha me falado que ia viajar, mas eu não tinha captado bem quando e como é que seria. Ele me disse que estava pousando nos Estados Unidos e me passou o telefone do 02 dele, que era o Fernando, delegado da Polícia Federal. Eu não o conhecia. Ele passou a fazer relatórios de duas a três vezes por dia, dizendo o que estava acontecendo. Ele mandou o relatório no sábado, no domingo pela manhã, por volta das 8h, dizendo que estava tudo pacífico, que estava tudo tranquilo. Mandou mensagem de novo — eu me lembro bem desse horário porque foi logo depois que eu saí da missa no Perpétuo Socorro. Ele relatava que estava tudo na paz, tudo tranquilo. Então, eu não tinha como tomar uma outra atitude. Você recebe uma informação do seu secretário de Segurança em exercício dizendo que está tudo tranquilo, você vai mandar prender, fechar a Esplanada? Não tinha como fazer isso naquele momento.


O senhor se arrepende de ter nomeado Anderson Torres de volta como secretário?
 Não. Ele é uma pessoa que gozava da minha confiança integral e foi um excelente secretário de Segurança. É um cara experiente, estava recém-saído do Ministério da Justiça. Eu ouvi algumas pessoas que me pediram pra não nomeá-lo, exatamente por conta da proximidade dele com o presidente Bolsonaro. Mas eu confiei e apostei que daria certo. E apostei também no relacionamento que eu particularmente tinha com o ministro Flávio Dino. Tenho ainda. Ele foi governador junto comigo. Foi meu professor de pós-graduação. Foi juiz federal na época que comecei a advogar. Então, apostei que poderia deixar o Anderson cuidando da segurança aqui no DF e o relacionamento com o Ministério da Justiça eu faria pessoalmente.


É verdade que o senhor teve uma conversa muito dura com o Anderson, por telefone, naquele dia, quando o senhor o exonerou? Não cheguei a conversar com ele pelo telefone. Eu entendi por bem exonerá-lo naquele momento, porque ele perdeu a minha confiança. Eu acreditei que poderia dar certo e me senti chocado naquele momento. Eu estava de frente para a televisão vendo aqueles atos de vandalismo e tinha que tomar uma posição. Então, eu exonerei o Anderson. Eu chamei para a minha residência a (vice-governadora) Celina Leão, o Gustavo Rocha (Casa Civil), chamei o meu consultor jurídico até então, Rodrigo Becker. Aí eu comecei a tomar as atitudes. O ministro Flávio Dino já falando em uma intervenção no Distrito Federal e eu, no telefone com ele, dizendo que não fizessem isso. Até que chegou o momento em que eles deliberaram pela intervenção somente na segurança. Aí eu pedi a Celina e ao Gustavo que fossem ao Palácio da Justiça e que dessem todo o apoio possível.

 

Que lição o senhor tira de todo esse episódio? De que não dá pra confiar tanto assim em algum secretário… A gente tem que confiar. Não adianta porque você não dá conta, num governo tão grande, de não ter pessoas de confiança. Então quando você trata principalmente coisas específicas como é a questão da segurança, da saúde, da educação ou você delega e acredita que vai dar certo ou você não consegue governar. Porque eu, por exemplo, não sei fazer um planejamento para conter uma manifestação. Quem tem experiência com isso é a Polícia Militar, a Secretaria de Segurança. Então, eu acho que a gente tem que continuar acreditando nas pessoas, senão a gente não governa. Não tenho dúvida disso. O ensinamento que eu acho todos nós da República tivemos é que nós estamos vivemos um momento ainda de muita divisão no país. Bolsonaro teve 58 milhões de votos. Se você imaginar que 20% desses votos são dele mesmo, de pessoas que são apaixonadas por ele e que, no meio desses 20%, você tem 1% de maluco... Como nós vimos também no período em que o Lula ficou preso… Teve gente que ficou quantos dias acampada lá na porta da Polícia Federal em Curitiba? Então todo mundo tem esse lado do radicalismo. A gente não pode ter inimigo, a gente pode ter até adversário. Eu trato exatamente dessa maneira. E, graças a Deus, por conta disso, desse meu comportamento, eu tenho visto manifestações, por exemplo, do Fraga que era o meu adversário.


Foi uma das pessoas que mais defendeu a sua volta…
 Exatamente. Eu tenho pessoas como Chico Vigilante (PT), que me defendeu. O Izalci (Lucas). Isso é a prova maior que a gente tem que ter adversários, mas não pode ter inimigos realmente.


