Bem ao mal, começa agora outra importante comissão de investigação no
parlamento. Bem, para aqueles que buscam a verdade dos fatos de 8 de janeiro.
Mal para aqueles que procuram escondê-lo a todo o custo. Mesmo sendo um
instrumento das minorias, o governo conseguiu maioria na formação da mesa que
comandará as investigações. De toda forma, as investigações sobre o 8 de
janeiro deixam antever, logo de cara, que possui enorme potencial para fustigar
o governo, estremecer o Palácio da Justiça, solapando narrativas e desnudando,
inclusive, teses precipitadas adotadas pela Justiça Eleitoral e mesmo pelo
Supremo Tribunal Federal. Aliás, quem deverá sair perdendo muito, caso a CPMI
vá a bom termo, além dos realmente envolvidos, será o Judiciário, que,
antecipando-se ao bom senso dos regimentos jurídicos, efetuou, em tempo
relâmpago, mais de mil prisões, que, segundo muitos juristas respeitáveis,
foram decididas desprezando-se os mais básicos princípios da lei, sem
individualização de acusações e penalidades.
Os fatos sabidos e comprovados até aqui mostram brasileiros comuns, pais
e mães de famílias, os mesmos que, durante meses, ficaram acampadas em frente
ao QG do Exército em Brasília. Levados sumariamente pelos militares, para
dentro de ônibus, foram todos despejados às centenas em uma espécie de depósito
gigantesco de material da Polícia Federal. Ali, em condições desumanas,
esperaram dias seguidos, sem saber o que estava acontecendo. Advogados,
arranjados às pressas, foram impedidos de ter acesso aos inquéritos. O que se
suspeita é que nem a Justiça tinha tido tempo de prepará-los.
Outro fato de conhecimento comprovado é que o governo exerceu forte
pressão, recorrendo, inclusive, ao velho esquema de compra de consciências, com
cargos, liberação de emendas e outros presentes, para quem retirasse a
assinatura no requerimento para a criação da CPMI, nomes fartamente divulgados.
Quando vieram à tona as imagens, até então censuradas pelo Planalto,
mostrando o principal comandante do GSI transitando displicentemente entre os
invasores, o governo subitamente mudou de atitude e passou a favorecer que a
CPMI fosse instalada. A razão aqui é que o governo sabe, muito bem, os estragos
que todas essas investigações podem gerar. Outra questão é que os trabalhos
desta CPMI serão todos transmitidos ao vivo e a audiência já se mostrou grande
desde o primeiro dia. Com isso, fica também demonstrado que a população não
parece estar convencida das narrativas oficiais e faz questão de ver o fim de
mais essa novela.