O escorpião que do sapo havia se valido para
atravessar a lagoa, como paga, incutiu, sem piedade, sua peçonha no dorso do
pobre anfíbio. A moral da fábula diz que picar é da natureza do escorpião.
Também é da natureza de governos testados e reprovados no passado, repetirem
seus programas e projetos — se é que os têm — mesmo que, com isso, venha a
cometer os mesmos erros e provocar as mesmas consequências catastróficas diante
do silêncio reinante.
É da natureza, particularmente das esquerdas da
América Latina, usar da oportunidade real de administrar um país, para
transformar seus governos em uma espécie de laboratório, testando teses que
funcionariam melhor se aplicadas, por exemplo, na gestão de um diretório
acadêmico da universidade.
Ocorre que um país não é um diretório ou outra
instituição, onde estudantes ensaiam suas revoluções idealistas. Do mesmo modo,
um país não pode ser resumido à espécie de central sindical, em que
oportunistas de todo o calibre ensaiam modelos distópicos de quebrar indústrias
e empresas, ao mesmo tempo, em que buscam lucros maiores para si e seus
filiados.
O que ocorreu no ABC paulista, com as indústrias de
automóveis abandonando a região em busca de melhores retornos para seus
investimentos e deixando atrás de si um verdadeiro cinturão da ferrugem, com
desemprego e falta de oportunidades, demonstra o resultado dessa prática
nefasta e improvisada de querer impor, a qualquer custo, esses ensaios
governamentais.
Venezuela, agora, a Argentina e outros países
do continente formam um laboratório vivo dessas experiências malsucedidas e
que, na maioria das vezes, redundam em centralismo político e, daí, para uma
ditadura fechada e opressora. Os métodos são sempre os mesmos. O inimigo é o
outro, a quem devemos cancelar e destruir. Alguém no passado havia ensinado que
essas fórmulas não resultam em boa coisa. O inimigo é sempre a ignorância e a
prepotência.
Bem faria se na entrada do Palácio do Planalto
fosse afixada, de forma bem visível, em placa em bronze, as lições pregadas por
Abraham Lincoln (1809-1865), 16º presidente americano: “Não criarás a
prosperidade se desestimulares a poupança. Não fortalecerás os fracos por
enfraqueceres os fortes. Não ajudarás o assalariado se arruinares aquele que o
paga. Não estimularás a fraternidade humana se alimentares o ódio de classes.
Não ajudarás os pobres se eliminares os ricos. Não poderás criar estabilidade
permanente baseada em dinheiro emprestado. Não evitarás as dificuldades se
gastares mais do que ganhas. Não fortalecerás a dignidade e o anônimo se
subtraíres ao homem a iniciativa da liberdade. Não poderás ajudar os homens de
maneira permanente se fizeres por eles aquilo que eles podem e devem fazer por
si próprios”.
Não por outra razão, é esse o país para onde muitos
desejam migrar, sobretudo aqueles que viveram sob as ditaduras de esquerda. Não
é por outra razão também que certas pessoas de lenço vermelho, toda vez que
podem, deixam Havana de lado e vão para Miami.