O
futebol brasileiro tem sido uma vitrine de péssimos exemplos dentro e fora do
campo. Um atrás do outro. Escândalos de violência sexual de Cuca, Robinho e
Daniel Alves. Agressão física de Pedrinho do São Paulo, afastado do elenco, à
namorada. Prisão de torcedor por causa de importunação sexual a uma menina de
13 anos na última quarta-feira, na Arena do Grêmio, em Porto Alegre, no empate
por 1 x 1 com o Cruzeiro no duelo de ida das oitavas de final da Copa do
Brasil. Gritos homofóbicos da torcida do Corinthians em provocação ao São Paulo
no clássico paulista de domingo passado pelo Campeonato Brasileiro. Simulações
patéticas nas quatro linhas protagonizadas por ídolos de crianças como Gabriel
Barbosa (Flamengo) e Samuel Xavier (Fluminense).
No
meio disso tudo, vem finalmente à tona o caso de manipulação de resultados no
futebol brasileiro. Novidade para quem fez vista grossa às denúncias, inclusive
alguns figurões do sistema de Justiça desportiva do país. Não para o leitor do
Correio Braziliense.
Enquanto
uma série de reportagens batizada de Candangate denunciava o esquema de
corrupção no Campeonato do Distrito Federal em 2021 e indicava que o mal se
alastraria pelo país não somente no futebol, mas em todos os esportes, alguns
responsáveis (ou irresponsáveis) por puxar o freio de mão e colocar ordem na
casa ignoravam, ou simplesmente arquivavam, provas. Queimavam arquivos.
Certamente a pedido de alguém interessado em retardar a lavagem de roupa suja.
Demorou! Mas antes tarde do que nunca.
Apesar
do jogo de interesses, é chegado o tempo de usar a vassoura para varrer e sugar
a sujeira empurrada há tempos para baixo dos gramados e tapetões do futebol
nacional. Parabéns ao MP-GO por ouvir o alarme acionado faz tempo. Meu apoio
aos profissionais da Polícia Federal nas investigações. É preciso cavar. E
quando chegar o fundo do poço, recomenda-se ir além. Vou até dar uma dica:
investiguem as vendas de mando de campo. Virou prática comum, não é? Exumem a
Operação Episkiros (Jogo Limpo) da Polícia Civil do DF. Borderôs eram (e
continuam) sendo maquiados para driblar impostos.
Lembro-me
de uma capa triste, porém brilhante da revista Placar. A manchete da edição
1.288 dizia: "A lama que vem por aí". Tratava sobre a apuração da
Máfia do Apito no Brasileirão de 2005. Voltamos à estaca zero. A Câmara dos
Deputados acaba de instaurar a CPI das Apostas. Tempo de esperança — e
desconfiança. CPIs do passado, como a da CBF/Nike e duas do Futebol não
conseguiram resetar o jogo.
Torço
para que o novo inquérito seja imparcial. A bancada da bola apoderou-se da CPI
das Apostas. Cartolas não falam a mesma língua. Quando afinam o discurso, é
para se blindarem. Uma vez, Eurico Miranda rasgou o relatório oficial da CPI
para impor um confeccionado pela... bancada da bola! Oremos.