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A vida como ela é, Diniz

A vida como ela é, Diniz. O técnico interino do Brasil até a chegada de Carlo Ancelotti, em junho de 2024, deve ter pesquisado como foi a vida de Vanderlei Luxemburgo


O Ministério da Saúde adverte: comandar o Fluminense e a Seleção pode causar Síndrome de Bournout. Fernando Diniz é psicólogo. Sabe disso. O técnico interino do Brasil até a chegada de Carlo Ancelotti, em junho de 2024, deve ter pesquisado como foi a vida de Vanderlei Luxemburgo quando o professor, como ele, acumulou dois empregos no segundo semestre de 1998. À época, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, fez acordo com Alberto Dualib e o treinador comandava o Corinthians e o Brasil.


Luxemburgo levou o Timão ao título do Campeonato Brasileiro de 1998 e a Seleção conquistou a Copa América de 1999. A coleção de taças massageou o ego do vaidoso técnico, mas abalou a saúde física e mental do profissional. O diagnóstico para a doença à época chamava-se estresse agudo. O técnico precisava de ajuda. Matéria da Folha de S. Paulo, em 7 de outubro de 1998, tinha o seguinte título: "Psicóloga sai em socorro de Vanderlei Luxemburgo".


A jornada dupla insana levou o técnico a perder nove quilos. Houve queda na imunidade. Ele ficou vulnerável à gripe. Adoeceu depois de viajar quase 11.000Km para cumprir compromissos do Corinthians e da Seleção Brasileira. Sim, desumano, mas ele quis assim.


Duas psicólogas badaladas cuidavam da saúde mental dos principais times do país à época. Regina Brandão orientava Grêmio, Internacional e Palmeiras. Ela foi direta ao diagnosticar estresse agudo em Luxemburgo: "O fato de ele estar ganhando cabelos brancos e perdendo peso mostra isso. A perda de peso é um dos sintomas mais significativos do estresse, que leva também à diminuição da resistência imunológica, deixando a pessoa predisposta, por exemplo, a gripe", alertou.


Regina Brandão acrescentou: "Isso é como uma bomba-relógio. Vai se acumulando com as cobranças pelos resultados negativos, a pressão de todos os lados, e pode explodir de repente, como a convulsão que Ronaldinho teve na final da Copa do Mundo de 1998".


O ápice da tensão de Luxemburgo expõe um dos desafios de Fernando Diniz: o conflito de interesses. À época, ele brigou com Marcelinho Carioca, o astro do Corinthians e autor do primeiro gol da "Era Luxa" na Seleção. O meia foi afastado do elenco por 19 dias. Coube à psicóloga Suzy Fleury apagar o incêndio. Técnico e jogador fizeram as pazes, se beijaram em campo e seguiram a relação no clube e na Seleção. "Não posso revelar sobre esse trabalho interno para não expor a intimidade. Temos que reorganizar as coisas", disse Fleury.


Fernando Diniz é um baita profissional, mas deu garantias ao Fluminense e à CBF fora do controle dele. "Vou me dedicar 100% onde estiver. Minha dedicação vai ser máxima onde estiver naquele momento", disse na apresentação. Não trato jogadores e técnicos como super-homens. São humanos. Por isso citei o episódio de Luxemburgo e concluo desejando saúde ao técnico do Fluminense e da Seleção. Se cuida, Diniz!


Marcos Paulo Lima – Foto:  AFP -  Correio Braziliense




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