Se Brasília fosse um mês, ela seria agosto, com tudo o que o 8
tem de colossal e terrível. É o símbolo do infinito, a escala desumana do universo.
Agosto sem nuvens, agosto sem sombra, agosto de imensos desertos. Agosto resume
Brasília com sua monumental indiferença aos que nela vivem, em especial aos que
habitam as cidades mais pobres com suas lonjuras cruéis, imensos vazios sem um
pé de planta para aliviar a exaustão sob o Sol do meio-dia e de suas horas mais
próximas.
Ipês coloridos fotografados, filmados, cantados, mapeados,
idolatrados? Tirando um ou outro em satélites mais antigas, são oferendas do
Plano Piloto ao Plano Piloto. O paisagismo nas RAs é quase igual a zero. Tão
inexistente que no Itapoã há uma rua que se chama Rua do Pau Grande porque tem
a única árvore numa imensa extensão de casas grudadas umas às outras e de
asfaltos encadeados uns aos outros.
É desumana a Brasília de agosto e não apenas nas cidades fora do
Plano. Percorrer a Esplanada dos Ministérios a pé no mês mais quente e seco do
ano impõe o sacrifício de um pagador de promessa.
Varados pelo planeta em transe, os brasilienses terão de
atravessar a inclemência de um quadrado planejado para a solidão em sua escala
urbana mais inumana. O que o hemisfério norte está padecendo agora, nós, os
bravos candangos padecemos desde sempre. É preciso ser muito valente para dar
conta do que agosto exige de quem nele vive entre o céu e a terra de Brasília.
Agosto só não é agosto nas superquadras, toda elas envolta em
bosques idílicos com árvores gordas e cabeludas que já ultrapassam os seis
andares. Mas o Plano Piloto abriga menos de 10% da população do DF, ou seja, de
cada 10 habitantes do quadrado, 1 mora no paraíso dos blocos entremeados de
bosques, jardins e gramados.
Toda vez que chega agosto, sinto todo o desgosto de deixar de
gostar de Brasília.