Como o senhor se sentiu, saindo de uma campanha vitoriosa, reeleito no primeiro turno, e vem um atropelo desses? Olha a gente estava ali numa semana de muita emoção, posse, posse do presidente da República, um momento muito novo na política. Eu vindo de uma campanha vitoriosa, eleito no primeiro turno. Então, para mim, foi um susto muito grande quando eu acordei de manhã no dia 9 e estava afastado do governo. Mas, de certo modo, compreendi a decisão do ministro Alexandre de Moraes porque ele tinha que fazer alguma coisa. Ele tinha que mandar um recado para todos os governadores, afinal de contas, tinha acampamento em todos os estados. E ele entendeu que eu poderia estar participando de alguma coisa, apesar de não fazer sentido nenhum. Eu não tinha nada a ganhar. O que eu ganharia se houvesse um golpe? Eu ia continuar governador do Distrito Federal.


Qual é a sua opinião em relação ao documento encontrado pela Polícia Federal na casa de Anderson Torres com uma minuta de um decreto de intervenção na Justiça Eleitoral. Considera essa minuta algo grave? Acho que o Anderson tem alguma coisa a dizer. Ninguém faz um documento planejando um golpe. Ali alguém gestou aquele documento, alguém fez aquilo. E você não pode menosprezar o fato de aquilo estar na casa do (ex) ministro da Justiça, que é amigo pessoal do (ex) presidente da República. Acho que o Anderson realmente, nesse ponto, vai ter ainda que dar uma explicação sobre quem fez aquilo, quem pensou naquilo, quem foi o maluco que pensou naquele documento.


O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, disse que todo mundo tinha um documento daqueles. O senhor já tinha ouvido falar?
 De maneira nenhuma. Não sei o que estavam pensando, porque nós vivemos na democracia. Não tenho dúvida nenhuma. Jamais diria que frutificaria um documento daquele ou imaginaria que fosse possível de acontecer.


E o senhor acha que esse documento agravou a situação do Anderson?
 Não sei. Em relação ao Anderson, não posso dizer nada. O ministro (Alexandre de Moraes) deve ter as suas razões para mantê-lo preso. Acho que ele vai ter que esclarecer ainda algumas coisas.


Acredita que a democracia ainda corre algum risco? Houve três episódios graves no DF… Acho que isso faz parte do 1% de maluco.

 

Então ainda estamos expostos? Enquanto a gente não tiver uma pacificação do país… Pelos relatos que ouço sobre as pessoas que foram presas no dia 8 de janeiro — eu conversei com alguns padres que foram visitar os presos —, eles continuam ainda com a ilusão de que é possível fazer um golpe no Brasil. Agora eu não tenho dúvida de que vai prevalecer a democracia, que as pessoas vão terminar aceitando, e têm que aceitar realmente, o resultado da urnas.

 

Mas o senhor enxerga um horizonte de pacificação no país? Nós estamos passando um período de transformação. Temos uma parte da população que pensa realmente ser de direita e um grupo de esquerda que assumiu o poder. Eu acho que vai existir uma acomodação em determinado momento.

 

O ex-presidente Jair Bolsonaro caminha até para o risco de ficar inelegível. Quem o senhor vê como principal sucessor nessa ala mais conservadora? Nós temos nomes muito importantes na política nacional. O próprio governador de São Paulo (Tarcísio de Freitas) é um expoente da política nacional. Ganhou uma eleição em estado muito importante, que tem recursos extraordinários para fazer grandes investimentos. Nós temos o governador de Minas, Romeu Zema, que é um excelente governador, tem dado prova disso, um estado grande também. Nós temos o Eduardo Leite, no Rio Grande do Sul, que também tem se colocado com posturas muito afirmativas em relação à política de centro-direita. Então, eu acho que nós temos grandes expoentes.

 

O senhor se coloca nesse nesse rol daqueles que podem vir à concorrência para presidente ou vice? Eu leio muito biografias. Eu acho que essa questão de ser presidente da República, de alçar um cargo desse, é muito mais de oportunidade. Então, quando chegar no momento de as pessoas decidirem, é muito uma questão de circunstâncias. Ninguém faz um projeto pra ser presidente da República. O que eu quero é governar o Distrito Federal da melhor maneira possível.

