O mundo está para acabar, como
sabemos desde que barbudos catastrofistas metidos a profetas começaram a
anunciar em placas colocadas nos peitos, andando pelas calçadas do planeta. Mas
tem gente com pressa. São os chamados antinatalistas que, como o nome sugere,
defendem que ninguém mais tenha filhos.
São pessoas que preferiam não
ter nascido. Pessimistas, não acreditam que a vida valha a pena e, como se não
bastasse, tentam convencer aos demais de que é melhor não viver. É um povo que
se encontra apenas virtualmente, em redes sociais, até por um motivo simples:
não se suportariam. Mas começam a sair da bolha.
É preciso respeitar quem não
quer ter filhos, mas daí a fazer uma pregação universal há uma longa distância.
Mais do que um mergulho na própria insignificância diante da vida, os
depoimentos registrados em grupos que defendem o fim da espécie e condenam os
felizes. “Iludidos”, é o mínimo; “insensíveis”, o mais comum.
A maioria dos adjetivos é
xingamento mesmo, com dúvidas à capacidade de alguém gostar da vida,
considerando que apenas seres de pouca sensibilidade ou menor inteligência
podem gostar de viver. Ou seja, não basta que eles não gostem de viver; são
cínicos o bastante para duvidar que alguém mereça ou sinta felicidade.
Há alguns anos um indiano de 27
anos processou criminalmente os pais por ter nascido sem sua permissão. “É
errado trazer crianças ao mundo porque elas têm que tolerar o sofrimento ao
longo da vida”, disse ele, resumindo a filosofia dos antinatalistas.
O rapaz, um certo Samiel, não
disse se a pergunta deveria ter sido feita ao óvulo, ao espermatozoide ou ao
feto, que deveria ter chutado menos a barriga da mãe e permanecido no conforto
da placenta, quentinha, enquanto o mundo se virava sem ele.
Obviamente, os antinaturalistas
defendem soluções radicais como aborto, laqueadura e vasectomia para prevenir a
produção de bebês, mas aí cabe perguntar: já que eles não sentem prazer em nada
não seria melhor parar de fazer sexo? É muito mais eficiente e certamente daria
mais motivos para eles reclamarem.
Mas essa é uma turma que já
existe, tem nome e também faz barulho nas redes sociais: são os assexuais,
pessoas que não se interessam – ou não gostam – de fazer sexo e alardeiam isso.
Pode ser por nojinho, bloqueio psicológico ou qualquer outro motivo. Mas pelo
menos esses admitem ter filhos, desde que sejam gerados numa proveta.
Parece que as redes sociais que
servem para isso mesmo: mostrar que ninguém, de perto ou de longe, é normal.
Mas tem gente que quer ser mais esquisito ainda. E daí nascem os
anti-alguma-coisa, gente que, por falta de talento e excesso de tempo, se põe a
espinafrar pessoas e ações que não conhece só para causar rebuliço.
Mas também tem os esquisitões
pró-alguma-coisa, como é o caso dos adeptos da rede The Ugly Bug Ball, uma
espécie de site de relacionamentos mas só para gente feia, embora no enunciado
se apresente como “um site para pessoas com aparência normal”. Ou seja, para
eles, o normal é ser feio. No Brasil, o site naufragou. Pelo jeito, somos todos
lindos.