Desde que
passaram a chamar bicho de estimação de pet que ando mais desconfiado do que
gata no cio. Como praticamente tudo o que acontece hoje, há um bocado de
exagero nesse amor dos seres humanos pelos animais domésticos, que chega às
raias da irracionalidade – dos homens, não dos bichos; só para esclarecer – e
que mostra o grau de carência da nossa sociedade.
O termo pet
vem do inglês arcaico e definia um animal domado, talvez uma redução de petty
(pequeno), adaptação do francês petit ou até mesmo do latim original, pittinus,
já que os romanos andaram por terras britânicas no primeiro século da era
cristã. Não importa. Seria só mais um anglicismo entre tantos, não fosse a
barulheira.
Antes mesmo
da denominação, bichos e homens convivem. O brasileiro prefere a companhia de
cachorros, russos escolhem os gatos; turcos gostam mais de aves e japoneses e
chineses namoram peixes; e por aí vai.
Alguns
animais ficaram famosos, bem mais que celebridades e influenciadores de hoje,
caso do cavalo Mister Ed, que fazia contas com as patas, da cadela Laika,
primeiro ser vivo enviado ao espaço, ou o frango Mike, celebrado por viver 18
meses depois de ser decapitado.
Quando fui
à Flórida ver o lançamento de um foguete fiquei mais impressionado com uma
família de patos que se exibia com pompa pelo hotel – se dizia que eram os
herdeiros da rede – do que com o bólido. No Brasil, o Macaco Tião e o
rinoceronte Cacareco receberam milhares de votos, um para prefeito do Rio, o
outro para vereador em São Paulo.
Tudo é
brincadeira, mas os animais domésticos têm uma característica adicional, que é a
de suprir a carência de pessoas que se relacionam mal com semelhantes ou que
simplesmente precisam de dar e receber um tipo de atenção e carinho que não
encontram nos bípedes implumes. A partir daí, não há mais limites.
O mercado
da bicharada movimenta R$ 52 bilhões no país, com um crescimento exponencial
nos últimos anos. São quase 150 milhões de animais de estimação, segundo o
censo de 2021. Não foi à toa que vimos vários candidatos abraçados a bichinhos
na última campanha eleitoral, não é à toa que vemos pessoas tratando cachorro
como gente.
Animais de
estimação, a ciência comprova, fazem bem para a saúde mental, aumentam o fluxo
de dopamina e serotonina. Mas nem isso faz com que alguns donos – ou tutores,
como se denominam agora – levem seus cachorros para passear sem focinheira.
Mas não são
apenas esses humanos que têm problema mentais. O que pelo menos eu, ignorante,
não sabia, é que os pets também sofrem da cabeça. Há poucos dias fui
surpreendido com a informação que a Baguncinha, uma boxer albina de mais ou
menos dois anos de idade, desenvolveu uma gravidez psicológica.
Mesmo sem
cruzar, ela imaginou que teve filhotes e os peitos se encheram de colostro.
Estou procurando um psicólogo que fale cachorrês, mas não paro de cantar aquela
velha canção do Eduardo Dusek: “Troque seu cachorro por uma criança pobre”…