 

O senhor teve o apoio esperado pelo seu partido, o MDB, nesse momento? Sem dúvida nenhuma. Tive uma primeira reação do senador Renan Calheiros, protocolando um pedido de afastamento meu do partido. Depois nós tivemos a oportunidade de conversar, esclarecemos tudo. Tive o apoio do Baleia Rossi, presidente do partido, de todos os presidentes do MDB, do presidente Sarney, do presidente Temer. Tive o apoio do meu partido, do líder, do Isnaldo (Bulhões), do deputado Rafael Prudente, que esteve todo o tempo comigo. Então, não tenho do que reclamar do MDB.

 

Depois de tudo que aconteceu, o senhor começa um mandato diferente ou segue o que o senhor planejava? Tenho um projeto muito bem estabelecido dentro da minha cabeça. Eu não sairia do meu escritório de advocacia, da minha vida privada para vir para a vida pública, se não tivesse um objetivo para isso. Então, eu consegui o primeiro mandato, quando era totalmente desconhecido. Consegui imprimir uma marca de governo, consegui colocar meu nome na cidade, ganhei no primeiro turno, agora no segundo mandato, e eu tenho um objetivo que é transformar o Distrito Federal, transformar a política do Distrito Federal, que acho que isso é o mais importante. Se você analisar o que era a política do Distrito Federal há cinco anos, vocês faziam muitas matérias falando de um grupinho, daquela rodinha que dominava a política do Distrito Federal, com pessoas que hoje estão totalmente apagadas. Vivemos um processo de renovação da política e eu acho que faço parte disso.

 

E a vice-governadora Celina Leão, como o senhor avalia? Ela foi muito bem. Eu deixei tudo muito bem estruturado. Já tinha uma viagem marcada para 16 de janeiro, que eu terminei não fazendo por conta do afastamento, então deixei tudo muito programado para os secretários, cada um sabendo o que ia fazer. Deixei programado o lançamento de obras e ela assumiu e fez um bom trabalho. Não tenho do que reclamar da Celina. Acho até que eu tenho muito a que agradecer a sorte de ter a Celina com a minha vice-governadora.

 

Celina foi leal? Sem dúvida nenhuma. Ela foi muito leal comigo. Passou no teste da lealdade e passou no teste como uma política competente também. Isso é muito importante que a gente diga. Ela é uma pessoa extremamente competente, uma pessoa extremamente dinâmica, de diálogo, conversa muito e ela tem até um trato político melhor do que o meu. Eu sou mais executivo. Ela é mais política.

 

A preço de hoje ela é o nome, então, que o senhor apoiaria para a sua sucessão? A gente tem que aguardar. Mas ela tem a minha confiança, eu posso garantir isso.

 

Mas tem outros nomes também que podem se credenciar? Temos que esperar.


O senhor não vai lançar a sua sucessão no dia da volta… Não vou. Mas posso dizer que temos nomes aqui no Distrito Federal que estão se qualificando para isso.

 

E qual a sua principal meta agora? Nós temos várias obras que tiveram um atraso aqui no Distrito Federal e temos que reconhecer que houve esse atraso. Nós temos que apertar para poder fazer as entregas em relação às obras que foram lançadas no mandato passado. Nós temos coisas importantes para fazer, principalmente na área da saúde. Nós temos três hospitais que nós nos comprometemos. Nós inclusive estamos publicando o edital do primeiro hospital no Recanto das Emas. Nós temos mais um hospital que vai ser do Guará, que vai ser lançado mês que vem e temos o Hospital de São Sebastião que vai ser lançado até o mês de junho.

 

Que marca que o senhor quer deixar? Eu acho que nós temos que recuperar a parte da saúde, nós temos que continuar avançando no Distrito Federal na questão administrativa, a cidade precisa continuar andando. Tem muita coisa para ser feita no Distrito Federal, tem projetos importantes que estão em andamento, Drenar DF, a obra de Taguatinga que está sendo feita. Nós temos o a parte de interligação do Jardim Botânico com os viadutos que precisam ser feitos. Temos toda uma parte de mobilidade que precisa mudar. Temos muitas áreas no Distrito Federal que precisam avançar.

 

O senhor disse que endossa a escolha do delegado Sandro Avelar na Secretaria de Segurança, nomeado quando o senhor estava afastado. É isso mesmo? Eu já tinha convidado o Sandro para ser meu secretário de Segurança. Gosto muito do Sandro. É uma pessoa que eu conheço há muitos anos, desde a época que eu estava na OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e ele era o secretário de Segurança do Agnelo (Queiroz). E eu sempre tive um excelente relacionamento com o Sandro. Então eu estou muito satisfeito com a indicação que foi feita. Não tenho nenhum reparo e ele vai continuar trabalhando. E eu vou empoderá-lo, assim como fiz com os meus outros secretários de Segurança. Quero resultados na área de segurança no Distrito Federal. Ainda tem muita violência.

