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Homens idealistas

Homens idealistas

Um dos propósitos que levou o jornalista e fundador do Correio Braziliense, Ari Cunha a criar da coluna Visto, Lido e Ouvido, justamente no dia da inauguração de Brasília, em 21 abril de 1960, era e ainda é, o de voz e vez aos moradores da cidade.  Repercutir e dar visibilidade aos anseios dos pioneiros, que para cá vieram participar da construção da nova capital, se revelou, naquele período em que as comunicações eram ainda precárias, de suma importância para o estabelecimento de uma sociedade, que estava sendo construída juntamente com a capital do Brasil.

Era por meio desse jornal e principalmente dessa coluna que os primeiros moradores se inteiravam das notícias e viam, muitas vezes, suas reivindicações estampadas no periódico e colocadas publicamente.  Com isso as autoridades tomavam ciência das necessidades mais urgentes dos habitantes, sendo que muitos problemas que surgiam naquela época, eram resolvidos graças a divulgação feita por aquele jornalista.

Não surpreende que naquele tempo, depois do prefeito, a figura mais importante e com maior capacidade de resolver os problemas da cidade e de seus moradores era justamente o jornalista Ari Cunha. Não por outra razão, seu escritório vivia abarrotado de populares e mesmo políticos, que de uma maneira informal, mas precisa, buscavam soluções para uma cidade que nascia e para uma população, ainda carente dos mínimos serviços básicos de atendimento.

Não era uma tarefa fácil, por isso mesmo esse trabalho era, muitas vezes estendido noite adentro. Não foram poucas as vezes em que esse jornalista se prontificou a levar as reivindicações dos candangos diretamente para o conhecimento das autoridades.

As cobranças eram constantes e o jornal e a coluna não davam trégua aos políticos e outras personalidades.  Naqueles anos sessenta, os responsáveis pela gestão da cidade que surgia, ainda guardavam certo temor e zelo profissional pelo que faziam e por isso queriam ver resolvidos todos os problemas que apareciam. O serviço de utilidade pública prestado por esse jornal e particularmente por essa coluna foi de grande valia naqueles tempos de pioneirismo.

Com o tempo veio a lição de que nada adiantaria defender os brasilienses, sem antes defender a cidade e principalmente sua correta evolução dentro dos parâmetros traçados por seus idealizadores. Com relação tanto ao presidente Juscelino Kubistchek, como a Israel Pinheiro ou mesmo Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, o trânsito do jornalista e suas longas conversas e discussões com esses personagens básicos na construção de Brasília, deram a Ari Cunha a certeza de que a defesa da capital e de seus princípios maiores, era uma missão que se fazia urgente e necessária, à medida em que a cidade foi crescendo.

Nessa fase, a coluna adquiriu uma linha editorial de defesa intransigente de Brasília, custasse o que custasse. A cidade, a partir da Constituição de 1988 e da maioridade política, transformou-se rapidamente numa grande metrópole. A rapidez do crescimento, trouxe consigo a falta de planejamento. O açodamento dos políticos locais que surgiam e de seus interesses financeiros cuidaram de desvirtuar os caminhos de Brasília.

Nessa fase. a coluna passou a ser atacada por gente que não se conformava em caminhar na estrada reta da ética. Os tempos eram outros. A fase idealista, daqueles que sonharam com a nova capital para abrigar o homem novo, deu lugar ao que se vê hoje, Quase todos os dias, se ouvem notícias de áreas que são invadidas ou perdidas para grileiros e outros profissionais do crime.

O crescimento desordenado da cidade, açulado por uma casta de políticos locais sem compromisso com a capital, aumenta a pressão pela ocupação das áreas verdes e todo e qualquer espaço que eles considerem vazios e desocupados. As ações do governo, juntamente com os movimentos originados na própria Câmara Distrital, oscilam ora entre negligência, ora em incentivos abertos à essas ocupações. As discussões sobre novos ordenamentos urbanos da capital, com presença, em sua maioria de pessoas alheias ao conceito de Brasília, só resultam na modificação na carta original de deu sentido a cidade, criando-se novos assentamentos, a maioria sem projetos de impacto ambiental e de infraestrutura, tudo feito para atrair e agradas eleitores.


Circe Cunha e Mamfil – Coluna “Visto, Lido e Ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense




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