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Crônica: Um brinde à amizade

Um brinde à amizade 

 

Está instituído um Dia da Amizade. Entendo a importância de haver datas comemorativas para nos lembrarem de momentos importantes, mas acho que às vezes ficamos reféns delas e acaba batendo a culpa em caso de esquecimentos. Como meros mortais, estamos sujeitos a eles. Quando somos jovens, pouco nos importamos com os esquecimentos dos outros e não nos ligamos nos reflexos dos nossos. Quando ficamos mais velhos, nossa capacidade de recordação vai diminuindo, mas a tolerância para os esquecidos diminui consideravelmente.

 

Mas entre uma falha e outra, conseguimos nos reconectar com o que realmente importa. São vários os memes na internet ironizando uma situação comum: os desertos dos grupos de WhatsApp dos amigos “das antigas”, para usar um termo bem cringe. E a melhor parte é que ninguém pode reclamar de ser ignorado, pois pode se tornar o “ignorador” de amanhã.

 

Quem nunca demorou horas, dias e até semanas para responder a uma mensagem nos grupos de amigos? E, por outro lado, certamente já ficou ouvindo o som dos grilos ao enviar comunicados por lá. Garantir alguns momentos de encontro face a face é importante por isso. A maternidade, os compromissos familiares e os profissionais –todo o pacote “Vida Adulta Master Plus” – acabam por reduzir muito as possibilidades de encontros com alguns amigos do peito. A agenda de um libera no mesmo momento em que a do outro emperra numa lista interminável de eventos.

 

Sabemos, no entanto, que a amizade é incondicional quando nos conectamos de novo imediatamente e nos entendemos até com poucas palavras trocadas. Chegou a fase de promover reencontros nas festas de criança, nos aniversários de muitos anos de vida, nos almoços corridos de meio de expediente. Há aqueles entre nós que partiram para outros continentes ou novas cidades. A saudade aperta e a distância encurta com a ajuda da tecnologia. As horas de viagem viram segundos de distância, apenas o tempo do interlocutor aceitar uma chamada de vídeo ou uma ligação tradicional. Nada substitui a presença, é verdade, mas a possibilidade de encontro virtual é acalento para corações apertados. 

 

Estamos numa nova era. Mas também fazem falta as tradições. As cartas escritas à mão, com o cuidado ao escolher a cor da caneta, o papel – com ou sem ilustração, com aroma especial, pautado ou em branco, combinando com o envelope... É um universo de opções. As chamadas de vídeo permitem, no máximo, um fundo mais ousado para animar as conversas. Os bons e velhos cartões-postais também indicam um “lembrei de você” certeiro e afetivo, talvez mais eficaz do que uma mensagem por telefone e e-mail. (Vídeo~~~)

E vagamos por aí com um pouco da nostalgia de Belchior, reverberando na voz de Elis: “Você não sente nem vê / Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo / Que uma nova mudança em breve vai acontecer / E o que há algum tempo era jovem e novo, hoje é antigo / E precisamos todos rejuvenescer.”


Mariana Niederauer - Arte:  Unsplash -  Correio Braziliense




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