 

Qual será o papel da vice-governadora Celina? Ela tem um papel de articulação muito forte, foi deputada federal, conhece muito bem o Congresso Nacional. Temos que buscar emendas parlamentares para poder investir no Distrito Federal, temos que destravar muitos projetos que chegam na Caixa Econômica, às vezes ficam travados. Então, ela tem um papel de articulação muito grande, tanto na Câmara Legislativa, quanto no Congresso Nacional e junto aos órgãos para liberação de recursos para nossa cidade. Ela tem um papel fundamental.

 

Pela força da base que o senhor tem na Câmara Legislativa, que é ampla, teria condição de impedir a CPI dos Atos Antidemocráticos se o senhor entrasse em campo? Eu pedi que eles abrissem a CPI. Eu acho que quando a gente tem a alma limpa, o coração limpo e não deve nada, nada melhor do que você tentar esclarecer o que aconteceu. Então, eu acho legítimo a Câmara Legislativa ter aberto a CPI. Eu acho que eles estão caminhando bem. Acho o Chico Vigilante um deputado bastante responsável, o relator também bastante responsável. Acho que vai ajudar no esclarecimento. Se alguém tiver culpa, vai terminar tendo que pagar por essa culpa em algum momento.

 

Nesse período o senhor conversou alguma vez com o ex-presidente Bolsonaro? Não, eu nunca mais falei com o Bolsonaro. Meu contato sempre foi muito distante. Eu não era da cozinha dele, eu nunca tomei cerveja com ele. Nunca tive esse contato com o Bolsonaro. Brasília é uma cidade de direita, as eleições todas têm mostrado isso. A minha base coincidia com a base do Bolsonaro, mas nunca tive esse contato direto com o presidente Bolsonaro.

 

E o MDB, fará federação ou fusão com outro partido? O MDB é uma federação né? Já é uma federação. E eles vão ter que conversar muito, porque é muito difícil você aliar interesses tão diversos quanto os que existem dentro do MDB. Nós temos dentro do MDB grandes lideranças nacionais. Renan Calheiros, Helder Barbalho, nós temos uma grande federação que vai de Norte a Sul e o MDB tem uma capilaridade muito grande. Então eu acho que isso tem que ser bem pensado. Acho que o MDB avançou muito nessa última eleição tanto na Câmara quanto no Senado. Acho que nós ainda temos muito a mostrar para o país como base de apoio.

 

Agora o partido está muito atrelado ao governo Lula... Acho que isso é resultado da eleição porque nós tivemos uma votação Norte e Nordeste muito forte em relação ao presidente Lula. E nós tivemos a senadora Simone Tebet, que fez o seu papel enquanto candidata do MDB a Presidência da República, terminou indo para o Ministério. Então, acredito nessa aliança. O MDB sempre foi base de sustentação de todos os governos. Não vai ser diferente agora no governo Lula.

 

E como é que está a relação com o Lula? Eu tenho mais contato com alguns ministros, com o Flávio Dino (Justiça), com Wellington Dias (Desenvolvimento Social), com Rui Costa (Casa Civil), com o Camilo (Santana, Educação). Eu tenho alguns que foram governadores junto comigo e tenho um determinado acesso, pessoas que são próximas e eu vou cultivar isso pelo bem da nossa cidade.

 

Qual a avaliação o senhor faz do mandato do presidente Lula até aqui? Acho que o presidente Lula ainda não conseguiu mostrar a que veio. Nós estamos vivendo um momento de crise mundial também, um momento de dificuldade, um pós-pandemia. Eu acho que ele ainda tem muito a mostrar. Ele demonstra que tem muita vontade de fazer aquilo que ele se comprometeu. Eu acho que deve fazer um bom mandato. Ele tem muita disposição para isso, em que pese a idade, 77 anos. Mas ele está muito disposto ao trabalho. Eu vejo isso e vejo a força. Ele montou um ministério que tem pessoas muito experientes. O Camilo Santana entregou no Ceará uma das melhores educações do país. O Wellington Dias transformou o estado do Piauí em outro estado. Com o Rui Costa, a força do PT na Bahia foi demonstrada. O próprio Flávio Dino, não é do PT, mas ele tem mudado a história do Maranhão. Então, Lula tem pessoas muito experientes que estão trabalhando com ele dentro do governo, tem Alexandre Padilha, grandes nomes que estão aí e que têm muito a oferecer ao país.

