Coincidência, que o lexicon traduz como
ocupação do mesmo espaço, ou identidade e simultaneidade de dois ou mais fatos,
ocorre com certa frequência na vida de todos e muitas vezes passam
despercebidas por sua pouca importância. Quando as coincidências deixam de ter
esse caráter natural e corriqueiro e passam a se constituir num processo, que,
por suas consequências desastrosas, afetam a vida de todos, é necessário parar
para analisar melhor essa ligação entre uma coisa e outra, até para evitar que
essas simultaneidades de fatos persistam.
É o caso aqui do
retorno dos atos de guerra, que o crime organizado vem abertamente perpetrando
na capital do Rio Grande do Norte, Natal, levando o pânico à população e
mostrando o alto grau de inoperância dos governos estadual e federal nesse caso.
No final de julho de
2006, o crime organizado, já tinha repetido a dose, com diversos ataques, a
prédios públicos, escolas, carros particulares, agência bancárias e pontos
turísticos, inclusive metralhando delegacias, tudo como retaliação à instalação
de bloqueadores de celulares nos presídios. Mais tarde, em 2016, o crime
organizado impôs toque de recolher na Grande São Paulo, cometendo 63 atentados
simultâneos e coordenados em apenas 24 horas em diferentes pontos da capital,
obrigando a população a ficar trancafiada em casa, com medo dessa guerra
urbana. Com isso, conseguiu a proeza de paralisar ou provocar uma espécie de
lockdown na maior e mais rica cidade de toda a América Latina. Não é pouca
coisa.
Essas e outras ações
criminosas demonstram que o poder de fogo e mesmo a estrutura de guerrilha
urbana desses bandos é hoje uma realidade. Não é preciso lembrar que, ainda
este ano, na Grande Vitória, no estado do Espírito Santo, o crime organizado
protagonizou também uma série de atentados por toda a capital, repetindo o que
já fizera anos antes por vários dias seguidos.
Fatos são fatos e não
há nada que possa ser feito para afrontá-los, sem incorrer com isso no
desvirtuamento da verdade. O anúncio da vitória eleitoral do atual presidente
foi comemorado, como diversas imagens mostram, com um grande foguetório em
alguns dos maiores presídios do país. Somente esse fato, por seu poder
documental e comprobatório, demonstra que existe sim o que foi registrado em
escuta de que “nos governos de esquerda (PT) havia um diálogo cabuloso” entre
as facções do crime e o Governo Federal. Que raios de diálogo cabuloso seria
esse? Como diálogo pressupõe sempre participação de duas ou mais pessoas
conversando ou trocando mensagens, com quem, dentro do governo, esses
criminosos estariam negociando? E o que estariam negociando? São questões que,
por sua “delicadeza” o grande público jamais saberá.
Coincidência ou não, o
fato é que esses atentados de grande porte têm ocorrido, em sua grande maioria,
quando é a esquerda que está sentada no terceiro andar do Palácio do Planalto.
Esse fato tem ocorrido também com as invasões de terra, deflagradas quando o
país está sob administração federal das esquerdas.
A visita ocorrida
agora, do ministro da justiça e segurança pública, ao Complexo da Maré, no Rio
de Janeiro, uma região sabidamente controlada pelo crime organizado, onde
político de direita não entra e onde a polícia só consegue fazer incursões
dentro dos chamados caveirões, blindados à prova de bala de fuzil, traz um
significado ruim a reforçar a ideia desse diálogo cabuloso.
Sem qualquer escolta,
o ministro foi, segundo informe oficial, reunir-se com “lideranças
comunitárias” daquela região. O fato aqui é que nenhuma liderança comunitária
naquela localidade se estabelece sem a benção do crime organizado. Alguns
políticos da oposição, desconfiados desse encontro, já protocolaram
requerimento para a convocação do ministro para dar explicações, em que
esclareça como pode ele adentrar naquela favela sem seguranças, a bordo de dois
carros pretos oficiais, com a maior tranquilidade, como se estivesse visitando
a vó querida que mora no subúrbio.
Há coincidência demais
no fato dessa visita ocorrer quando Natal está sitiada pelo crime organizado e
quando as forças de segurança estão em alerta para a ocorrência desses
atentados em outros estados. De fato, a população não conhece nem uma vírgula
sequer do que foi tratado nesse encontro. O que se estabeleceu foi um clima de
insegurança total no ar.
Perto do que aconteceu em Brasília em 08 de janeiro, com toda essa história mal explicada de golpe, a pergunta que fica é: não seriam esses atentados do crime organizado um verdadeiro golpe de Estado, criando álibis e narrativas para um pretenso fechamento político? Por que as autoridades não reagiram, ainda dentro dos presídios, para impedir que esses atentados fossem para as ruas? Por que não querem a CPI do dia 08? Alguém pode explicar?