É lógico que, para aqueles que
sabem para onde ir, qualquer caminho serve, mesmo aqueles que conduzem ao
abismo. Do mesmo modo, torna-se inconcebível que um mandatário possa assumir o
poder sem sequer trazer debaixo do braço as linhas mestras de um projeto de
governo acabado e factível. Afinal, são milhões de cidadãos que confiaram um
voto de confiança e que, de uma forma ou de outra, irão sentir na pele e no
bolso as consequências das ações do governo ou a falta delas.
O que não se pode conceber é que
a nação fique tateando no escuro, a procura de uma saída, ou de um plano de
fuga vindo do governo. Eis aqui onde estamos. Antigamente, dizia-se estarmos no
mato sem cachorro. Hoje, podemos dizer, estamos num país sem um governo à
altura dos desafios e das necessidades de um gigante continental, com mais de
duzentos milhões de habitantes, cercados de problemas e cobiçado por potências
que se dizem amigas, mas que estão de olho gordo posto em nossos recursos e
reservas minerais.
Depois de cobranças vindas de
todos os lados, o que temos é um arcabouço ou esqueleto de um projeto que visa
autorizar o governo a gastar além das possibilidades reais de caixa, sem que
isso venha acarretar penalidades e sanções para o perdulário. É pouco ou quase
nada e, ao mesmo tempo, é muito para quem vai pagar a conta.
Como metas de governo, o que foi
apresentado não passou de um material formado de ações de improviso, que vão
saindo das gavetas à medida em que os problemas surgem. Na impossibilidade de
armar-se uma guerra contra um inimigo fictício, como fez a Argentina na Guerra
das Malvinas, o jeito é deixar os problemas internos de lado e desengavetar um
projeto qualquer, desses que propõem um tratado para a criação da chamada
Unasul, integrando e unindo, nos âmbitos políticos, econômicos e outros, os
países do continente. De preferência, unindo países prósperos como a Argentina,
Venezuela, Suriname e outros, cujas economias estão no fundo do poço, criando
uma poupança regional, com o apoio do BNDES, além do estabelecimento de uma
moeda unificada, como meio de “aprofundar a identidade sul-americana”. Talvez
engulam mais essa narrativa.
Diria o filósofo de Mondubim:
“Vão juntar os farrapos e molambos num pardieiro só”. Para se ter uma ideia, o
papel moeda na Venezuela, de tão desvalorizado, serve hoje como matéria-prima
para confecção de artesanatos vendidos nas ruas a preços irrisórios. O que
países como Argentina, Venezuela, Nicarágua e outros necessitam não é socorro
do tipo econômico, que facilmente irá parar nos bolsos desses governos
corruptos, mas de uma coisa chamada democracia e gente decente para administrar
esses países.
Criar mecanismos e instituições
como o Corporación Andina de Fomento, ou Fundo Financeiro para Desenvolvimento
da Bacia do Prata, é irrigar com dinheiro do pagador de impostos, no Brasil, os
governos ditatoriais de esquerda que infernizam suas nações. Levar dinheiro
para as mãos dessa gente é perpetuar-lhes a tirania. Para quem já se armou de
cautela contra essas intenções marotas, todas elas fincadas numa antiquada e
falsa visão de mundo, as proposições feitas pelo governo brasileiro às
lideranças sul-americanas se inserem no que ele mesmo denomina como narrativas
e mostram de que lado da história ele se posiciona.
De fato, o Governo Lula não sabe
para onde vai e ainda assim quer que toda uma nação siga com ele. Com
companheiros do naipe de Maduro, Ortega e outros é melhor irmos sozinhos.