 

Nesse período houve um debate sobre o fundo constitucional, até a redução, o senhor acha que o fundo está em risco? Eu acho que não. Quem pensa a política com seriedade e conhece o que é uma capital da República sabe que nós não temos condições de instalar uma base industrial. Sabemos o preço que custa o Distrito Federal. Temos todas as representações de embaixadas, Congresso Nacional, todos os tribunais superiores, nós temos que dar uma qualidade de vida para a população, em que pese as dificuldades que nós temos aqui, por conta da pobreza que está muito próxima da gente. Brasília não sobrevive sem o Fundo Constitucional e não vai ser possível acabar com esse fundo tão cedo.

 

Os prefeitos tiveram aqui essa semana, eles já se colocaram contra as duas propostas de reforma tributária e que tramitam no Congresso. O senhor acha que aprova? Vou completar 30 anos de formado e, desde que me entendo por gente, ouço falar em reforma tributária. Tivemos várias minirreformas, passamos por elas todas, mas eu acho muito difícil você criar um consenso político para fazer uma reforma tributária como um país merece. Ainda vamos amargar muito, porque é necessário fazer essa reforma tributária. Mas é o tipo da coisa: ninguém quer perder e alguém vai ter que sair perdendo. Quem não pode perder é o contribuinte, que já tem uma carga muito alta de impostos. Então, toda vez que você fala nessa questão de reforma tributária, como ninguém quer perder, quem vai perder é o contribuinte. O contribuinte já não aguenta mais.

 

O senhor acredita que o reajuste da segurança pública agora sai? O deputado Alberto Fraga disse ao CB.Poder que, em 2003, eram mais de 16 mil policiais militares no DF e agora há pouco mais de 9 mil. Haverá novas contratações? Estamos em torno de 10 mil, temos um concurso que está em andamento, precisamos aumentar. No nosso governo passado, trabalhamos todo o período com a academia de polícia trabalhando “full”, inclusive durante a pandemia, nós mantivemos a academia funcionando, conseguimos contratar muitos policiais aqui no Distrito Federal. Mas nós temos que acelerar isso aí, vamos concluir esse concurso, chamar mais policiais, porque nós precisamos aumentar o nosso efetivo. Temos que chegar aí no mínimo, o Distrito Federal não sobrevive hoje, se não tiver, pelo menos, 15 mil policiais.

 

O senhor se considera um injustiçado, foi uma injustiça ter sido afastado? Para quem tem a consciência de que não praticou nenhum ato de violência, nem teve nenhuma intenção de que aquilo acontecesse, no primeiro momento você se sente sim, injustiçado. Mas eu entendo também a decisão do ministro Alexandre de Moraes como a decisão que era necessária naquele momento.

 

Mas o senhor é um constitucionalista. Compete ao ministro Supremo, numa canetada, afastar um governador eleito em primeiro turno? Acho que nós tivemos atos muito radicais aqui no Brasil. O ato do 8 de janeiro e tudo que vinha acontecendo, que vinha sendo gestado desde o período pré-eleitoral, eleitoral e pós-eleição, acho que gerou um caldo quase que de revolução. Então, eu entendo a decisão do ministro Alexandre de Moraes. Respeitei a decisão. Mantive meu silêncio ao longo desses 64 dias que eu fiquei afastado. Eu não me contrapus à decisão em momento nenhum. Tudo o que eu quis era que tudo fosse esclarecido para mostrar que eu não tenho nada a ver com isso que aconteceu.

 

O senhor se decepcionou com algum aliado? Recebi muito apoio, inúmeras mensagens de apoio, todos os dias de manhã quando abria o celular, inúmeras orações, pessoas me apoiando de toda a comunidade. Desde as pessoas mais humildes da cidade, até os grandes políticos do Distrito Federal, e também mensagens de muitos ministros, seja do STJ, seja do Supremo, desembargadores do TJDF, do Tribunal Regional Federal. Eu recebi muito apoio, realmente. Então, foi um período para mim, digamos assim, um período sabático.

 

Não teve nenhuma grande reação a favor do seu afastamento. Nem os seus adversários, da OAB ou na política... De maneira nenhuma. A Ordem foi bastante correta comigo, tanto a OAB do Distrito Federal na pessoa do presidente Délio, dos conselheiros da OAB, tanto o conselho federal como Beto Simonetti. Eu recebi todo o carinho, todo o apoio dos meus colegas, eles me conhecem e, mais do que tudo, eles conhecem e sabem da minha índole democrática, então recebi todo o apoio de todos eles.

