Se dizem que o Brasil,
definitivamente, não é um país para amadores, essa máxima não vale para as
relações internacionais. Nesse caso, é preciso considerar, logo de saída, que
política externa, por sua importância econômica e estratégica para o país, deve
ser aquela construída e operada com base unicamente nos interesses do Estado e
longe,o máximo possível, de influências político-partidárias, sobretudo aquelas
infectadas por ideologias e outras influências malignas.
É assim que é feito pela maioria
dos países desenvolvidos. Entra e sai governo e são mantidas as diretrizes
fundamentais da política externa, sempre de olho em oportunidades, voltadas
exclusivamente para os interesses perenes do Estado. O Brasil perdeu terreno e
espaço no cenário internacional justamente por ter atrelado sua política
externa a ditames partidários e ideológicos, tornando-se no que é hoje: um anão
político internacional, sem reconhecimento e sem influência concreta frente aos
assuntos do mundo. E pior, sem credibilidade para se posicionar e mesmo decidir
nos grandes temas internacionais.
É verdade que a política externa
de um país deve ser construída com base em seus interesses nacionais, sem a
interferência de interesses político-partidários ou ideológicos que possam
distorcer a sua visão estratégica. No entanto, também é importante lembrar que
os interesses nacionais são complexos e multifacetados, e podem incluir
objetivos de segurança, econômicos, culturais e ideológicos, entre outros. Além
disso, é importante notar que a influência de um país no cenário internacional
não é medida apenas pelo seu tamanho ou poder econômico ou militar, mas também
pela sua capacidade de construir alianças e liderar em temas globais
importantes, como o meio ambiente, a paz e a segurança internacional, os
direitos humanos e a cooperação para o desenvolvimento. O Brasil tem um papel
importante a desempenhar na arena internacional, seja por sua riqueza natural e
cultural, sua economia emergente ou sua história de diplomacia ativa e
inovadora. No entanto, como em qualquer país, a política externa brasileira
enfrenta desafios e tensões entre diferentes grupos e interesses nacionais, e
tem sido afetada por mudanças políticas e econômicas internas e externas. A
construção de uma política externa eficaz e sustentável deve ser baseada em uma
visão estratégica clara e coerente, que leve em consideração os interesses
nacionais, os valores e objetivos globais, bem como as dinâmicas internas e
externas que moldam o contexto internacional.
A neutralidade ideológica pode
ser importante, mas não pode ser o único critério para avaliar a qualidade e a
relevância da política externa de um país. Em nosso caso, as influências
políticas indevidas e até opiniões diversas sem estofo intelectual, têm feito
que o Brasil passe vergonha nos fóruns internacionais, mudando de opinião e de
estratégias de acordo com as más orientações dos governos que chegam.
Vejam o caso, por exemplo, da
guerra envolvendo a Rússia e a Ucrânia. Nesse conflito complexo e cheio de
nuances e fatores históricos e estratégicos para esses países, não se pode,
como sugeriu a pouco o atual presidente, resolver essa intrincada questão na
base de cervejinhas numa mesa de bar, ou com conselhos simplórios do tipo:
“quando um não quer, dois não brigam”. Não é com
estratégias desse nível primitivo que o Brasil pode pretender interferir em
assuntos dessa ou de outra natureza.