“Preciso arrumar um saco branco para amanhã”. Não é sempre que se ouve
uma frase assim, muito menos no momento de relaxamento que o bar proporciona
entre a saída do batente e os deveres domésticos. Mas foi o que o rapaz disse,
antes mesmo de sentar-se à mesa, completando que o saco podia ser de qualquer
pano.
Há de se convir que é um início de prosa que merece desenvolvimento e
antes mesmo que alguém perguntasse, ele respondeu. Era uma simpatia. Ele
colocaria sete moedas no saco, daria sete nós na boca e faria uma oração a
Santa Edwiges para que ela o livrasse das dívidas.
Edwiges da Silésia, diz o conhecimento popular, é a santa dos pobres e
endividados. O cânone católico lembra que ela foi uma nobre polonesa que depois
da morte do marido, Henrique I, o Barbudo, passou a cuidar dos humildes,
inclusive pagando dívidas. Estava explicada a necessidade do saco.
A santa não é a única personagem de simpatias populares, infalíveis
segundo a crença, para todo tipo de problema. Algumas são bem conhecidas, como
pendurar a imagem do Santo Antônio de cabeça para baixo para conseguir um
marido ou separar os dentes de alho de uma cabeça, pedindo para conseguir um
emprego.
As simpatias fazem parte da cultura ocidental há incontáveis anos, até
porque são rituais de tradição oral, que muitas vezes se misturam entre
religiosidade e superstição, numa mistura de dar nó em cabeça de padre. Afinal,
a igreja católica condena superstições mas incentiva crendices em relação a
santos e ritos específicos.
Banhos de erva também fazem parte dessas simpáticas ajudas
extraordinárias. Não é preciso ser macumbeiro para saber que um banho de
erva-de-são-joão atenua os problemas na Justiça, embora a fitoterapia só a
recomende para tratar depressão e ansiedade. E quem toma banho de folhas de
mangueira acaba com o pessimismo.
Boa parte dessas mandingas foi reunida no Livro das Simpatias,
de Carolina Chagas (Ed. Fontanar). Inclusive as mais esquisitas, como cortar as
pontas dos cabelos e deixa-las aos pés de uma bananeira para obter uma
cabeleira mais hirsuta; ou bater com a barriga três vezes numa porta e recitar
um versinho para perder a adiposidade.
Para quem tem verrugas, a solução é menos constrangedora: esfregá-las
com toucinho de porco e jogá-lo num formigueiro.
O rapazinho acredita sinceramente que a simpatia funciona e que os
problemas financeiros vão acabar com o saco. Claro que há muito de
autossugestão, mas a santa não está mais entre nós para aplacar a sanha do
credor com o vil metal.
E a promessa a Santa Edwiges carrega um sacrifício extra. Se atendida a
solução da dívida, o agraciado deve levar o saco com as moedas a um cemitério e
deixa-lo aos pés de uma cruz bem alta, rezando sete Pai-Nossos e sete
Ave-Marias na saída.
Simpatia pode até não dar certo, mas um pouco de mandinga sempre aparece. Ou há alguém que não bata na madeira três vezes para isolar um mau olhado? Pá de pato, mangalô, três vezes.