Segue, sem fim, a saga do loteamento político na Esplanada dos
Ministério e adjacências, num modelo de governança, que todos já sabem que não
terminará bem, mesmo assim, o sistema é perpetuado apenas para gáudio dos
partidos e para a desespero da nação, que reconhece nessa prática apenas o
retalhamento do Estado e sua entrega àqueles que nada ou pouco devolvem algo de
bom para o país.
Eis aí a nossa sina cíclica e razão do nosso atraso estendido pelo tempo
afora. A moeda, nessa dança macabra das cadeiras, é o voto. Um voto que deveria
ser lastreado na vontade do eleitor e não na concupiscência de seus falsos
representantes. Por detrás desse poderio das legendas partidárias, que tornam
nosso país ingovernável, estão, além dos fundos bilionários eleitorais e partidários,
as tais emendas secretas e outros descaminhos impostos ao orçamento público.
Por não haver quem possa cortar o mal pela raiz, extraindo dessa miríade
de partidos os recursos suados da nação, haveremos de padecer ainda por muito
tempo. A reforma política, que com certeza não virá jamais, deveria ser o
carro-chefe de todas as reformas, inclusive a tão trombeteada reforma fiscal.
Começamos pelo fim, votando o que deveria ser a última de nossas
preocupações, como quem começa a casa pelo telhado. Insanidade. Agora e mais
uma vez, chega a ameaça velada do infiel Centrão, dizendo que não aceitará
qualquer cargo no governo. Deseja essa bancada inconfidente, posições de
destaque dentro do organograma do Estado. Não um posto qualquer, mas uma
sinecura que lhe renda poder e aumente sua capacidade de interferir no governo
e nas finanças públicas. Só não vê quem quer.
Entre governo e eleitorado, faltando ainda alguns anos para as próximas
eleições, o Centrão e outras bancadas da pressão ficam com o que lhes indicam
os caciques das legendas. Tudo acordado em reuniões de líderes. Abrigar esse e
outros partidos no governo, de acordo com fórmula desenhada depois da
Constituinte de 1988, tem sido motivo de escândalos desde sua origem, forçando
o governo a reformas ministeriais cíclicas e sempre piores.
O presidencialismo de coalizão não tem dado certo, porque força os
governos a ter que construir a cada legislatura, uma base política confiável.
Acontece que uma base congressista fiel, realmente devotada aos interesses da
nação, é peça rara. O que existe de fato é uma espécie de coalizão de líderes,
com vistas ao fortalecimento de suas bancadas.
É um jogo circunscrito, que começa e termina dentro das esferas de poder
e que só se estende à nação quando seus efeitos negativos forçam a população a
arcar com os custos dessas costuras mal ajambradas. Fossem contabilizados, em
números e cifras, quanto custa para o contribuinte a obtenção de votos
garantidos no Legislativo, veríamos que a cada votação de interesse do governo
e de sua base, os eleitores vão ficando cada vez mais endividados.
Existe sim uma coalizão, que é a do poder. Nesse patamar, onde estão as
principais lideranças políticas do Estado, existe de fato essa coalizão; fora
dessa esfera fechada, só existe o vácuo. Não tarda e toda essa estrutura
erguida para permitir o que chamam de governabilidade será, mais uma vez,
rompida, como um ovo que eclode de dentro para fora.
O que irrompe desse ovo disforme logo toma espaço nos noticiários
policiais, vai à Justiça e desaparece num passe de mágica, e é esquecido, dando
lugar a um novo governo e à uma nova coalizão.