 

Mas uma busca e apreensão no escritório de advocacia é meio que um tabu. Houve apoio? A Ordem se habilitou no processo para ver se houve alguma irregularidade. Eu acho que era desnecessário. Até porque eu estou fora do escritório já tem cinco anos, aproximadamente. Tanto que não acharam nada. O resultado das buscas não deu em nada, porque o meu computador eu só olho para ver as notícias. Eu não tenho nenhuma atividade no campo jurídico já tem muito tempo. Então, foi totalmente atípica a busca e apreensão, ocorreu numa tarde de uma sexta-feira. Aconteceu numa tarde, vieram aqui no gabinete, olharam tudo. Mas eu acho que isso serve como aprimoramento e vai demonstrar cada vez mais a minha inocência em relação aos atos de 8 de janeiro.

 

O senhor defende mandato para ministro do Supremo? Eu vejo esse debate, mas o Supremo Tribunal Federal funciona bem. É um guardião da democracia. Acho que o modelo que existe não está errado, temos excelentes juristas, excelentes ministros do Supremo Tribunal Federal. Talvez exista uma crítica hoje pelo papel de protagonismo que o ministro Alexandre de Moraes tem tomado e tomou durante as eleições e vem tomando nesse período. Mas eu acho que o Supremo funciona muito bem.

 

E qual o perfil que o senhor imagina que será do próximo ministro do STF na vaga de Lewandowski? Os nomes que eu tenho ouvido falar do Manoel Carlos, do próprio Cristiano Zanin, do ministro Salomão, do Benedito Gonçalves, os nomes que estão circulando são muito bons e certamente vai engrandecer o Supremo Tribunal Federal. O ministro Ricardo Lewandowski marcou uma história dentro do STF e a expectativa nossa é que o presidente Lula saiba fazer uma escolha também à altura do ministro Ricardo Lewandowski. Ele não pode colocar alguém menor do que o ministro Lewandowski. Então, eu acredito que ele vai saber fazer uma boa escolha.

 

E a Rosa Weber sai no segundo semestre… Aí nós temos um debate meio errado, comprometedor em relação ao Supremo Tribunal Federal. Ah, saiu uma mulher, tem que entrar uma mulher; não tem nenhum negro no Supremo. Eu acho que o papel do Supremo Tribunal Federal não é representar como é o Congresso Nacional, que você tem um pouco de tudo. Eu acho que o Supremo é uma corte realmente de excelência e nós temos que pensar mais seriamente e exatamente é no preparo desse que vai ser indicado para o Supremo Tribunal Federal.

 

Que diferença a população pode esperar do Ibaneis que governou no primeiro turno, o Ibaneis que foi reeleito, governou até o dia 8 e esse Ibaneis 3.0? A gente é obrigada a mudar, né? Eu estou bem mais focado. Assumi o governo, deixei tudo organizado, ia sair de férias e ia voltar focado naquilo que tinha que acontecer. Eu fiz um projeto de reeleição, que é um projeto que a cidade acreditou nele, então eu tenho que cumprir essas metas. Eu acho que a população não quer muito diferença também em relação ao Ibaneis do primeiro mandato. Eu acho que nós temos condições de fazer muito mais. Basta lembrar que nós tivemos, durante quase metade do meu primeiro mandato, uma pandemia que assolou o mundo. E no Distrito Federal não foi diferente. Nós tivemos que investir milhares de recursos para poder atender a pandemia. Então, eu tenho uma expectativa muito grande que a gente vai conseguir fazer muito mais nesse segundo mandato. E eu vou cobrar muito dos meus secretários, dos meus administradores, dos meus presidentes de empresa, para que a gente consiga realmente fazer uma revolução no Distrito Federal. Não tem vida fácil. Quem quer facilidade fica em casa.

 

"Não tenho do que reclamar da Celina. Acho até que eu tenho muito a que agradecer a sorte de ter a Celina com a minha vice-governadora”

 

“Vou completar 30 anos de formado e, desde que me entendo por gente, ouço falar em reforma tributária. Tivemos várias minirreformas, passamos por elas todas, mas eu acho muito difícil você criar um consenso político”


Ana Maria Campos - Denise Rothemburg  – Foto: Ed Alves/CB – Correio Braziliense




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